Uma das regras mais elementares e universais da política é aquela segundo a qual não existe meio termo nos grandes embates, o que significa dizer que, via de regra, no desfecho de cada um funciona a lógica cartesiana na qual um ganha e outro perde. Mas há casos em que a teia de alianças produz ituações surpreendentes. A briga em torno do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) vem produzindo reflexos curiosos no cenário político do Maranhão. Para citar dois exemplos: enquanto o governador Flávio Dino (PCdoB) vem atuando na liderança de um movimento nacional contra a tentativa de destituir a presidente, que classifica de “golpe”, o ex-presidente José Sarney (PMDB), arqui-inimigo do governador, também defende a mesma causa, logo, os dois saíram ganhando e comemoraram a primeira fase do processo definido pelo Supremo Tribunal Federal; já a deputada federal Eliziane Gama, que quando no PPS defendeu fortemente o impeachment da presidente, agora, na Rede Sustentabilidade, encontra-se entre a cruz e a espada porque a dona do partido, Marina Silva, é contra o impedimento presidencial. Vale, portanto, avaliar nesse contexto quem ganhou e quem perdeu com a definição do rito.
O governador Flávio Dino é até aqui o grande vencedor desse embate no Maranhão. Isso porque desde o início abraçou a causa do mandato presidencial e incorporou a linha de entendimento segundo a qual o impedimento seria uma medida de força, portanto golpe contra a democracia. Por razões diferentes, José Sarney (PMDB) saiu vencedor nessa primeira etapa. Quando presidente da República, sofreu fortes pressões e acabou abrindo mão de um ano de mandato, por isso defende a integralidade do mandato e acha que o seu partido, o PMDB, não deve romper com a presidente. Nesse caso, porém, pode haver uma situação em que os interesses continuem enrolados: se a presidente cair, Flávio Dino irá à lona também, enquanto que Sarney permanecerá de pé e ganhará nova musculatura com o PMDB no governo. Ou seja, a velha e genial raposa tem uma vantagem sobre o governador porque ganha nas duas pontas da corda.
A eventual queda da presidente Dilma criará uma situação embaraçosa no Palácio dos Leões, onde o governador Flávio Dino sofrerá derrota amarga, enquanto o seu vice, Carlos Brandão (PSDB), poderá estourar um champanhe para agradar aos chefes nacionais do seu partido. Até aqui, no entanto, Brandão se desdobra para não entrar em choque com Dino nesse caso, preferindo se fazer de morto ou, quando pressionado, dar resposta escorregadia como a que deu na semana passada. Quem vive também nessa mesma situação é o prefeito de Imperatriz, Sebastião Madeira, que continuará com vida dura se a presidente sobreviver, mas poderá ganhar musculatura se Dilma cair. A situação do PPS é mais delicada ainda: no plano nacional, o partido é radicalmente a favor do impeachment, enquanto no Maranhão, onde está alinhado ao governo, seus dirigentes, a começar pelo chefe regional Paulo Matos, pisam em ovos para não entrar em rota de colisão com o governador, mas se preparam também para festejar se a presidente for mandada para casa. Em tempo: Paulo Matos é, talvez, o político maranhense mais versado na arte da sobrevivência.
A situação mais complicada é a da deputada federal Eliziane Gama. Quando no PPS, ela assumiu posição fortemente contra a presidente Dilma, seguindo a linha do partido. Só que agora, filiada à Rede Sustentabilidade, partido de Marina Silva, a parlamentar está sendo obrigada a engolir o discurso do contra, já que a ex-senadora não quer nem ouvir falar em impeachment. Assim, se a presidente Dilma cair, Eliziane não poderá comemorar; se a presidente se mantiver de pé, ela não poderá protestar. Ficou inteiramente amarrada nesse item decisivo do cenário político nacional. É mais ou menos a situação do ex-governador e deputado federal José Reinaldo Tavares (PSB), que praticamente assumiu posição pró-impeachment, na contramão, portanto, do governador Flávio Dino. Se Dilma se salvar, ele ficará em situação delicada na Esplanada dos Ministérios e no Palácio dos Leões. Se Dilma perder, tem larga chance de se dar bem na barcaça do PSB.
