Sucessão: Sem acordo, Dino confirma Brandão e Weverton mantém candidatura

 

Carlos Brandão em coletiva à noite no Hotel Luzeiros, reafirmando sua candidatura; Weverton Rocha na sede do PDT, anunciando que vai em frente com seu projeto

Se não estava desenhado com clareza no cenário político, era visível o rascunho da divisão materializada ontem na corrida sucessória no âmbito da aliança partidária liderada pelo governador Flávio Dino (PSB). De um lado, o vice-governador Carlos Brandão, que se filiará nesta semana ao PSB, foi confirmado como o pré-candidato da maior fatia da base partidária governista ao Palácio dos Leões. Do outro, o senador Weverton Rocha (PDT), confirmou sua pré-candidatura, tendo como suporte a fatia menor da aliança governista. A manutenção das duas posições consumou o “racha”, que para alguns é irreversível, enquanto que para outros reflete apenas o momento, podendo haver uma rearrumação ao longo dos cinco meses que separam os pré-candidatos das convenções partidárias. Para o governador Flávio Dino, o que está em curso “é uma dissidência” capitaneada pelo senador pedetista, ou seja, uma situação que poderá ganhar outro formato nos dias que virão. Mas a julgar pelos movimentos de ontem, o desfecho mais levado em conta será o confronto nas urnas.

Não houve surpresa na confirmação de Carlos Brandão como o escolhido pela maioria da base partidária governista, formada por PSB, PSDB, PCdoB, PT, PROS, PV e Cidadania, e como a iminência de ingresso do PP e do PSL. O anúncio de hoje apenas consolidou a situação anunciada na reunião de 29/11/21. Ontem, na entrevista que concedeu à noite no Hotel Luzeiros, após a reunião no Palácio dos Leões, Carlos Brandão declarou, em alto e bom som: “As conversas com o MDB estão bastante avançadas, o Pedro Lucas e o André Fufuca, do PP, estão 90% fechados”. Ou seja, tem suporte político e eleitoral para entrar em ritmo de pré-campanha. Os dirigentes os partidos assinaram uma nota declarando apoio à pré-candidatura do vice-governador ao Governo e a do governador Flávio Dino ao Senado.

O senador Weverton Rocha não surpreendeu e fez exatamente o que era aguardado. Sabedor de que seria minoria na reunião e que o vice-governador seria confirmado, ele preferiu alterar o roteiro do processo: foi, no meio da tarde, ao Palácio dos Leões, onde manteve uma conversa reservada com o governador Flávio Dino, a quem comunicou sua não ida à reunião, a manutenção de sua pré-candidatura ao Governo, e ainda que, independentemente de qualquer situação, ele e seu grupo apoiarão a candidatura dele, Flávio Dino, ao Senado. O senador deixou a sede do Governo e foi direto para a sede do PDT, na Rua do Sol, onde reuniu líderes do grupo que o apoia, e anunciou sua decisão de seguir com o projeto de chegar ao Palácio dos Leões. Tem o apoio do PDT, Republicanos, DEM, Rede e Podemos, além de pelo menos 50 prefeitos e um terço da Assembleia Legislativa.

O governador Flávio Dino fez a sua parte como líder do processo. Por razões exaustivamente explicadas, ele se posicionou pela pré-candidatura do vice-governador Carlos Brandão, mas em nenhum momento fechou as portas ao diálogo com o senador Weverton Rocha, a quem tentou, sem sucesso, convencer de que um acordo poderia assegurar a candidatura dele, Weverton Rocha, ao Governo em 2026. Mesmo na conversa de ontem à tarde, Flávio Dino teria ainda sugerido a Weverton Rocha que revisse sua posição, mas ele se manteve inflexível. Na reunião palaciana com a banda aliada, o governador relatou a posição do senador pedetista e reafirmou, categoricamente, seu apoio do projeto do vice-governador Carlos Brandão, fazendo também questão de deixar o campo aberto ao diálogo.  E recebeu o respaldo formal dos representantes partidários que participaram da reunião, incluindo o próprio vice-governador Carlos Brandão.

– Temos uma dissidência. Mas temos ampla maioria. Creio que esta irá ser ainda maior. Lamento a dissidência, porém me cabe executar a decisão da maioria do grupo. Assim age um líder democrático – declarou o governador ao responder a uma indagação da Coluna.

A aliança liderada pelo governador Flávio Dino não vingou unida na disputa da sua própria sucessão. Seus adversários dirão que ele fracassou. Não é verdade. O governador tem um candidato viável, que leva para a campanha a maior fatia das forças políticas que lidera, lembrando ainda que entre os dissidentes não há inimigos seus.

