Mesmo conformado com o PT coadjuvante, Lula quer petistas disputando prefeituras

Lula da Silva pode ter Felipe Camarão como o PT renovado

Mesmo sentindo a barra de governar com um partido em minoria em todos os níveis da política, em especial no Maranhão, o presidente Lula da Silva não pareceu muito preocupado com a trajetória do PT no estado, onde ele, candidato presidencial, recebeu 71% dos votos, o partido teve participação importante nas eleições Carlos Brandão (PSB), fez o vice-governador, mas só tem um deputado federal e nenhum deputado estadual titular, além de comandar apenas uma das 217 Prefeituras do Maranhão e ter apenas um vereador em São Luís, o Coletivo Nós (PT). Postas essas questões por O Imparcial, que o entrevistou, o presidente Lula da Silva respondeu com uma surpreendente ambiguidade, que no fundo explica a passividade do partido no Maranhão:

“Apesar disso (o seu ganho no Maranhão), o PT do estado não consegue lançar nomes nas disputas majoritárias. Qual a estratégia necessária para que o PT do Maranhão reverta este quadro? O PT é um partido maduro, que sabe que precisa formar e atrair quadros qualificados e tem maturidade para saber que, às vezes, é melhor fazer uma aliança do que necessariamente lançar um candidato. Então, no país inteiro, estamos debatendo as candidaturas em 2024 com muita maturidade”. Tudo que o presidente Lula da Silva disse se aplica de alguma maneira ao braço maranhense do seu partido.

Desde que quadros aguerridos, como Domingos Dutra e Bira do Pindaré, por exemplo, o deixaram e a legenda se fracionou em algumas correntes que se digladiam nas suas fileiras, o PT nunca mais partiu para candidaturas majoritárias. Preferiu se acomodar como coadjuvante do grupo Sarney, por exemplo, contentando-se com Washington Oliveira como vice de Roseana Sarney em 2010, e que acabou tirado do páreo com um consolo no TCE, e agora, em outra situação, com Felipe Camarão como vice de Carlos Brandão. A expectativa é a de que Felipe Camarão reverta a cultura de coadjunvância do PT e seja o candidato do partido ao Governo do Estado em 2026, como está sendo desenhado.

Mas em relação às eleições municipais, o PT do Maranhão não consegue emplacar candidatos a prefeito em São Luís, em grandes, médios nem pequenos municípios. Mesmo com o imensurável poder de fogo do Governo central, o partido não consegue definir nomes para disputar prefeituras. Em São Luís deve seguir Duarte Jr. (PSB); não disputa em São José de Ribamar nem em Paço do Lumiar; em Imperatriz deve apoiar o ex-deputado Marco Aurélio, do PCdoB e que está em terceiro lugar, brigando com a candidata do Republicanos, Mariana Carvalho; não sabe ainda para onde ir em Caxias, não faz ideia de como atuar em Bacabal, não tem nenhuma perspectiva em Pedreiras, irá a reboque em Pinheiro, surpreendeu meio mundo com a opção que fez em Timon, onde se colocou na contramão do governador Carlos Brandão. E por aí vai…

O caso mais emblemático do viés contraditório do PT acontece em Codó, o único município de grande porte onde tem candidato próprio: Chiquinho da FC. O que a presidente do partido, Gleice Hoffmann, chamou de “renovação” é um empresário de grande porte, com a vida inteira situada à direita e que não esconde que só entrou no PT por conveniência, para “puxar o saco do presidente Lula para conseguir as coisas para Codó”. Codoenses e maranhenses em geral ficaram sem ar diante da espantosa conversão de Chiquinho da FC ao petismo. Muitos petistas de raiz ainda se esforçam para assimilar tal aquisição.

Na sua fala a O Imparcial, o presidente Lula da Silva pareceu apostar que o PT maranhense vai mesmo para a luta brigar por Prefeituras Maranhão a fora. O presidente dá a entender que, dividido por correntes e travado pelo assembleísmo nada prático, o braço maranhense do PT precisa de uma sacudida sísmica para incorporar, por exemplo, a dinâmica do vice-governador Felipe Camarão. Isso porque está mais que claro que o futuro do PT maranhenses está na eleição dele para o Governo do Estado em 2026.

PONTO & CONTRAPONTO

Gesto de Brandão para com Iracema injeta gás na corrida sucessória de 2026

Carlos Brandão sorri com o abraço
de Lula da Silva em Iracema Vale

“Você pode contar com o povo do Maranhão. Esse povo te ama, Lula. Você teve a segunda maior votação do Brasil aqui no Maranhão. Perdemos por pouco para o Piauí, mas na próxima eleição, em 2026, nós vamos ganhar, não vamos, Iracema?!”.

Num discurso enfático sobre a posição do Maranhão em relação ao presidente, afirmando que em 2026 o estado lhe dará a maior votação proporcional do país, o governador Carlos Brandão mexeu com os bastidores da política estadual ao pedir a confirmação do seu prognóstico à presidente da Assembleia Legislativa, deputada Iracema Vale (PSB).

A manifestação do governador tirou da letargia os nichos de especulação, que imediatamente interpretaram suas palavras como sinal de que a presidente da Assembleia Legislativa está no patamar dos aspirantes ao Governo do Estado em 2026.

A especulação, porém, só faz sentido em dois cenários pouco viáveis. No primeiro, o vice-governador Felipe Camarão (PT) abriria mão de disputar a reeleição, o que parece impossível numa avaliação nesse momento. No segundo, na hipótese de o governador Carlos Brandão decidir ficar no Governo e lançar o seu candidato a governador, abrindo mão de um mandato de senador da República, com folga para disputar o Governo em 2030.

Como se vê, as duas possibilidades são complicadas, salvo se tudo ocorrer num grande acordo em torno do vice-governador Felipe Camarão, o que parece improvável.

E nesse contexto, um dado não pode ser ignorado: a presidente da Assembleia Legislativa é um quadro político qualificado e que se encaixa com facilidade em qualquer projeto de poder.

Lula elogia André Fufuca e assanha os bastidores da corrida ao Senado

André Fufuca com Lula da Silva: relação afinada

“Fufuca é um ministro extraordinário, que tem me ajudado a governar este país”.

Num ambiente onde se encontravam vários ministros de Estado, a declaração elogiosa do presidente Lula da Silva ao ministro do Esporte André Fufuca acendeu mesmo o sinal de alerta amarelo foi nos pretendentes à segunda vaga de candidato a senador.

A manifestação com certeza causou algum incômodo aos senadores Weverton Rocha (PDT), cujo entorno vem espalhando que ele é o candidato do presidente Lula da Silva, e a senadora Eliziane Gama (PSD) cujo prestígio no Palácio do Planalto é grande, tanto que ela atua como vice-líder do Governo no Congresso Nacional.

O elogio do presidente ao ministro maranhense pode ser um simples reconhecimento em relação ao desempenho de um auxiliar que vem comandando bem uma pasta importante. Mas como o presidente fez um discurso com fortes tinturas políticas, faz todo sentido interpretar sua manifestação como um gesto de simpatia pelo projeto senatorial do deputado federal André Fufuca (PP).

São Luís, 23 de junho de 2026.    

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