O evento político realizado sexta-feira (13), no Hotel Rio Poty, convocado pelo PCdoB, para comemorar os 10 anos da eleição da chapa Flávio Dino/Carlos Brandão para o Governo do Estado, e que marcou o nascimento da corrente política hoje conhecida como dinismo, não foi, como muitos apostaram, um ato de rompimento desse movimento com o governador Carlos Brandão (PSB), que hoje lidera o que alguns já batizaram de brandonismo. Mas também, ao contrário do que andaram suavizando algumas vozes dinistas, não foi uma declaração de reafirmação da grande aliança criada em 2014 e que se manteve estável até as eleições de 2022, quando Carlos Brandão foi reeleito governador em turno único e Flávio Dino senador com amor votação da história. O que aconteceu no Rio Poty foi um ato para dizer ao mundo que, mesmo com algumas dúvidas, o dinismo está vivo.
A celebração do dinismo não foi um ato monumental, mas mostrou densidade política, a começar pelo fato de que reuniu o vice-governador Felipe Camarão (PT), três senadores maranhenses – Eliziane Gama (PSD), Ana Paula Lobato (PDT) e Weverton Rocha (PDT) – o ministro da Comunicações Juscelino Filho (UB), além de pelo menos quatro deputados federais, tendo à frente Márcio Jerry (PCdoB), o organizador da reunião, e vários deputados estaduais, entre eles Othelino Neto (Solidariedade), que faz dura oposição do governador Carlos Brandão, algo inédito na política estadual em tempos recentes.
O que os dois lados mais temiam – os discursos violentos contra o Governo e governador Carlos Brandão, que poderiam ser interpretados como declarações de rompimento -, não aconteceu. O tom moderado e até conciliador da maioria das falas foi o resultado de um trabalho árduo do próprio comando do PCdoB, que às vésperas do encontro manifestou preocupação com as previsões feitas nas redes sociais e na blogosfera de que o encontro teria consequências politicamente catastróficas. A suposta catástrofe antecipada levou o comando do PCdoB a, na sexta-feira, soltar uma nota desfazendo as previsões incendiárias e garantindo que tudo não passaria de uma comemoração e de um balanço dos sete anos e três meses do Governo Dino/Brandão. A nota acalmou os ânimos nos dois lados.
Feitas as contas, o que ficou claro no evento foi a intenção do chamado dinismo se apresentar como uma força política e que está alinhada ao Governo Brandão, ainda que algumas das suas vozes mais conhecidas – os deputados Othelino Neto (SD), Carlos Lula (PSB) e Rodrigo Lago (PCdoB) -, com o apoio de outros mais contidos -, façam oposição estridente ao governador Carlos Brandão na Assembleia Legislativa, batendo forte contra alguns projetos e mantendo pressão cerrada contra o governador e a Mesa Diretora do parlamento estadual no campo judicial. Uma série de ações, a maioria movida pelo Solidariedade, que vão da denúncia de nepotismo ao questionamento da eleição da presidência do Poder Legislativo para o biênio 2025/2026, todas no Supremo Tribunal Federal, revela que o rompimento da parte do dinismo liderada por Othelino Neto e a senadora Ana Paula Lobato com o brandonismo já é fato consumado, não havendo possibilidade de reconciliação.
No campo prático da política, dinistas clamaram pela manutenção dos programas sociais implantados no Governo Dino e a confirmação da unidade em torno da candidatura do vice-governador Felipe Camarão ao Governo do Estado e a do governador Carlos Brandão ao Senado em 2026. Quanto aos programas sociais, não há notícia de que um só dos deixados por Flávio Dino tenha sido desativado; o Governo desmente e dá como exemplo o mais destacado deles, os Restaurantes Populares, que foi ampliado, mantém hoje cerca de 180 unidades em todo o Estado, e que os programas educacionais estão mantidos na mesma orientação.
Já em relação ao compromisso político, esse realmente foi colocado em dúvida nos últimos meses, mas em nenhum momento negado enfaticamente pelo governador Carlos Brandão. As tensões o levaram a admitir permanecer no cargo até o final do mandato, com poder de fogo para viabilizar uma candidatura alternativa à sua sucessão. Mas nada foi além disso até agora, o que tem deixado no ar a impressão de que o desafio maior é do vice-governador Felipe Camarão de costurar com o governador Carlos Brandão uma aliança que remeta para a construção da chapa por ele liderada e tendo o governador como candidato ao Senado. E nesse ambiente de concórdia, claro, a acomodação dos segmentos que se organizam dos dois lados para as eleições de 2026.
O discurso do vice-governador Felipe Camarão expressou muito dessa equação, e pode ser o roteiro para conversas.