 

PONTOS & CONTRAPONTOS

 

Weverton sofre reveses na sua base de apoio

André Fufuca, Pedro Lucas e Francisco Nagib com Carlos Brandão

O projeto de candidatura do senador Weverton Rocha sofreu três golpes nada desprezíveis. O primeiro foi a confirmação do PT na base de apoio da pré-candidatura do vice-governador Carlos Brandão, acertada em jantar na noite de domingo, o que elimina a possibilidade da presença do ex-presidente Lula da Silva no seu palanque, em que pese a boa relação entre eles. O segundo foi a revelação de que os deputados federais André Fufuca, que atualmente é seu presidente nacional do PP, e Pedro Lucas Fernandes, que será o presidente do União Brasil no Maranhão, estão “80%” inclinados para ingressar na base de apoio da pré-candidatura de Carlos Brandão. Quando declarou apoio a Weverton Rocha, André Fufuca fez uma ressalva, deixando claro que sua posição poderia ser revista, como de fato está acontecendo. Já Pedro Lucas Fernandes comandava o PTB, de onde saiu e ingressou no PSL, ainda está avaliando e deve se posicionar já na semana que vem, segundo informou o pai e guru político dele, Pedro Fernandes, atual prefeito de Arame. E o terceiro golpe foi o rompimento do ex-prefeito de Codó, Francisco Nagib, com o PDT, e o anúncio de que ele apoiará a candidatura do vice-governador Carlos Brandão.

 

Othelino Neto e Eliziane: situações diferentes como apoiadores de Weverton

Othelino Neto mantém coerência; Eliziane Gama sem aval partidário

No ato que comandou na sede do PDT, após a conversa com o governador Flávio Dino, o senador Weverton Rocha falou ladeado pelo presidente da Assembleia Legislativa, deputado Othelino Neto (PCdoB) e pela senadora Eliziane Gama (Cidadania), vistos como os principais suportes políticos do projeto de candidatura do senador pedetista.

Coerente com a posição que tomo desde que Weverton Rocha alinhavou o seu projeto de poder, o deputado Othelino Neto vem mantendo-se firme na sua posição, como voz dissidente no PCdoB, que já anunciou apoio a Carlos Brandão. Ele cresceu ganhou estatura como chefe de Poder, que sabe separar as coisas, não misturando obrigações institucionais com relações político-partidárias, o que tem lhe garantido boa impressão dentro e fora da seara política.

A senadora Eliziane Gama vive uma situação bem diferente e delicada, à medida que sua posição é confrontada diretamente pelo seu partido, o Cidadania, que já declarou formalmente apoio a Carlos Brandão. A crise no braço maranhense do Cidadania colocou em xeque a sua liderança dentro e fora do partido. Mesmo assim, seu apoio ao colega senador Weverton Rocha é tido como valioso pelos observadores.

 

Dúvida no ar: PDT fica ou sai do Governo?

Uma forte expectativa está no ar desde ontem: como ficará a situação do PDT no Governo com a decisão do senador Weverton Rocha de ir para o confronto direto com o vice-governador Carlos Brandão, que será o governador titular a partir das primeiras horas de abril. Não há número preciso, mas é certo que o partido ocupa um naco dos cargos comissionados no Governo do Estado. Ontem, o senador Weverton Rocha, que preside o braço estadual do partido, disse que a permanência de pedetistas no Governo é decisão do governador Flávio Dino. Não é bem assim. Flávio Dino só será governador até 31 de março. A partir de abril, o chefe do Governo será Carlos Brandão, com todos os poderes, a começar pelos de admitir e demitir. A pergunta que fica é a seguinte: Carlos Brandão vai manter pedetistas no Governo tendo o presidente do PDT como seu adversário na disputa sucessória?

 

Brandão define migração para o PSB

A migração do vice-governador Carlos Brandão para o PSB resolveu uma série de pendências, sendo a mais importante delas o apoio do PT, que foi definido após a confirmação da conversão ao vice-governador ao socialismo democrático.

Agora com a sua situação partidária resolvida, Carlos Brandão está em condições de cuidar da sua pré-campanha, mas sem relaxar nos esforços para buscar a unidade do grupo: “Até as convenções manteremos o diálogo e espero que o senador Weverton mude de ideia e nos apoie”, concluiu.

São Luís, 01 de Fevereiro de 2022.

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