O bombástico depoimento do empreiteiro Ricardo Pessoa – dono da UTC e chefão do esquema de corrupção na Petrobras – dado em regime de delação premiada na Operação Lava Jato, publicado por Veja e largamente repercutido pelos grandes veículos de imprensa, deixou de lado a ex-governadora Roseana Sarney (PMDB) e manteve sob a mira o senador Edison Lobão (PMDB). E no mesmo contexto, trouxe para o efervescente caldeirão do escândalo outro maranhense: Raimundo Carreiro, ministro do Tribunal de Contas da União (TCU). Sobre o ex-ministro de Minas e Energia Edison Lobão, o dono da UTC jogou a suspeita de que ele recebeu R$ 1 milhão. Já em relação ao ministro Raimundo Carreiro, o jornal Folha de S. Paulo publicou que ele teria recebido R$ 1 milhão para mudar parecer a respeito de uma licitação na Petrobras no valor de R$ 3,2 bilhões.
A pancada no senador Edison Lobão já era esperada, inclusive pelo advogado dele, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que mantém inalterada a tese de que, assim como a acusação do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, é factoide, pois não há prova material nem a confirmação do doleiro Alberto Youssef, a declaração de Ricardo Pessoa não se sustenta pelo mesmo motivo. Segundo a Folha de S. Paulo, o advogado do senador Edison Lobão disse que a informação de que seu cliente teria recebido um R$ 1 milhão “já foi feita em outra delação e não foi comprovada”.
O fato é que, mesmo candidato em duas delações – a de Paulo Roberto Costa e a de Ricardo Pessoa, que relataram casos diferentes –, o senador e ex-ministro de Minas e Energia tem jogado pesado na contraofensiva, feito discursos desafiadores na tribuna do Senado e cobra as provas que os delatores até agora não apresentaram. Paulo Roberto Costa não exibiu até agora qualquer documento que de alguma maneira sugira que ele, de fato, repassou, por meio do doleiro Alberto Youssef, R$ 2 milhões, em 2010, à então governadora Roseana Sarney, candidata à reeleição. E agora, segundo o seu advogado, a declaração do empreiteiro Ricardo Pessoa, segundo a qual repassou R$ 1 milhão para o então ministro de Minas e Energia, se perde também no vazio da falta de provas.
Agora, entra em cena o advogado e ministro do TCU, Raimundo Carreiro, maranhense de Fortaleza dos Nogueira, que foi secretário geral do Senado nas gestões presidenciais do senador José Sarney (PMDB) e que chegou à mais alta corte de contas do país também pelas mãos do ex-presidente da República. Segundo o jornal Folha de S. Paulo, o delator Ricardo Pessoa teria dito aos seus interrogadores que teria pagado R$ 1 milhão para Raimundo Carreiro mudar parecer contrário à licitação da Usina Nuclear de Angra 3, no valor de R$ 3,2 bilhões. O acerto teria sido feito com o advogado Tiago Cedraz, filho do atual presidente do TCU, Haroldo Cedraz. A Folha informa que, conforme depoimento de Pessoa, o parecer, que antes era contrário à validação da concorrência, foi mudado para uma posição favorável, beneficiando, além da UTC, Norberto Odebrecht, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez.
Seguindo o mesmo roteiro, os acusados negam peremptoriamente a tal falcatrua. Diante do precipício em foi colocado o seu pai, o ministro-presidente da Corte, o advogado Tiago Cedraz jura de pés juntos que não articulou o esquema e que vai “processar” Ricardo Pessoa. Na mesma linha, o ministro Raimundo Carreiro jura, também contrito, que não participou do esquema e não recebeu dinheiro algum. Jura também que mudou o parecer sobre a licitação de Angra 3 por razões técnicas, que nada teve a ver com os interesses das empreiteiras. E para demonstrar que não recebeu propina, fez uma declaração no mínimo ingênua à Folha: “Minha conta bancária está aberta para quem quiser ver”. Como se um corrupto cometesse a estupidez de depositar R$ 1 milhão de origem suja numa conta bancária.
O fato é que agora o senador Edison Lobão deve acionar seu advogado para colocar Ricardo Pessoa contra a parede, para provar ou retirar o que disse. O mesmo deve acontecer com ministro Raimundo Carreiro, que ficará numa situação delicada até que tudo seja definitivamente esclarecido.
PONTOS & CONTRAPONTOS
Roseana de fora
Nas 12 páginas em que Veja revela partes do depoimento em que o empreiteiro Ricardo Pessoa desenha o esquema de corrupção na Petrobras e em outros braços do Governo federal sob o comando do PT, o dono da UTC e chefão da quadrilha não citou uma única vez a ex-governadora Roseana Sarney (foto), como previram algumas vozes apressadas. Também os grandes jornais que reverberaram o material divulgado por Veja nada disseram que envolvesse a ex-governadora. Havia uma forte expectativa de que Pessoa matasse a cobra e mostrasse o pau em relação à ex-governadora, mas ele não o fez. O futuro de Roseana permanece entre uma declaração, reafirmada, do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, de que autorizou um repasse de R$ 2 milhões em 2010, e a afirmação, também reafirmada, do doleiro Alberto Youssef, de que não fez tal operação, ao que se soma a declaração de Roseana de que não houve tal acerto.
São Luís, 29 de Junho de 2015.