São, portanto, situações as mais diversas, que envolvem principalmente o governador Flávio Dino e que exigirão uma administração política competente para manter as alianças.
PONTO & CONTRAPONTO
Rubens Jr. chega ao primeiro plano no parlamento
Quem acompanhou atentamente os lances que resultado na histórica sessão em que o Supremo Tribunal Federal definiu o rito do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff pode perceber a ação de um do deputado federal Rubens Jr, (PCdoB), que terminou a semana como membro do primeiro time do parlamento brasileiro como um dos mais destacados integrantes da tropa de choque do Palácio do Planalto. Rubens Jr. se movimentou com tanta intensidade como vice-líder do seu partido, que teve momentos de altos e baixos, responsável que ficou por uma das artilharias contra as manobras da o presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Desde que começou a peleja do “Fora Dilma!” e do “Fora Cunha!”, Rubens Jr. assumir, de maneira clara e visível, a posição atacante destemido contra Eduardo Cunha e defensor intransigente da presidente da República, seguindo a linha do PCdoB e sob orientação permanente do govenador Flávio Dino. Nessa guerra de palavras, fazendo com frequência intervenções a favo de Dilma e contra Cunha da experiente deputada fluminense Jandira Feghali, e nas ações judiciais ele acabou por se transformar numa das figuras mais importantes da República nessa guerra política, por ter assinado três ações protocoladas pelo PCdoB no STF. Uma delas – a mais importante – foi a que pediu à mais importante Corte do país para definir o ritual do impeachment. O resultado dessa consulta foi o desfecho de uma sessão histórica. O jovem deputado Rubens Jr., um advogado de poucos mais de 30 anos, mas com uma disposição invejável para a ação política por perceber a importância do momento, como fez – guardadas as devidas proporções -, no início dos anos 80, em plena ditadura, o jovem deputado mato-grossense Dante de Oliveira, ao protocolar a emenda pedindo a volta das eleições diretas – entrou definitivamente o primeiro time do parlamento nacional.
João Marcelo: crise alargou sua ação política
Deputado federal de primeiro mandato, até pouco tempo de movimentação tímida, João Marcelo de Souza (PMDB) ganhou fortes traços de maturidade política durante a crise que abalou o Brasil e o Congresso Nacional nas últimas semanas. Psicólogo por formação, com lastro intelectual respeitável, Joao Marcelo entrou para a política motivado pela carreira do pai, o senador João Alberto (PMDB), que tem uma trajetória diferenciada e muito bem sucedida e sem pendências na Justiça. Inicialmente preocupado em defender recursos para o Maranhão e apoiar as iniciativas da presidente Dilma o Congresso nacional, João Marcelo começou a perceber que estava em curso uma crise gigantesca e que seu partido estava no centro dela, com poder para provocar qualquer desfecho. Ao perceber a divisão do PMDB e as armações de Eduardo Cunha e do vice-presidente Michel Temer, tomou uma decisão drástica: ficar ao lado da presidente Dilma Rousseff para o que der e vier. A partir de então, o jovem deputado maranhense deixou a timidez de lado e partiu para a luta dentro e fora do PMDB, mesmo sabendo que suas chances de impor seus pontos de vista seriam reduzidas diante dos medalhões do partido. Veio então a manobra radical feita pelo grupo pemedebista pró-impeachment para destituir o líder da bancada do PMDB na Câmara federal, deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ). João Marcelo entrou na briga nos bastidores, combateu o movimento, mas perdeu com a destituição de Picciani. Atuou mais forte ainda no momento de contra-ataque, que resultou na recondução do líder, que é aliado da presidente Dilma Rousseff. Nos embates para a retomada, João Marcelo foi um dos primeiros a assinar um manifesto pela recondução do líder, participou de todos ao confronto verbais que resultaram na vitória da ala governista do PMDB. Num registro fotográfico de Leonardo Picciani reassumindo o comando da bancada, o deputado João Marcelo está ou seu lado como um dos avalistas e garantidores da reviravolta. Depois desse movimento, o deputado João Marcelo será um politico cm uma visão bem mais madura da vida partidária e parlamentar.
São Luís, 19 de Dezembro de 2015.