O governador Flávio Dino (PCdoB) resolveu suspender temporariamente o processo de articulação política visando mobilizar a aliança partidária que lidera em torno de um candidato de consenso à sua sucessão, para dedicar prioridade total à guerra contra o novo coronavírus no Maranhão. Ontem, ele suspendeu a reunião marcada para esta Segunda-Feira (31), com líderes partidários, quando iniciaria o processo de consultas para definir até o final do ano o nome do grupo para liderar a chapa da qual participará como candidato ao Senado. Até o início da tarde de ontem, Flávio Dino estava inclinado a ajustar sua agenda de Segunda-Feira para fazer a reunião, mas diante do aumento da pressão da pandemia, decidiu adiá-la para o final de Junho, quando, acredita, a situação esteja mais propícia à retomada das articulações políticas.
“A prioridade total é o combate ao coronavírus”, escreveu o governador em resposta a uma indagação da Coluna sobre a reunião. Ele passou todo o sábado mergulhado no acompanhamento da violenta pressão que a pandemia vem fazendo sobre o Sistema Estadual de Saúde – aí incluídas as redes pública e privada -, que vêm convivendo diuturnamente com a ameaça de colapso. Mesmo sendo o estado que proporcionalmente registra o menor número de óbitos em relação à população, graças ao esforço gigantesco feito pelo Governo do Estado, o Maranhão vem registrando alta no número de mortes, segundo os balanços diários feitos pelo Consórcio de Meios de Comunicação, publicados nos principais telejornais do País.
Os números do Maranhão divulgados ontem pela Secretaria de Estado da Saúde não deixam dúvida. Desde que começou a contabilizar casos e perdas, o Maranhão já registrou 289.670 casos confirmados. Desses, 26.153 foram casos ativos, que causaram 8.100 mortes, enquanto 255.417 infectados se recuperaram plenamente. Dos casos ativos, 24.620 estão em isolamento familiar, enquanto 933 encontram-se internados em leitos de enfermaria, sendo 125 na rede privada e 808 na rede pública, e 600 em leitos de UTI, sendo 119 na rede privada e 481 na rede pública. Por conta dessa pressão, A Ilha de São Luís está com 98,14% dos seus 269 leitos de UTI exclusivos para Covid ocupados, com apenas cinco desocupados. Já em relação aos 532 leitos clínicos para Covid, 91,17% estão ocupados, restando livres apenas 47.
Esse cenário, que especialistas enxergam como sendo prenúncio da chamada “terceira onda” fez com que o governador Flávio Dino tomasse a decisão de suspender temporariamente as articulações em busca de um grande entendimento entre o vice-governador Carlos Brandão (PSDB) e o senador Weverton Rocha (PDT), ambos pré-candidatos assumidos a governador. Há pouco mais de um mês, a Coluna publicou que o governador definira uma agenda de consultas e articulação política, trabalhando com a previsão de chegar ao final deste ano com a situação resolvida, seja com um acordo em torno de um nome, ou com os dois aspirantes partindo para o embate nas urnas. E a reunião marcada para amanhã e agora suspensa seria o primeiro passo naquela direção.
Com a previsão de que o processo será iniciado no final de Junho, quando o governador Flávio Dino espera haver clima para a movimentação política, o vice-governador Carlos Brandão e o senador Weverton Rocha terão mais um mês para trabalhar junto a aliados e fortalecer seus cacifes. Devendo o mesmo acontecer com Simplício Araújo, que se lançou pré-candidato pelo Solidariedade, partido que preside.
Além do processo de escolha do candidato da aliança situacionista à sua sucessão, Flávio Dino tem pela frente também a complexa tarefa de decidir o seu futuro partidário. Nesse contexto de incertezas, ele tem dois caminhos: apostar numa fusão do PCdoB com o PSB, dando origem ao Socialistas, pelo qual disputaria o Senado, migrar pura e simplesmente para o PSB, o que é improvável, ou então permanecer no PCdoB, encarando o risco de o partido ser engolido pela Cláusula de Barreira. Flávio Dino definiu o dia 13 de Junho, Dia de Santo Antônio, o casamenteiro, como data-limite para resolver sua vida partidária. Essa decisão também poderá ser adiada se a pressão do novo coronavírus sobre o Sistema Estadual de Saúde continuar.
PONTO & CONTRAPONTO
Josimar de Maranhãozinho mantém discurso da candidatura, mas ninguém acredita
Por onde tem passado, o deputado federal Josimar de Maranhãozinho (PL) tem dito e repetido que não abre mão de ser candidato a governador. O mantra é por ele repetido em entrevistas e lives, sustentando-o com o argumento de que tem uma base formada por um partido forte, dezenas de prefeitos, pelo menos uma dúzia de vices, três deputados federais, cinco deputados estaduais e uma grande penca de vereadores espalhados em todas as regiões do estado. E mantém o roteiro de lançar a deputada estadual Detinha, sua esposa, para a Câmara Federal. No entanto, por mais que Josimar de Maranhãozinho insista no discurso da candidatura ao Palácio dos Leões, observadores experientes enxergam nessa “cruzada” uma jogada inteligente para emplacar a deputada Detinha como candidata a vice na chapa de Carlos Brandão ou, num outro extremo, emplacá-la como Número 2 numa eventual chapa liderada pelo senador Roberto Rocha, que aguarda a definição partidária do presidente Jair Bolsonaro para resolver sua situação. Esses observadores reconhecem a força política e eleitoral de Josimar de Maranhãozinho, mas não acreditam que ele entre na disputa majoritária.
Roseana entra em contagem regressiva para assumir o comando do MDB
O braço maranhense MDB deve marcar para meados de Junho a convenção extraordinária por meio da qual a ex-governadora Roseana Sarney assumirá a presidência do partido no estado, mantendo na vice-presidência o deputado Roberto Costa, que representa a ala jovem da agremiação. A mudança foi acordada há algumas semanas e colocará ponto final nas três décadas presidência do ex-senador João Alberto, o mais longevo chefe partidário do Maranhão em tempos recentes. Roseana Sarney tentou assumir o comando do MDB no final de 2018, após sofrer dura derrota nas urnas como candidata ao Governo do Estado. Naquele momento, a Ala Jovem do partido, que tentara impor um projeto mais arrojado de renovação partidária, reagiu negativamente, gerando uma prolongada crise nas fileiras emedebistas. A conciliação começou em meados de 2019, quando a Ala Jovem lançou Roseana Sarney para a Prefeitura de São Luís. Ela não aceitou a candidatura, mas baixou a guarda para uma grande conciliação, que culminou no início do ano, quando um acordo lhe assegurou a presidência do partido a partir de Junho. Um dos itens do acordo é que Roseana Sarney suspenderá a aposentadoria para de novo encarar as urnas, agora como candidata a deputada federal. Nesse contexto, o MDB dificilmente lançará candidato ao Governo do Estado ou ao Senado, devendo participar de uma grande aliança de um projeto de candidatura. Há, porém, quem aposte que esse cenário que move o MDB agora pode mudar à medida que a corrida presidencial for se definindo.
São Luís, 30 de Maio de 2021.