Alguns observadores da crena política maranhense registraram, equivocadamente que, na sua recente e movimentada visita de pré-campanha ao Maranhão, o ex-presidente Lula da Silva (PT) teria “descartado” a candidatura do governador Flávio Dino (PSB) como candidato a vice-presidente na chapa do PT. Em nenhum momento o ex-presidente falou no assunto nem soltou qualquer pista que indicasse essa posição. Lula da Silva não escondeu que está caminhando em direção ao Palácio do Planalto, mas nas poucas vezes em que se manifestou sobre o assunto, o fez rodeando, causando em todos a impressão de que sua candidatura em 2022 ainda não é uma decisão de martelo. Por sua vez, o governador Flávio Dino soltou todas as pistas com objetivo de que ele, e não Lula da Silva, já descartou a hipóteses de vir a ser candidato a vice-presidente numa provável chapa do líder petista, sinalizando, com muita clareza, que o seu projeto para 2022 é disputar a vaga de senador, que será aberta, correspondendo à expectativa de quase 80% dos maranhenses, segundo as pesquisas mais recentes.
O governador Flávio Dino se colocou à disposição do seu partido e dos partidos de centro-esquerda e de esquerda para disputar a eleição presidencial, liderando uma grande aliança que poderia abrigar partidos de centro, e até mesmo da direita democrática, esclarecida. O fez mais como um incentivo ao debate sucessório, provocando as forças progressistas no sentido da mobilização, do que concebendo um projeto de poder quer incluísse, de fato, sua candidatura a presidente da República. Nesse sentido, ocupou muitos espaços importantes de mídia em todo o País, tentando discutir o Brasil em todos os sentidos, a começar pelo reforço das instituições republicanas que garantem a existência do estado democrático de direito. Se não lhe garantiram lastro para levar à frente a ideia da candidatura, o tornaram uma voz conhecida e respeitada no cenário político nacional, principalmente como oposição aos impulsos autoritários e ao golpismo quase explícito no discurso e na postura do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Recentemente, diante da movimentação do ex-presidente Lula da Silva e do ex-ministro Ciro Gomes (PDT), ambos como nomes de peso na corrida presidencial, o governador Flávio Dino definiu seu futuro político como pré-candidato do Senado. E com numa situação excepcional, que pode ser mostrada com o fato de praticamente não haver adversários com lastro para enfrentá-lo de igual para igual, e de haver candidato a governador de outro campo decidido a não lançar candidato a senador na sua chapa para não dificultar a caminhada do atual governador ao Senado – caso do candidato do PSD ao Palácio dos Leões, Edivaldo Holanda Jr., ex-prefeito de São Luís.
A definição de Flávio Dino pela candidatura ao Senado não mudou, porém, o seu discurso de viés fortemente oposicionista nem minimizou sua proposta de que o projeto de reeleição do presidente Jair Bolsonaro. Para o governador, o presidente deve ser combatido por uma ampla frente partidária, como a que ele próprio construiu no Maranhão e a que o próprio Lula da Silva montou para dar sustentação aos seus oito anos de Governo, incluindo o Centrão. Flávio Dino tem alertado que, mesmo com popularidade em queda e com os destrambelhos do seu governo, Jair Bolsonaro dispõe de instrumentos para se manter como candidato forte à reeleição. Isso mesmo levando em conta o largo favoritismo do ex-presidente Lula da Silva apontado pelas pesquisas mais recentes.
A ideia de que Lula da Silva “descartou” ter Flávio Dino como companheiro de chapa foi produto de equívoco na leitura do que aconteceu durante a visita do ex-presidente. Isso porque no Senado, para onde certamente será mandado pelo eleitorado maranhense se confirmar a candidatura, como vem sinalizando, o governador reúne as condições para ser um senador diferenciado, como o foi como deputado federal. E dependendo do desenrolar dos fatos, poderá reunir as condições para participar de um projeto presidencial consistente para 2026, como vice ou como cabeça de chapa.
PONTO & CONTRAPONTO
Petistas de São Luís assumem a Weverton até que partido decida a quem apoiará
A banda petista de São Luís parece ter assumido de vez a pré-candidatura do senador Weverton Rocha (PDT) Palácio dos Leões. Liderada pelo ex-vereador Honorato Fernandes, a ala representa uma fatia importante do partido, com tradição militância ativa. O grupo se posicionou por Weverton Rocha depois que o comando estadual do partido, que tem à frente o presidente Augusto Lobato, se posicionou a favor da pré-candidatura do vice-governador Carlos Brandão (PSDB), evidenciando um racha que nem o ex-presidente Lula da Silva desmanchou na sua visita de pré-candidato a São Luís.
Nos bastidores há quem diga que o PT está jogando e que o racha não existe, mesmo levando em conta o fato de que são “históricas” as diferenças que separam o PT de São Luís do PT estadual. Nesse sentido, o partido estaria decidido a levar a estratégia em frente, de modo a se posicionar de vez quando o cenário da corrida aos Leões estiver melhor definido. Isso acontecerá provavelmente em Março, como previu o próprio ex-presidente Lula da Silva, na sua visita de pré-candidato a São Luís.
Vale anotar que o líder petista não abraçou nenhuma pré-candidatura, deixando as duas alas do PT à vontade para se movimentar até que a direção nacional feche questão e bata o martelo por Weverton Rocha ou por Carlos Brandão.
Sarney tem cacife para sondar militares sobre ameaça golpista de Bolsonaro
Os ex-presidentes José Sarney (MDB), Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Lula da Silva (PT) sondaram os quartéis para saber que é o estado de ânimo real nas fileiras do Exército, da Marinha e da Aeronáutica em relação aos impulsos golpistas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Tudo indica que a iniciativa foi do ex-presidente José Sarney, que sempre manteve relacionamento estreito a caserna, construindo relações sólidas com o oficialato das três Forças.
Quando governador, José Sarney alinhavou canais de comunicação com comandantes militares, mesmo sendo olhado de maneira enviesada pela turma da chamada linha dura. E manteve suas ligações durante os 20 anos da ditadura, com o diferencial de que, com exceção da eleição de vice-presidente na chapa de Tancredo Neves, que se deu pelo Congresso Nacional. Quando presidente, ampliou essas ligações, montando a base que precisava para conduzir o processo de transição da ditadura para a Democracia sem traumas, apoiado, de um lado pelas forças civis, e de outro por generais comprometidos com a mudança. Como senador e presidente do Congresso por duas vezes, cultivou essas relações com a mesma intensidade.
Não será surpresa se dos três ex-presidentes que fizeram a sondagem nas três Forças ele tiver obtido informações mais consistentes.
São Luís, 24 de Agosto de 2021.