O mês de Novembro, que começa nesta segunda-feira, será mesmo decisivo para a definição do candidato das forças governistas que enfrentará as urnas do ano que vem pelo comando do Governo do Estado. “Como eu me comprometi, reunirei os partidos que compõem o Governo em Novembro”, declarou ontem o governador Flávio Dino (PSB) em resposta a indagação feita pela Coluna, confirmado informação que dera há pouco mais de um mês. Com a confirmação, o governador, que coordena as articulações para a escolha de um candidato da aliança que lidera à sua própria sucessão, mostra que está determinado a cumprir o roteiro montado em Janeiro, quando ele e líderes desses partidos firmaram um documento contendo alguns critérios para balizar a escolha. De lá para cá, muita coisa aconteceu, dentro e fora da aliança, mas, de acordo com o governador, o compromisso está mantido, apesar de alguns movimentos destinados a quebrar o acordo, como a renhida disputa entre o senador Weverton Rocha (PDT) e o vice-governador Carlos Brandão (PSDB), recentemente incrementada pela entrada do secretário de Educação, Felipe Camarão (PT), e da determnação do secretario de Indústria, Comércio e Energia Simplício Araújo (Solidariedade). Quanto aos partidos, acontecimentos surpreendentes alteraram muito o peso de alguns deles, o que pode influenciar no desfecho da reunião de Novembro.
A disputa Weverton/Brandão segue intensa e dura, mas ainda civilizada, em que pesem os “empurrões e caneladas” trocados nos bastidores e com reflexos na blogosfera partidarizada, onde é travada uma cruenta guerra de informação. O pré-candidato pedetista cumpre a agenda do projeto “Maranhão mais feliz”, grandes eventos de massa, como o realizado na noite deste sábado em Peritoró, no qual reuniu prefeitos e vereadores de uma região que envolve mais de uma dezena de municípios, mais a população local, a exemplo do que já fez em vários municípios-polo, além de outras ações políticas com viés eleitoral. Carlos Brandão não fica atrás: participa de eventos políticos organizados por seus partidários, segue cumprindo agendas representando o governador e lidera manifestações organizados por partidários nos mais deferentes recantos, além de cumprir uma lotada agenda de conversas com prefeitos. Felipe Camarão (PT), faz uma frenética articulação doméstica, para convencer o seu partido a lança-lo candidato a governador, de modo que ele participe como uma das opções no processo de escolha. Simplício Araújo mantém sua pré-candidatura.
No campo partidário, o cenário é claro para partidos como PDT, PSDB, PT, PSB e PCdoB, para citar os mais fortes, e nebuloso para DEM, PSL, PTB, Republicanos e PP, mergulhados na indefinição. O PDT, mesmo com algumas dissenções, está mobilizado em torno de Weverton Rocha, enquanto o PSDB está “fechado” com Carlos Brandão, e o PT, dividido em várias correntes, ainda não bateu martelo em relação a Felipe Camarão, embora já seja nítido o crescimento do seu espaço dentro do partido.
Nesse campo, o PSB – que está se transformando numa potência partidária – tende a apoiar Carlos Brandão, mas com uma fatia inclinada por Felipe Camarão, como a sinalização feita pelo deputado federal Bira do Pindaré, e uma terceira corrente, mais especificamente o Grupo Leitoa, de Timon, alinhada à Weverton Rocha. O PCdoB também está dividido, com quadros alinhados a Weverton Rocha – como os deputados Othelino Neto, presidente da AL, e Marco Aurélio, líder do bloco governista -, e a Carlos Brandão – como o deputado federal Rubens Jr. e deputada estadual Ana do Gás, entre outros.
Partidos como DEM, PSL, PTB e Republicanos, que pareciam fortes, estão perdendo o rumo. DEM e PSL se fundiram no plano nacional e criaram no plano estadual um monstrengo partidário que ninguém sabe para onde irá. O Republicanos, mesmo declarando apoio a Weverton Rocha, tem boa parte dos seus prefeitos já alinhados com Carlos Brandão. E o PTB, que antes era uma garantia na aliança governista e tendia a apoiar Weverton Rocha, foi atacado pela loucura do presidente Roberto Jefferson, que num acesso de fúria, tirou o comando do centrado deputado federal Pedro Lucas Fernandes e o entregou à deputada estadual Mical Damasceno, “terrivelmente evangélica” e “bolsonarista de raiz”, que deve apoiar o senador Roberto Rocha (sem partido), se ele vier a ser candidato a governador.
