É verdade que numa disputa eleitoral, cujo troféu é o poder, quem dela participa está sujeito receber pancadas de maneira inclemente. Tem sido assim ao longo da História, e não poderia ser diferente nesta corrida para a Prefeitura de São Luís, principalmente porque há muito em jogo, tudo diretamente relacionado com a estabilidade do projeto de poder concebido pelo governador Flávio Dino (PCdoB). Mas não há como não registrar que a guerra em curso é desigual. De um lado, o prefeito Edivaldo Jr. (PDT), que busca a reeleição, liderando uma megaestrutura formada por 12 partidos, todos com as suas estruturas em ação, um ativo exército de blogueiros, a simpatia inegável do segundo maior grupo de comunicação eletrônica da cidade, as militâncias do PDT, do PCdoB e PT, entre outras menos expressivas, além da movimentação intensa da máquina municipal e do aval político do governador Flávio Dino (PCdoB). De outro o deputado estadual Eduardo Braide, candidato do PMN, com uma estrutura muito menor, sem alianças partidárias, sem uma militância política ou pessoal, sem muitos blogueiros alinhados ou fiéis, tocando a campanha com inteligência, principalmente nas intervenções. Pode-se daí fazer analogias como a luta de Davi contra Golias, a campanha do tostão contra o milhão, um exército de centenas contra um exército de um homem só.
Edivaldo Jr. joga com as armas diretas e indiretas que tem e explora todo o potencial do seu arsenal com o objetivo de conter a escalada de Eduardo Braide, um adversário eficiente e hábil, que teve apenas seis segundos diários na TV, mas que só precisou de dois debates para tirar da frente sete concorrentes e desembarcar no 2º turno como uma ameaça concreta e enfática ao projeto de reeleição. O candidato do PDT, claro, acionou toda a sua poderosa retaguarda para arrastar, com as artimanhas que a guerra política comporta, o candidato do PMN e seus parcos recursos para pelejar no charco, onde só cabe o jogo bruto, com o objetivo de desqualificá-lo e triturá-lo, se possível varrê-lo do mapa político.
A guerra que a superestrutura do prefeito Edivaldo Jr. declarou ao deputado Eduardo Braide objetiva muito mais do que a simples derrota eleitoral nessa disputa. São fortes as evidências de que num cenário de poucas lideranças políticas de futuro, a eleição de um político do porte e da competência de Eduardo Braide para a Prefeitura de São Luís, nas circunstâncias em que ascendeu, e derrotando uma das estrelas do time da nova geração que está no comando político do Estado, certamente o colocará no epicentro do cenário político do Maranhão como uma espécie de quarta via. O governador Flávio Dino e seu grupo com certeza não querem mais um político jovem, talentoso e ousado procurando ocupar um espaço, como fez o senador Roberto Rocha (PSB), que por sua ousadia e sem cometer nenhum pecado capital, é hoje satanizado pela falange do grupo que está no poder.
O prefeito Edivaldo Jr. joga pesado contra Eduardo Braide porque sabe que se renovar o mandato se consolida, ao lado do deputado federal Rubens Jr. (PCdoB) e do secretário de Articulação Política e Comunicação, na linha de frente do projeto de poder do governador Flávio Dino, ao passo que uma derrota significará um revés desastroso na sua até aqui vitoriosa carreira política. Derrotar Eduardo Braide é para o prefeito Edivaldo Jr., mais do que uma simples vitória eleitoral e de uma questão de sobrevivência, é a garantia de que poderá alçar voos mais altos nos próximos pleitos.
O diferencial dessa disputa é que os dois são políticos de boa formação, com noção exata do que estão fazendo e sem máculas nos seus currículos. E aí reside a dificuldade que a falange de Edivaldo Jr. se desdobra, sem sucesso, para destruir a reputação de Eduardo Braide, e os comandados do deputado fazerem o mesmo com o prefeito na guerra subterrânea em que tudo o que apareceu contra o prefeito foi uma denúncia fajuta sobre contratações no Isec, um órgão municipal, e contra uma acusação sobre emendas destinadas a Anajatuba, que também não se sustenta.
Os próximos oito dias de campanha e o debate da TV Mirante no dia 28 serão decisivos. E com uma expectativa que poderá se confirmar: a guerra subterrânea vai dar em nada.
PONTO & CONTRAPONTO
Adriano Sarney corrige discurso e nega apoio a Edivaldo Jr.
