Sem estrelas e com jovens motivados, bancada na Câmara Federal se mostrou a melhor das últimas décadas

 

A atual bancada do Maranhão na Câmara Federal é das melhores – se não a melhor – deste século e, sem nenhum favor, das últimas décadas. Incluindo as últimas do século passado. Sem nenhum nome excepcional – excetuando o deputado Sarney Filho (PV) pelos oito mandatos consecutivos e pela regularidade desse período -, os deputados federais maranhenses eleitos em 2014 são atuantes, tanto os que integram a base do governo, como o destacado Rubens Jr. (PCdoB), quanto os que militam “de acordo com a maré” e os posicionados firmemente na oposição. Quando necessário, funcionaram como bancada para pressionar a Esplanada dos Ministérios, sob a firme e tarimbada orientação do deputado Pedro Fernandes (PTB), ou como na base do “cada um por si”, como a aventura do deputado Weverton Rocha (PDT), que se licenciou por quatro meses para salvar a reputação da suplente Rosângela Curado. Os deputados maranhenses, em maior ou menor grau, estão envolvidos na guerra do impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), bem como no movimento que quer a cabeça do presidente da Casa, o indefectível deputado fluminense Eduardo Cunha (PMDB); também atuam nos bastidores, tentam legislar com projetos em tramitação e fazem as vezes de representantes pressionando por verbas, emendas e obras para o estado. A Coluna buscou informações e chegou à seguinte avaliação de cada um:

hildo rocha 3Hildo Rocha (PMDB) – Foi o mais ativo membro da bancada, principalmente se levado em conta o fato de que é um estreante. Participou de 121 das 125 sessões deliberativas realizadas na Câmara Baixa, tendo feito 129 discursos sobre temas variados, mas a maioria relacionada com o Maranhão, com duras críticas ao governador Flávio Dino (PCdoB) e enaltecido o Governo de Roseana Sarney (PMDB). Destacou-se na guerra política nacional como aliado de ponta do presidente Cunha, que o elegeu como um dos seus “lanceiros”. A aproximação com Cunha lhe valeu várias vantagens, como a presidência da Comissão Especial da Reforma Tributária, que lhe deu grande visibilidade. Manifestou-se firmemente contra o arquivamento do projeto da refinaria Premium, brigou pela conclusão da BR-135 e por muitos outros benefícios para o estado. Travou embates com membros do PT, atuou várias vezes abertamente como partidário de Eduardo Cunha dentro da bancada do PMDB, participou de várias comissões, encerrando o ano com uma posição não muito clara em relação ao futuro da presidente Dilma Rousseff.

rubens jr.Rubens Jr. (PCdoB) – Marinheiro de primeiro mandato federal, o jovem deputado comunista ampliou em Brasília o que aprendeu em dois mandatos de deputado estadual. No início da legislatura deixou claro que seu mandato teria dois vieses: apoiar incondicionalmente o Governo Flávio Dino e defender a todo custo, mas dentro das regras, o Governo Dilma Rousseff. Ao longo do ano fez 111 discursos, participou de mais de 110 sessões deliberativas e marcou presença em praticamente todos os movimentos da bancada pressionando por recursos para o Maranhão, como conclusão da BR-135 e o protesto pela Refinaria Premium. Mas foi no cenário político, como vice-líder da bancada do PCdoB, que seu mandato ganhou dimensão nacional. Foi oficial destacado nas frentes de luta política “anti-Cunha”  e “pró-Dilma”, atuando fortemente na articulação política. Sua ação foi tão intensa que ganhou do seu partido liberdade para atuar na formulação de duas das quatro consultas ao Supremo Tribunal Federal sobre o rito do processo de impeachment. Foi por ele assinada a consulta que levou o STF a realizar a histórica sessão que definiu o ritual. Encerra o primeiro ano como aliado de ponta da presidente Dilma e integrante do chamado “alto clero” da Câmara Federal.

pedro fernandes 4Pedro Fernandes (PTB) – Repetiu em 2014 o desempenho dos outros quatro mandatos. Ocupou a tribuna para fazer 20 discursos, relacionados com os mais variados temas, a começar pelos problemas – como o estado em que ainda se encontra a duplicação da BR-135, por exemplo – e as maravilhas – os dotes naturais e o potencial turístico  do Maranhão. De modo geral, sua atuação se dá em dois pilares, o trabalhismo, que é o mote central do seu partido, e a educação, que é assunto que domina. Mas isso não o impediu de “peitar” o presidente Eduardo Cunha, que ameaçou de cortar o ponto de deputados e de bater forte no governo central pelo corte no orçamento da Saúde. O ponto mais forte do seu ano parlamentar foi a sua eleição para coordenador da bancada maranhense, função na qual se desdobrou, operando para mobilizar os deputados sempre que algum assunto de interesse do estado esteve em pauta. Conhecido há anos como um dos deputados que menos faltam, participou de 119 das 125 sessões deliberativas, tendo justificado plenamente as seis ausências. É contra o impeachment.

