Críticas de Lula mexem com o PT do Maranhão

 

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Monteiro, Gonçalves e Dutra, líderes de fatias do PT que hoje estão separadas 

O mal-estar que tomou conta do PT em todo o país com as declarações do ex-presidente Lula segundo as quais o partido perdeu a utopia e hoje petista só pensa em cargo e em emprego atingiu muito fortemente o seu braço maranhense. Os petardos disparados pelo ex-presidente serviram para colocar as diversas alas do partido contra a parede, forçando-as a tomar posição definitiva quanto a seguir em frente desfiguradas como estão ou pisar no freio, engatar marcha à ré e retornar ao leito utópico que motivou a sua criação no início dos anos 80 do século passado.

Petistas maranhenses de todas as cores se sentiram duramente atingidos pelas palavras do seu mais importante líder. Os que seguem a corrente por ele liderada entraram em parafuso, porque brigaram por poder e cargos exatamente seguindo a orientação dos chefes maiores da agremiação. Os que não rezam no seu catecismo reagem criticando-o sob o argumento queesse pragmatismo que ele em tese condenou nasceu e ganhou forma ao longo dos oito anos em que ele comandou o país. E os que militam numa espécie de zona intermediária, não sendo nem Lula nem contrário a ele, acham que em meio às pancadas o partido pode encontrar o caminho da unidade.

A banda petista mais duramente atingida pelas palavras de Lula e pelo eco que seus adversários fizeram delas é a que formalmente comanda o partido no estado sob a liderança cansada, mas obstinada, do professor Raimundo Monteiro. Esse grupo enfrentou todos os desafios que uma facção pode enfrentar dentro de um partido. Para começar, teve de sufocar no armário da história décadas de oposição ferrenha ao Grupo Sarney para, por orientação de Lula e a ação implacável de Zé Dirceu, a ele se juntar, refazer seu discurso e mandando para o espaço o mote da utopia. A imposição da aliança foi tão violenta, que o partido teve de desfazer o que fez sua maioria, como a definição do apoio à candidatura de Flávio Dino (PCdoB) em 2010 e em 2014, para citar os exemplos mais visíveis. Esse grupo se dividiu, ainda que mantendo janelas abertas para conversar e atuar em conjunto em casos pontuais.

A outra banda, bem menor, mas muito maior em convicção e obstinação, preservou sua posição de esquerda e não engoliu a orientação da cúpula nacional e, por isso, não foi alcançada pela crítica de Lula, de quem já diverge há muito tempo. Nomes como o professor Francisco Gonçalves e o ex-deputado federal Domingos Dutra, por exemplo, não aceitaram a orientação do comando nacional e alimentaram a utopia hoje lembrada por Lula. Esse grupo se estilhaçou em várias correntes, tendo uma fatia abraçado projeto de poder do governador Flávio Dino (PCdoB) – secretário estadual de Desenvolvimento Social, o professor Gonçalves continua petista utópico, tanto que é hoje o responsável pelo mais ousado e abrangente programa do Governo Dino, o “Mais IDH”. E Domingos Dutra foi mais longe: depois de fazer até greve de fome na Câmara Federal contra a aliança do PT com o PMDB no Maranhão, rompeu com o partido, entrou no SD, tentou ampliar a divisão, mas acabou massacrado nas urnas; esteve no secretariado de Flávio Dino, mas antes de assumir divergiu, criticou e foi para casa. O grupo conta com o secretário estadual de Esportes, Márcio Jardim. E uma boa fatia da esquerda encontrou abrigo no PSOL, hoje comandado pelo ex-petista Haroldo Sabóia.

E o que chama mais atenção é que, fora seus militantes mais destacados, como o lulista Raimundo Monteiro e o não lulista Francisco Gonçalves, o PT do Maranhão é representado por dois parlamentares que aparentam pouca identificação com o partido: o deputado federal José Carlos Nunes Júnior, que ora se identifica como “José Carlos da Caixa” e ora como “José Carlos do PT”, mas que, ao que parece, nunca se moveu pela utopia evocada por Lula; e a discreta deputada estadual Francisca Primo, que prefere ficar bem distante da balaiada em que, pelas imposições da cúpula nacional, se transformou o PT do Maranhão.

A estocada de Lula, que tanto incomodou, poderá produzir um revés positivo: estimular as correntes a abrir diálogo e tentar reconstruir o PT que nasceu da luta contra a ditadura e da utopia evocada pelo ex-presidente.

 

PONTOS & CONTRAPONTOS

Encontro prazeroso

O titular da Coluna viveu ontem uma manhã especial. Visitou o Comitê de Imprensa da Assembleia Legislativa e ali encontrou companheiros que há tempos não encontrava. Reviveu momentos de 1987, quando, editor de Política de O Estado do Maranhão, participou, juntamente com Raimundo Borges (O Imparcial), Raimundo França (correspondente do Jornal do Brasil), Adenis Matias (Jornal de Hoje), Jorge Vieira (Jornal Pequeno) e Raimundo Pestana (Rádio Educadora), da fundação do Comitê, no velho palácio legislativo da Rua do Egito. Adenis Matias, jornalista aguerrida e querida de todos, foi o primeiro presidente. De lá para cá, muitos outros companheiros passaram por aquele espaço, hoje sob o comando experiente e ativo de Jorge Vieira, que continua fiel á tarefa de produzir diariamente o Informe JP. E o que mais fascina é que, devido à dinâmica da comunicação em todos os sentidos, com a multiplicação de canais de informação gerados pelo maravilhoso e assustador mundo virtual, o que antes era um grupo limitado de jornalistas é hoje um exército que garante a circulação mais democrática e acessível dos fatos processados jornalisticamente, por meio de jornais, TV, emissoras de rádios, portais e blogs. Foi, portanto, prazeroso reencontrar companheiros de outros tempos e conhecer pessoalmente colegas de gerações mais recentes. Encontros como o de ontem nos dá a certeza de que o jornalismo do Maranhão, agora multifacetado, vai seguir em frente.

 

Palavras generosas

Em meio ao encontro com colegas jornalistas e blogueiros, o titular da Coluna foi surpreendido pelo deputado Roberto Costa (PMDB), que na tribuna, antes de pronunciar seu discurso, registrou nossa presença no Comitê de Imprensa com palavras extremamente generosas. Nossa sincera gratidão.

 

São Luís, 25 de Junho de 2015.

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