Rescaldo das eleições municipais leva tensão ao plenário da Assembleia Legislativa

Cláudia Coutinho denuncia Rubens Pereira e Viviane Silva, Daniella
Gidão e deputadas de costas para Yglésio, que estava tribuna

Já se esperava que alguns fortes ventos da ressaca das eleições municipais certamente invadiriam o plenário da Assembleia Legislativa. E não deu outra. Ontem, o plenário Nagib Haickel foi agitado por duas manifestações fortes, relacionadas com a briga pelo voto. Uma protagonizada pela deputada Claudia Coutinho (PDT), mulher do prefeito de Matões do Norte, Ferdinando Coutinho (União Brasil) e outra que nasceu de uma provocação do deputado Yglésio Moises (PRTB), que atacou a deputada Viviane Silva (PDT) e gerou uma polêmica que terminou com ele falando na tribuna e todas as deputadas – exceção da presidente Iracema Vale (PSB) e da de Mical Damasceno (PSD) – de costas no plenário, numa cena surpreendente e de forte simbolismo em matéria de parlamento.

Poucas vezes um secretário de Estado foi tão duramente atacado como Rubens Pereira, que comanda a pasta da Articulação Política do Governo do Estado. Adversário dos Coutinho em Matões, apoiador, portanto, da candidatura de Gabriel Tenório (PT), que foi derrotado por Nonatinho (União Brasil), candidato do prefeito e da deputada Cláudia Coutinho. A acusou de tramar denúncias contra o candidato do UB, de aliciar eleitores jovens e de oferecer dinheiro para que pessoas fizessem acusações falsas ao candidato e ao prefeito de Matões. Em tom de indignação, a deputada Cláudia Coutinho disparou vários adjetivos contra o secretário, e alertou o governador Carlos Brandão (PSB) para que “tenha muito cuidado”, porque o secretário de Articulação Política seria, na opinião dela, “um desarticulador”.

O clima de disputa em Matões foi pesado porque a candidatura de Gabriel Tenório, que foi candidato em 2020, contra Ferdinando Coutinho, perdeu, e de novo não deslanchou agora contra Nonatinho, apoiado pelos Coutinho. O problema é que esse grupo está enfrentando Ferdinando Coutinho, que sabe fazer política como poucos, é desassombrado, com a experiência de quem foi por muito tempo o braço direito do irmão mais velho e mais destacado, o ex-prefeito de Caxias e ex-deputado estadual Humberto Coutinho.

O outro momento de tensão resultou de uma fala do deputado Yglésio Moises. Na esteira de uma série de provocações, ele disparou forte contra a deputada Viviane Silva, mulher do prefeito de Balsas, Éric Silva (PDT) e cujo candidato, Celso Henrique (PP) foi derrotado na corrida à prefeitura. Yglésio Moises criticou a deputada Viviane Silva por haver ela estado no mesmo palanque que Cirineu Costa (PL), prefeito de Formosa da Serra Negra, que foi condenado por abuso sexual e aborto. Indignada com o ataque do parlamentar, Viviane Silva aproveitou um aparte em discurso do líder governista Neto Evangelista (UB), que se solidarizava com as mulheres, reagiu dura contra o deputado bolsonarista. Assinalou que ele vive de provocações, de polêmicas, que lutou boxe “para aparecer”. “Mas não tem brilho”, acrescentou. E foi mais longe, lembrando que “ele é tão sem brilho que nem a presença do ex-presidente Jair Bolsonaro ajudou ele em São Luís”. Viviane Silva foi apoiada pela deputada Daniella (PSB), que cobrou o respeito do parlamentar às mulheres da casa, acrescento: “Você não nos representa”.

Em seguida, Yglésio Moises voltou à tribuna e fez um discurso agressivo contra as deputadas Viviane Silva e Daniella, mas sofreu o dissabor de uma cena forte e inédita no parlamento maranhense: as deputadas lhe viraram as costas. Visivelmente impactado com a situação, Yglésio Moises manteve o discurso agressivo contra as duas deputadas. Mas amargou novo dissabor no final da sua fala, quando a presidente da Assembleia Legislativa, Iracema Vale, declarou: “Eu quero me solidarizar com as senhoras deputadas. Eu também concordo que não se defende uma mulher acusando e ofendendo outras”.

A sessão do parlamento estadual terminou desenhando no ar a possibilidade de novos confrontos, que provavelmente acontecerão hoje, em meio à eleição do novo 1º vice-presidente da Casa.

PONTO & CONTRAPONTO

Andrea Rezende será 1ª vice-presidente da Assembleia

Andrea Rezende mudará de
lugar na Mesa do Legislativo

Antes dos confrontos no plenário, com os ataques da deputada Cláudia Coutinho contra o secretário Ruben Pereira (Articulação Política) de das deputadas Viviane Silva e Daniella Gidão (PSB), uma intensa articulação nos bastidores tratou da eleição para um mandato tampão de 1º vice-presidente da Mesa Diretora, por conta da renúncia do deputado Rodrigo Lago (PCdoB).

Após várias reuniões, ficou acertado que o cargo de 1º vice-presidente será preenchido pela deputada Andrea Rezende (PSB), que atualmente é a 4º vice-presidente. E é provável que essa vaga seja preenchida pela deputada Ana do Gás (PCdoB).

Em princípio, com a renúncia do deputado Rodrigo Lago, a vaga seria preenchida pelo seu colega de partido, deputado Júlio Mendonça (PCdoB), mas as relações tensas do seu grupo com o grupo dominante da Assembleia Legislativa e com o Palácio dos Leões.

Leões comemoram um grande leque de aliados eleitos, e destaca três casos

Rafael Brito, Renato Souza e Gentil Neto:
vitórias comemoradas pelos Leões

Em meio às comemorações e lamentações produzidas pelas eleições municipais, o Palácio dos Leões comemora a eleição de aliados na esmagadora maioria dos municípios, mas alguns membros do entorno do governador Carlos Brandão destacam três casos considerados especiais pelo grupo.

O primeiro foi a eleição do deputado Rafael Brito (PSB) em Timon, derrotando a prefeita Dinair Veloso (PDT), que buscava a reeleição. A vitória de Rafael Brito significou nada menos que a derrota do grupo Leitoa, liderado por dois ex-prefeitos de Timon: Chico Leitoa, que foi também deputado estadual, e seu filho, Luciano Leitoa, que também foi prefeito duas vezes e deputado federal por um mandato. Esse cenário explica os tremores da campanha e o desfecho da eleição.

O segundo caso foi a eleição de Renato Santos (MDB) em Colinas, base política do clã Brandão, liderado pelo governador Carlos Brandão. O simbolismo é o fato de que o candidato derrotado foi o atual vice-prefeito João Haroldo (PCdoB), irmão do deputado federal Márcio Jerry, cuja irmã não conseguiu se reeleger vereadora.

Finalmente a eleição de Gentil Neto (PP) em Caxias, liderando uma grande aliança entre o prefeito Fábio Gentil (Republicanos) e a ex-deputada Cleide Coutinho, lidera o grupo Coutinho. O candidato governista enfrentou uma turma barra pesada, liderada pelo deputado federal Josimar de Maranhãozinho, que teve com o candidato o ex-vice-prefeito e suplente de deputado federal Paulo Marinho Jr. (PL).

Vale lembrar que o governador Carlos Brandão apoiou abertamente os três candidatos, tendo visitado os municípios em campanha, o que pode ter feito a diferença em favor dos três candidatos.

São Luís, 10 de Outubro de 2024.

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