eliziane 1Eliziane Gama (Rede) – Dona da maior votação para a Câmara Federal, a deputada não decepcionou. Ao contrário, surpreendeu os colegas e os membros do seu partido inicial (PPS), que se encantaram com a sua desenvoltura, sua disposição para ocupar espaço e suas intervenções – pronunciou 94 discursos e participou de 119 das 125 sessões deliberativas. O PPS lhe assegurou a movimentação, escalando-a para tarefas especiais, como participar da CPI da Petrobras, onde teve um desempenho acima da média. Na tribuna, se posicionou quase inteiramente contra as propostas do governo, fazendo coro com a oposição. Criticou o projeto de repatriação de dinheiro não declarado, se disse indignada com a violência, reclamou duramente o encerramento da CPI da Petrobras, que não levou a lugar algum; e se declarou descontente com a definição do rito do impeachment pelo Supremo. Cometeu o erro político de sair do PPS e entrar na Rede Sustentabilidade, onde não alcançou o espaço que tinha no PPS. Mas no geral foi um grande destaque na bancada.

ze carlos do ptZé Carlos (PT) – Chegou à Câmara Federal embalado por um bom mandato de deputado estadual e manteve o ritmo. Desde logo se embrenhou na bancada do PT, atuando muitas vezes com mais empenho do que petistas conhecidos. Durante o ano fez 12 discursos, todos com pé e cabeça, enfocando problemas do Maranhão, a crise econômica nacional, os programas relacionados com habitação popular – que é seu mote principal -, travou embate com um deputado sulista, Valdir Colatto, que falara em separação das duas regiões, atuou nas comissões técnicas e participou de 110 sessões deliberativas. Na guerra política, foi um dos petistas que assinou o pedido de cassação do presidente Eduardo Cunha e participou ativamente de todas as ações do partido a favor do governo e da presidente Dilma Rousseff. Para um observador, saiu-se melhor do que muitos petistas mais conhecidos no cenário nacional.

joão marceloJoão Marcelo (PMDB) – Chegou à Câmara Federal estreante na vida parlamentar, mas levando na bagagem os ensinamentos e os exemplos do senador João Alberto de Souza (PMDB). Fez 15 discursos sobre temas diversos, um deles fazendo um balanço das ações do Governo Roseana Sarney. Agradeceu ao eleitorado, se manifestou em favor do Conselho Federal de Psicologia, sua profissão, apoiou a decisão do Supremo de descriminalizar o uso de drogas, criticou duramente o que chamou de “abandono” de São Luís, principalmente o Centro Histórico e as áreas periféricas e defendeu investimentos em Bacabal. Apresentou projeto de lei propondo o manuseio sustentável das palmeiras do babaçu. Participou de 112 das 125 sessões deliberativas da Câmara e atuou intensamente nas comissões temáticas das quais é membro. No campo político, alcançou o primeiro plano quando participou, como vice-líder, das articulações para devolver ao deputado fluminense Leonardo Picciani a liderança do PMDB na Casa, atropelando o esquema montado pelo vice-presidente Michel Temer e Eduardo Cunha. Terminou o ano com diploma político.

sarney filho 7Sarney Filho (PV) – Um dos cardeais da Câmara, é, de longe, o mais experiente e um dos mais atuantes deputados federais do Maranhão, que participa de todos os momentos da Casa, tanto no campo legislativo quanto no político.  Fez 115 pronunciamentos durante o ano, a maioria deles defendendo ou criticando situações relacionadas com o meio ambiente, intensificando a sua condição de líder do Partido Verde na Casa. Participou de 109 sessões deliberativas. Atuou como articulador na guerra política como aliado do Palácio do Planalto contra a tentativa de destituição da presidente Dilma Rousseff, que considera um movimento politicamente sem base. Teve atuação forte na defesa de correções para o Código Ambiental e participou ativamente da reforma política. Repetiu o bom desempenho de outros anos.