Provavelmente por ter se dado conta de que seu pronunciamento de terça-feira, no qual acusou o candidato do PMN, Eduardo Braide, de não falar a verdade, deixou no ar a suspeita de que seu gesto foi um presente para a tropa de choque de Edivaldo Jr. (PDT), o que levantou a suspeita de que estaria sendo parte de uma estratégia do Palácio dos Leões a favor do prefeito, o deitado Adriano Sarney (PV) voltou ontem à tribuna da Assembleia Legislativa para minimizar a clara parcialidade da sua iniciativa. Sua fala evidenciou que ele próprio se carimbou de como aliado do prefeito e, ao contrário da sua expectativa, acabou beneficiando a Eduardo Braide.
Adriano Sarney disse ontem que só se posicionou contra Eduardo Braide por dois motivos: propor mais transparência (?) na disputa eleitoral e defender o seu nome, o nome da sua família de ataques do candidato do PMN (?). E foi enfático ao dizer que “jamais” apoiaria o prefeito Edivaldo Jr., como também “jamais” apoiará qualquer projeto político que envolva “o governador comunista” Flávio Dino. Os aliados de Edivaldo Jr., notadamente os deputados Bira do Pindaré (PSB) e Othelino Neto (PCdoB), que na terça-feira rasgaram elogios ao gesto de Adriano Sarney, simplesmente ignoraram o seu discurso reparador, numa clara atitude de reprovação.
Nas conversas paralelas, a opinião dominante foi a de que o discurso inicial, além de não causar o estrago pretendido no projeto eleitoral de Braide, simplesmente o fortaleceu. A começar pelo fato de que na sua nota, Eduardo Braide manifestou estranheza com a atitude de Adriano Sarney e afirmou que nunca escondeu que conversou com muitas lideranças políticas, o que é uma prática normal numa articulação pré-eleitoral. Além disso, ficou claro que Adriano Sarney exagerou no ataque, já que não há qualquer registro mostrando Eduardo Braide atacando família Sarney, salvo quando disse que não é sarneysista e quando disse que não tem o apoio do PMDB. Quando à alegada necessidade de mais transparência na campanha eleitoral, a cobrança só faria sentido se se tratasse de dúvidas relacionadas com a postura moral e ética.
Resumo da opereta: o discurso de ontem não tirou o impacto do de terça-feira, não corrigiu a derrapada e não eliminou a impressão de que o parlamentar teria tentado favorecer a Edivaldo Jr., mas acabou favorecendo Eduardo Braide.
Projeto da Uema Sul estimula debate de alto nível na Assembleia
A Assembleia Legislativa viveu ontem um bom momento da sua natureza parlamentar. Por conta do projeto do governador Flávio Dino criando a Uema Sul, sediada em Imperatriz e abrangendo toda a região com vários campi – Imperatriz, Açailândia, Balsas, Barra do Corda, Grajaú, entre outros -, os deputados César Pires (PEN) e Marco Aurélio (PCdoB) travaram um embate verbal de alto nível. César Pires, que já foi reitor da Uema e Gerente Regional de Imperatriz, criticou duramente a urgência com que o Governo quer o projeto aprovado. Na sua crítica, ele não se colocou contra o projeto em si, mas, com base na sua experiência, elencou uma série de itens sem os quais a organização a ser criada no projeto não poderá se tornar universidade no sentido amplo. O deputado do PEN classificou de “absurda” a urgência proposta pelo Governo, argumentando que não haverá como a nova universidade ser implantada em janeiro de 2017. Cobrou que o projeto seja amplamente debatido pelos deputados, para que sejam corrigidos problemas que, segundo ele, maculam o projeto do Governo. No contraponto entrou o deputado Marco Aurélio, renomado professor tocantino, de longe o principal defensor do projeto que cria a Uema Sul. Ele contestou os argumentos de César Pires, começando por afirmar que o projeto da universidade é uma aspiração antiga região, principalmente de Imperatriz, exibindo um documento em que representantes da sociedade tocantina assinam um abaixo-assinado em favor da criação. Marco Aurélio demonstrou que a futura universidade já tem as condições – professores com qualificação adequada e infraestrutura física suficiente para iniciar a virada, que na sua avaliação terá papel fundamental no desenvolvimento da região, o que não acontecerá se tudo ali continuar como uma representação da Uema. O parlamentar tocantino prosseguiu com sua defesa do projeto enfatizando que ganhando autonomia como uma instituição regional, a Uema Sul proposta pelo governador Flávio Dino prestará serviços relevantes à região. O requerimento de urgência foi aprovado e a aprovação do projeto é ponto pacífico na bancada governista.
São Luís, 19 de Outubro de 2016.