PONTO & CONTRAPONTO
Futuro da eleição para a presidência da Assembleia Legislativa é motivo de incertezas
Na avaliação de alguns observadores políticos experientes, a chave para a conciliação ou o rompimento da aliança governista no Maranhão será o desfecho da ação por meio da qual deputado Othelino Neto, por meio do seu partido, o Solidariedade, tenta anular a eleição para a presidência da Mesa Diretora da Assembleia Legislativa, realizada em novembro, e mudar a maior idade como critério de desempate nesse pleito, adotando o de maior número de mandatos.
Para esses observadores, a confirmação da eleição manterá a frágil estabilidade do momento, até reforçando a posição da base governista na Assembleia Legislativa. Se o resultado for favorável à tese do Solidariedade, o Maranhão será transformado campo de uma guerra política sem precedentes. Um dos indicadores desse cenário são os posicionamentos partidários como amicus curiae, com o MDB e o Republicanos apoiando a presidente Iracema Vale (PSB) e o PDT se associando ao pleito do Solidariedade.
Em meio a isso, o que está fomentando, de fato, o clima de tensão é o fasto de que ninguém – nenhum advogado e nenhum político – se arrisca a “cantar” com segurança a decisão a ser tomada pela ministra Cármen Lúcia, relatora da ADIN proposta pelo Solidariedade. Isso porque na avaliação geral – incluindo aliados e adversários -, a eleição da presidente Iracema Vale foi um “ato jurídico perfeito”, à medida que o critério de desempate pela maior idade está previsto há 30 anos no regimento Interno da Assembleia Legislativa e nunca foi questionado.
Para eles, o questionamento de agora veio depois de a eleição ter sido consumada, o que lhes dá confiança num resultado favorável. “A ministra pode até mudar a regra daqui para a frente, mas dificilmente anulará a eleição”, diz um apoiador da presidente, lembrando que ela negou liminar suspensiva pedida pelo partido do deputado Othelino Neto.
As explicações da Assembleia Legislativa sobre o tema, solicitadas pela ministra, foram encaminhadas ao Supremo na sexta-feira. Isso indica que dificilmente a decisão será anunciada antes do recesso no Judiciário, que começa no doa 20/12 e termina no dia 20/01. A posse da nova Mesa Diretora está marcada para o dia 1º de fevereiro de 2025. Iracema Vale continua presidente eleita até a decisão do Supremo, que pode confirmá-la, mas também pode determinar uma nova eleição.
Brandão ignora tensões políticas e mantém intensa agenda de trabalho com bons resultados
O governador Carlos Brandão não alterou um só item da sua agenda de compromisso por conta das tensões políticas que estremecem a sua base de apoio. Ele não está indiferente, mas tem a noção exata do que está acontecendo e não abre mão de manter seus compromissos. No sábado, comandou em Imperatriz a abertura do Natal na Avenida Coberta, o principal centro comercial da cidade. Ali, acompanhado do prefeito eleito Rildo Amaral (PP), o governador iniciou a distribuição de sete mil empregos e anunciou que os 180 Restaurantes Populares do Maranhão servirão uma ceia no dia 24. Na sexta-feira, descartou o encontro do PCdoB, para o qual foi convidado, mas preferiu cumprir compromissos antes assumido. O principal deles como a abertura da festa natalina na Avenida Coberta de Imperatriz, um evento que mobilizou milhares de pessoas.
Carlos Brandão seguiu para Imperatriz levando no bolso duas notícias alvissareiras no plano. A primeira, recebida na sexta-feira do presidente da Jucema, Sérgio Sombra, a informação de que de janeiro a novembro de 2024, o número de empresas abertas cresceu 4,8%, tendo o destaque sido para o setor de serviços, que apresentou um crescimento de 9,7% ao ano passado. A agropecuária avançou 7,2%, seguida pela indústria (6,7%) e pela construção civil (5,3%). Além disso, 49 mil microempresas foram abertas, totalizando 442 mil ativas no estado. “O número de empresas do setor de serviços cresceu 9,7%, colocando o Maranhão na mesma tendência de alta nacional do setor”, celebrou o governador em suas redes sociais sociais.
Antes, na quinta-feira, comandou ato em que 17 empresários maranhenses selecionados pelo Programa Nacional de Apoio à Inovação Tecnológica (Edital Tecnova III Maranhão) receberam recursos de até R$ 480 mil por empresa para o desenvolvimento de produtos ou projetos inovadores. Parceria entre a Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (Fapema) e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), empresa vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, o programa vai destinar R$ 9,6 milhões em apoio a empresas inovadoras que operam no estado. “É nessa linha que a Fapema está trabalhando: buscando editais que possam melhorar o nível das empresas e suas tecnologias, para que possam gerar mais emprego e renda, que é sempre o nosso foco”, frisou Carlos Brandão.
A quem tentou fazer com que ele se posicionasse em relação à movimentação política, disse apenas que está acompanhando os acontecimentos. E ponto final.
São Luís, 15 de Dezembro de 2024.