marrecaJúnior Marreca (PEN) – Foi um estreante regular, que se valeu da sua experiência de prefeito de Itapecuru Mirim duas vezes, de presidente da Famem e de secretário de Estado para se movimentar na Câmara Federal. Ali fez 19 discursos nos quais criticou a situação da duplicação da BR-135, saudou os festejos de São Raimundo Nonato em seu município, elogiou o trabalho da Polícia Federal nas ações como a Operação Lava Jato, entre outros temas, como violência e crise econômica. Se aproximou do presidente Eduardo Cunha, a quem elogiou em discurso  durante homenagem que o PMDB fez ao presidente da Câmara Federal. Participou de 96 das 125 sessões deliberativas, justificando 28 ausências.

juscelinoJuscelino Filho (PRP) – Outro estreante na vida parlamentar sem passar pelo estágio estadual, o jovem deputado de Vitorino Freire ocupou a tribuna em 10 ocasiões para falar de temas variados, como o Dia dos Médicos, o aniversário de Vitorino Freire, críticas duras ao prefeito de Santa Inês –  Ribamar Alves (PSB), mortes por agua contaminada em regiões do estado e o problema da fome em Belágua, Fernando Falcão e Marajá do Sena, por exemplo. Participou de 121 das 125 sessões deliberativas realizadas na Casa. Foi apontado como aliado do presidente Eduardo Cunha, mas não se manifestou a respeito. Politicamente tem dado sinais de que é contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

waldir 1Waldir Maranhão (PP) – Terminou o ano como o mais conhecido deputado federal do Maranhão, não exatamente por suas qualidades políticas ou desempenho como legislador e parlamentar, mas por ser o vice-presidente da Câmara Federal, que pode ascender à presidência, se o seu aliado e líder Eduardo Cunha for cassado por corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Experiente na movimentação nos bastidores, Maranhão vem tentando sobreviver às pancadas que tem recebido do Ministério Público Federal e do Ministério Público Eleitoral, que o acusam de vários crimes. No dia a dia, fez 20 discursos sobre diversos temas, entre eles o problema da segurança no Maranhão e as dificuldades para o setor educacional. Nos bastidores, conseguiu mudar o comando do Iphan no Maranhão. E movimentou o Congresso Nacional com uma sessão especial em que homenageou o Bumba Boi, bancando uma apresentação do Boi de Morros nos salões da Câmara Federal. Mas foi no campo político que Maranhão se destacou neste ano. Primeiro por sua surpreendente eleição para vice-presidente da Câmara, e depois pela sua aliança com Eduardo Cunha, com posição indefinida sobre o impeachment.

josé reinaldo 1José Reinaldo (PSB) – Ex-governador e ex-ministro, o deputado socialista faz parte de um time especial de parlamentares de larga experiência e que atuam mais nos bastidores e nas comissões, onde suas opiniões pesam por serem, via de regra, balizadas. Ao longo do ano, José Reinaldo pronunciou 24 discursos, nos quais tratou de assuntos como o impeachment da presidente Dilma, que ele não defende claramente, mas acha que a iniciativa é legítima e tem de ser levada até o fim; criticou também a política econômica do governo e manifestou preocupação com a conjuntura nacional. Nas suas articulações, defendeu um pacto nacional contra a crise e defendeu as belezas do Maranhão, a implantação de um Instituto de Tecnologia da Aeronáutica (ITA) no estado, entre outras propostas. Esteve presente em muitas das reuniões de bancadas e apoiou pleitos para a liberação de recursos para o Maranhão, Participou de 108 das 125 sessões, tendo justificado as 15 ausências. Suas avaliações mais recentes vaticinam que o governo do PT não tem solução.

castelo 2João Castelo (PSDB) – É um dos deputados mais respeitados, exatamente pela sua experiência acumulada de governador, senador, prefeito e várias vezes deputado federal. Fez 15 discursos, nos quais criticou duramente os cortes no Orçamento da União que, segundo avalia, prejudicam estados e  municípios; criticou também, e enfaticamente, a atual administração de São Luís. Nos pronunciamentos feitos ao longo do ano se bateu contra o corte de verbas para as universidades públicas e manifestou várias vezes preocupação com os rumos da crise política e da crise econômica. Não se manifestou sobre impeachment, mas deve seguir a posição do seu partido, que lidera o movimento pela derrubada da presidente. Também não participou diretamente da briga interna da Câmara Federal, mas acha que Eduardo Cunha não tem mais condições de comandar a instituição.

