A dramática situação do presidente da Câmara Federal, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que por causa de envolvimento com o esquema de corrupção na Petrobrás caminha aceleradamente para perder o cargo e, muito provavelmente, o mandato – podendo até passar uma temporada na cadeia – afeta diretamente boa parte da bancada maranhense naquela Casa. O mais afetado é, de longe, o deputado Waldir Maranhão (PP), que ocupa atualmente o cargo de 1º vice-presidente da Câmara Federal, eleito por indicação do seu partido. No grupo que vinha dando sustentação política a Eduardo Cunha estão também os deputados Cléber Verde (PRB), Hildo Rocha (PMDB), André Fufuca (PEN) e Alberto Filho (PMDB). São relações meramente políticas, que nada tem a ver com as estripulias de Cunha no submundo da corrupção, e foram estabelecidas pela sua competência em atrair aliados usando os instrumentos que dispõe no comando da Casa e que ele sabe, como ninguém, manejar, e pela vontade natural desses deputados de ocupar espaços.
A situação mais delicada é a do deputado Waldir Maranhão, atual 1º vice-presidente da Câmara Federal. Independentemente das broncas pelas quais responde na Justiça Eleitoral e que mantêm seu mandato garantido por liminar, e de integrar a lista de suspeitos da Operação Lava Jato, ele se articulou com Cunha e, somando o peso dessa articulação com a força que armazenou na bancada do PP, viabilizou sua candidatura no partido e foi eleito 1º vice, com a prerrogativa de substituir o presidente. Nesse contexto, se Cunha cair, Waldir Maranhão assumirá o comando da Casa com a obrigação de organizar e presidir a eleição do novo presidente cinco sessões após a derrocada do atual dirigente. Ele certamente não abrirá mão de comandar esse processo, e a menos que seja impedido por decisão do plenário – o que é improvável -, Maranhão presidirá a escolha do sucessor de Eduardo Cunha. Depois disso, há quem avalie que ele perderá força, embora sua capacidade de sobrevivência sugira outra conclusão.
A queda de Cunha será também um tombo no projeto parlamentar e político do deputado federal Hildo Rocha (PMDB). Desde que chegou à Câmara Federal, Rocha se posicionou clara e ostensivamente ao lado de Eduardo Cunha e logo começou a ser identificado como um dos “homens de ouro” do grupo de deputados fiéis ao presidente. Rocha saiu do chamado baixo clero para assumir a relatoria de matérias de peso e chegou à presidência de uma das comissões especiais mais importantes da Casa, a que dá os primeiros e decisivos passos para a reforma tributária. Hildo Rocha fez questões de demonstrar poder de fogo em vários momentos, sendo o mais ostensivo o que se postou ao lado de Cunha, como um fiel escudeiro, na entrevista em que o chefe anunciou rompimento com a presidente Dilma Rousseff. A queda de Cunha certamente reduzirá muito do poder de Hildo Rocha. A menos que ele consiga manter o espaço que ocupa.
O deputado André Fufuca também faz parte do grupo de sustentação de Eduardo Cunha. Um dos frutos dessa relação foi a indicação do jovem parlamentar para a presidência da CPI que investigou as denúncia da existência de umas máfia manipulando os preços de próteses dentro e fora dos hospitais públicos. É impressão dominante que não teria chegado ao posto – que lhe deu muita visibilidade – sem um empurrão do presidente da Câmara. Por sua vez, o deputado Alberto Filho (PMDB) valeu-se do poder de fogo do presidente Eduardo Cunha para assumir seu mandato depois da briga judicial em que tirou do páreo o hoje suplente de deputado Deoclídes Macedo, ex-prefeito de Porto Franco. A “força” que Eduardo Cunha lhe deu no caso o colocou entre os seus comandados.
De todos os deputados maranhenses aliados de Eduardo Cunha, o que ocupa posição mais forte é Cleber Verde (PRB). É o primeiro membro da Casa a ocupar o recém-criado cargo de Diretor de Comunicação da Câmara Federal, com a prerrogativa para comandar toda a máquina de comunicação da instituição – rádios AM e FM, TV Câmara, sistemas de transmissão, Jornal da Câmara, etc.. Na avaliação de quem conhece os bastidores da Câmara Federal, é uma carga de poder excepcional para um só deputado. Cleber Verde é um dos mais bem articulados membros da Câmara Baixa, com espaço próprio, que foi fortalecido em aliança com Eduardo Cunha. E se o aliado cair, ele ficará do mesmo tamanho que era antes de assumir o poderoso cargo.
A iminente queda de Eduardo Cunha certamente mexerá com esses parlamentares, mas isso não significa que irão para o limbo da Câmara. A essas alturas, já se movimentam para se realinhar em outra situação. Afinal, cada um tem o poder de votar, e é isso que faz a diferença nas duas Casas do Congresso Nacional.
PONTOS & CONTRAPONTO
Maurício Macedo I
Impressiona a informação, estampada na 1ª página da edição de domingo (11) do Jornal Pequeno dando conta de que o engenheiro Maurício Macedo, que foi secretário de Indústria, Comércio e Desenvolvimento estaria envolvido diretamente numa operação de desvio de dinheiro na pasta que comandou durante o último governo de Roseana Sarney (PMDB). De acordo com informação divulgada pela Secretaria de Estado de Transparência e Controle, comandada pelo advogado Rodrigo Lago, Macedo teve reponsabilidade direta na recontratação de uma empresa de informática para prestar serviços à pasta, num esquema que teria desviado mais de R$ 4 milhões. A reportagem informa que Maurício Macedo teria autorizado a recontratação sem levar em conta as regras e os preços, que teria resultado na lesão ao erário.
Mauricio Macedo II
Técnico de alto nível, formado nas mais sofisticadas estruturas da Alcoa, nos Estados Unidos, o que lhe valeu integrar o quadro de executivos da multinacional e a participação, durante mais duas décadas, do corpo dirigente do Consórcio Alumar, Maurício Macedo levou sua rica experiência numa empresa privada de ponta para a máquina pública. E nem de longe lembra alguém que pudesse cair em tentação e trair a confiança das pessoas que nele sempre acreditaram– e são muitas -, para jogar no fosso uma bem sucedida história de vida. Nesse momento, o mais importante é sua reação ao que foi divulgado, sob pena de deixar que se faça algum juízo.
Murad no PSC?
No último post, a Coluna examinou a situação partidária do ex-deputado Ricardo Murad e concluiu que, depois de perder o controle do PTN para o deputado federal Aloísio Mendes (PSDC), ele só tem dois caminhos: permanecer isolado no PMDB ou procurar abrigo na seara partidária adversária do Grupo Sarney. Ontem, porém, um tarimbado observador disse que Murad poderá desembarcar no PSC, que saiu do controle do ex-deputado Costa Ferreira e hoje é controlado pelo deputado André Fufuca. De acordo com esse observador, Fufuca pai e Fufuca filho cultivam relações muito fortes com o ex-secretário de Estado de Saúde e poderão tranquilamente abrir espaço para ele na sigla. Mesmo que isso venha resultar numa briga interna, já que dificilmente Murad entraria num partido para não assumir o comando e dar as cartas.
São Luís, 13 de Outubro de 2015.