E o PP? Continua estável, permanece na base governista liderada pelo governador Flávio Dino, mas poderá mudar radicalmente sua posição se o presidente Jair Bolsonaro e sua turma a ele se filiarem, como querem seus chefes.
É esse complexo conjunto partidário que o governador Flávio Dino reunirá num dia qualquer do mês de Novembro, que será iniciado amanhã, Dia de Todos os Santos.
PONTO & CONTRAPONTO
PROS: Carvalho dá a volta por cima e ganha comando que Gastão deixou escapar
A mudança de comando no braço maranhense do PROS, consumada na semana que passou, está marcada por duas situações curiosas. Uma, a ascensão do vereador Chico Carvalho (74 anos) à direção do partido; outra, a saída do suplente de deputado federal no exercício do mandato Gastão Vieira (75 anos) da presidência da agremiação no estado.
Chico Carvalho comandou o PSL no estado durante uma década e meia, rompeu com o partido por divergir dos rumos que a legenda vinha ganhando no Maranhão e se filiou ao PROS, assumindo a chefia em São Luís, e agora recebe o comando estadual, numa surpreendente demonstração de vitalidade política. Sua desenvoltura é tamanha que ele já levou o partido para a base de apoio do vice-governador Carlos Brandão (PSDB).
Por sua vez, Gastão Vieira fez o caminho inverso. Tinha o comando pleno do PROS no Maranhão, e poderia ter continuado se tivesse trabalhado duro pelo seu fortalecimento. Sua respeitável trajetória de décadas no MDB, com vários mandatos e momentos de decisão, revela que ele nunca foi afeito a gestão partidária. O seu desempenho no comando do PROS ficou muito abaixo do esperado, em que pese sua sempre positiva atuação como parlamentar. Ele próprio já não queria permanecer no partido.
Ideia de blindar Bolsonaro com mandato de “senador vitalício” já nasceu morta
O projeto “genial” de aliados do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de criar um mandato de “senador vitalício” com o objetivo de blinda-lo com imunidade parlamentar, livrando-o de responder a processos e até mesmo ir parar na cadeia, caso não consiga se reeleger, não é nada original e, pelos antecedentes, já nasceu morta.
A ideia foi ventilada quando José Sarney (MDB) ainda era presidente da República e se encontrava numa situação complicada. José Sarney, que na época já havia sido senador duas vezes pelo voto direto, percebeu logo que a iniciativa era barca furada”, e não tendo a legenda do MDB maranhense para disputar a senatória ao sair da presidência da República, se mandou para o Amapá, estado por ele criado e então governado pelo seu amigo e assessor Jorge Nova da Costa, por onde foi eleito para o Senado em 1990, e por onde se reelegeu duas vezes.
A ideia voltou a circular no Congresso Nacional no segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso. Aliados seus chegaram a redigir projeto de lei nesse sentido, justificando a criação do “senador vitalício” com o argumento segundo o qual ex-presidentes investidos nessa função dariam, pela sua experiência, rica contribuição ao debate dos grandes temas no Senado da República. A reação foi tão dura que o projeto nem chegou a tramitar na Casa.
A premiação de ex-presidentes com mandato de “senador vitalício”, sem direito voto, foi ainda ventilada em relação aos ex-presidentes Lula da Silva (PT), Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB). E sempre que veio à tona em momentos de crise, e todas as vezes considerou que beneficiaria todos os ex-presidentes: José Sarney, Fernando Collor de Mello, Fernando Henrique Cardoso, Lula da Silva, Dilma Rousseff, Michel Temer e Jair Bolsonaro.
Está mais do que claro que Jair Bolsonaro não será blindado por esse caminho.
São Luís, 31 de Outubro de 2021.