aluísio mendesAluísio Mendes (PRTB) – No seu ano de estreia como deputado federal, o agente  federal Aluísio Mendes foi contido em relação à tribuna – fez apenas quatro discursos -, mas foi muito ativo na movimentação de plenário e, principalmente, nas articulações nos bastidores. Participou de 117 das 125 sessões deliberativas, justificando suas oito ausências. Mendes foi à luta para se firmar como político e para definir um lado. Chegou à CPI da Petrobras e usou sua experiência de policial nos depoimentos, posicionando-se sempre na contramão da oposição. Apresentou nada menos que 214  propostas como requerimentos, encaminhamentos, projetos e outras iniciativas. Ganhou espaço também por sua desenvoltura de político que procura consolidar sua independência, sem, porém, romper traumaticamente com o grupo de origem. Terminou o primeiro ano passando a ideia de que já é independente.

victor 1Victor Mendes (PV) – Fez um bom primeiro ano de mandato federal. Sem fugir à linha ambientalista do seu partido, fez 47 pronunciamentos,  tratando de temas como a Baixada Maranhense, do Município de Pinheiro, dos problemas do Maranhão, do drama nacional por causa da violência, tendo feito ainda inúmeros alertas sobre clima, água, poluição e outros problemas ambientais. Participou de 118 sessões deliberativas, só faltando a sete, cinco das quais justificou plenamente. No campo político, Victor Mendes se manteve na linha do seu partido, contrário, portanto, ao pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, mas manifestando-se descontente com a política econômica e com os tropeços da crise política. Fez um primeiro ano regular.

junior verde 2Cléber Verde (PRB) – Um dos mais ativos deputados da bancada maranhense, Cléber Verde teve um primeiro ano muito agitado. Para começar, foi escolhido pelo presidente Eduardo Cunha para ser o diretor de Comunicação da Câmara Federal, o que lhe deu o controle de todo o poderoso sistema de divulgação da Casa – TV, rádios (programas e Voz do Brasil), jornal, internet e serviços de assessoramento. Articulou a Frente Mista da Pesca, reunindo deputados federais e senadores, para se contrapor à política adotada pelo governo de mergulhar profundamente na investigação da concessão do seguro defeso, cujo pagamento acabou suspenso por falta de dinheiro e por suspeita de fraude graúda. Parlamentar tarimbado no jogo político, não defendeu abertamente o aliado Eduardo Cunha, como também não abriu o jogo sobre o pedido de impeachment. Ao longo do ano, fez 23 pronunciamentos sobre temas diversos e uma série de proposições, e participou de 112 sessões deliberativas, tendo justificado as 13 ausências.

alberto filho 1Alberto Filho (PMDB) – Iniciou o mandato tardiamente, depois que a Justiça mandou para casa o ex-prefeito de Porto Franco, Deoclídes Macedo. Daí ter feito apenas cinco discursos, tratando de temas como BR-135, e o que para ele foi o bom desempenho do prefeito de Bacabal, José Alberto, seu pai; fez críticas à paralização das obras do hospital regional de Bacabal, e defendeu o financiamento empresarial de campanha. Participou de 99 sessões deliberativas, justificando sete faltas e não justificando seis. Ao assumir o mandato, ficou muito próximo do presidente Eduardo Cunha, sendo visto por alguns como membro da sua tropa de choque. Teve, porém, o cuidado de não se expor e, ao mesmo tempo, sinalizar que é contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

André FufucaAndré Fufuca (PEN) – Teve desempenho expressivo no primeiro mandato federal. Ocupou espaço na bancada do PEN, foi designado para comissões técnicas e surpreendeu ao chegar à presidência da CPI das Próteses, cargo em que ganhou certa visibilidade. Se aproximou muito do presidente Eduardo Cunha, que lhe abriu as portas para que ocupasse mais espaço, sendo um dos seus defensores no processo de cassação. Fez sete pronunciamentos durante o ano, um deles reclamando fortemente da partilha de recursos entre a União, os Estados e os Municípios, que considera injusta; defendeu também a contratação de mais médicos para os hospitais públicos. Participou intensamente das articulações comandadas por Eduardo Cunha, mas terminou o ano avaliando que pode estar no caminho errado.

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 Weverton Rocha (PDT) – Um dos mais atuantes parlamentares maranhenses, Weverton teve forte presença no plenário, onde por várias vezes “bateu de frente” com o presidente Eduardo Cunha. Figura de proa no PDT nacional, o deputado articulou para que o PDT voltasse à seara governista e se posicionasse contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff, sem prejuízo das criticas à política econômica recessiva, principalmente no campo rabalhista. No segundo mandato, Rocha conseguiu lugar no chamado alto clero, sendo ouvido como vice-líder da bancada pedetista. E dedicou parte do seu tempo a fortalecer o PDT no estado. Saiu de licença numa manobra arrojada para dar lugar a Rosângela Curado por 120 dias, numa contundente resposta ao PCdoB.

 

São Luís, 26 de Dezembro de 2015.

 

 

 

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