Até ontem evoluindo para uma disputa acirrada dentro da aliança partidária que atualmente tem o domínio político no Maranhão, liderada em plena sintonia pelo governador Carlos Brandão (PSB) e pelo senador eleito e futuro ministro da Justiça e Segurança Pública Flávio Dino (PSB), a eleição do presidente da Assembleia Legislativa que será empossada no dia 1º de fevereiro começou a caminhar para ser fruto de um grande acordo. Estão na corrida o deputado reeleito Othelino Neto (PCdoB), atual presidente em busca de novo mandato, e a deputada eleita Iracema Vale (PSB), que se lançou candidata com o aval do governador Carlos Brandão. Othelino Neto despontou como favorito, contando com declaração de apoio de vários deputados governistas e de outras correntes. O quadro, no entanto, mudou rápida e radicalmente com o lançamento de Iracema Vale, que com aval do Palácio dos Leões atraiu em poucos dias um grande número de apoiadores. Nas últimas duas semanas os ventos começaram a soprar fortemente em favor da parlamentar do PSB.
A equação que move a corrida à presidência da Assembleia Legislativa é simples. Sem empecilho legal, já que o mandato presidencial a ser disputado é o primeiro de uma nova legislatura, o presidente Othelino Neto vislumbrou, com total legitimidade parlamentar e política, a possibilidade de exercer mais um mandato à frente da Casa. Foi movido por diversos fatores, entre eles o fato de ter feito gestão republicana, ganhando o respeito dos atuais deputados, que receberam dele tratamento igualitário, independentemente de posição política e partidária; ter sido o segundo mais votado e contar com o apoio do seu partido, o PCdoB, e o aval do senador eleito Flávio Dino. Reúne, portanto, argumentos convincentes para justificar sua candidatura.
A candidatura da deputada eleita Iracema Vale tem outro viés. Enfermeira com formação superior e ex-prefeita de gestões bem-sucedida em Urbano Santos, Iracema Vale conquistou mandato de deputada estadual como campeã de votos –mais de 100 mil – entre os eleitos em outubro, saiu da sua região com uma liderança incontestável, trazendo na bagagem o propósito de quebrar um paradigma: ser a primeira mulher a presidir o Poder Legislativo no Maranhão. Bem fundamentado, o projeto de candidatura à presidência da Assembleia Legislativa ganhou o aval do governador Carlos Brandão, que logo a liberou para pedir votos usando o seu apoio como um dos argumentos. De cara, recebeu o apoio do decano da Casa, deputado reeleito Arnaldo Melo (PP), que lançara sua candidatura, mas saiu do páreo para apoiá-la.
Nas últimas duas semanas, os dois candidatos se movimentaram, registrando declarações de apoio, deixando no ar a impressão de que a corrida poderia desaguar numa disputa ácida e desnecessária dentro da base governista, podendo produzir sequelas políticas que poderiam ser facilmente evitadas. Nesse contexto, o governador Carlos Brandão não transformou a candidatura de Iracema Vale num imperativo político, mas deu a ela um sentido de renovação, de oxigênio político novo, além do seu total alinhamento com o Governo que será instalado em janeiro. A posição do deputado Othelino Neto, mas muitos deputados da base governista não concordam com a continuação dele no cargo nos dois primeiros anos da nova legislatura.
Nos últimos dias, a situação começou a mudar de fato. Antes divididos, nove dos 11 deputados do PSB já teriam fechado com Iracema Vale, o mesmo acontecendo com três dos quatro deputados eleitos do PDT – Glaubert Cutrim, atual vice-presidente, Osmar Filho e Cláudia Coutinho – que seguiram o mesmo caminho. Grande número de deputados eleitos já teria comunicado ao governador Carlos Brandão. Nas contas de fontes confiáveis, se a eleição fosse agora, a deputada eleita do PSB ganharia a presidência da Assembleia Legislativa.
O governador Carlos Brandão, que tem o comando político das forças governistas no estado, não parece interessado em estremecer os alicerces dessa base com uma disputa dentro de casa. É nessa via que deve articular um grande acordo visando resolver a eleição sem traumas.
PONTO & CONTRAPONTO
Weverton e o PDT continuam afastado da base governista
Passados dois meses e meio da eleição para o Governo do Estado na qual o governador Carlos Brandão (PSB) liquidou a fatura no 1º turno, não foi ainda emitido qualquer sinal que possa ser entendido como janela para a reaproximação do PDT com o Palácio dos Leões. Pelo que se sabe, a declaração de apoio dos deputados eleitos do PDT à candidatura de Iracema Vale não passou pelo crivo do presidente regional do partido, senador Weverton Rocha, nem do seu lugar-tenente Erlânio Xavier. Isso quer dizer que o PDT e seus chefes continuam distanciados do Governo, mesmo sabendo que o preço político do racha que causaram com a candidatura do senador Weverton ao Governo do Estado será alto, tendo começado a ser pago com o terceiro lugar do candidato do PDT na eleição para o Governo do Estado.
Brandão só tratará de eleição em São Luís no próximo ano
Andaram sondando o governador Carlos Brandão a respeito de como ele vai se posicionar na disputa pela Prefeitura de São Luís em 2024. Sem ser evasivo, ele teria respondido que só vai cuidar do assunto no ano que vem, quando tiver engrenado plenamente o seu novo Governo, com equipe definidas e tudo o mais. E ao ser “apresentado” pelo interlocutor curioso ao deputado estadual e deputado federal eleito Duarte Jr. (PSB), ao deputado federal reeleito Márcio Jerry (PCdoB) e ao vereador e futuro presidente da Câmara Municipal Paulo Victor (PCdoB), o governador se limitou a abrir um largo sorriso e a mudar de assunto.
São Luís, 16 de Dezembro de 2022.