A maioria dos eleitores fez uma escolha, e essa decisão precisa ser respeitada, como manda o princípio fundamental da democracia. Essa posição foi externada e defendida ontem pelo presidente da Assembleia Legislativa, deputado Othelino Neto (PCdoB), ao avaliar, em discurso na Casa, o desfecho do processo eleitoral que colocou o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, na presidência da República. Juntando serenidade e firmeza, o chefe do Poder Legislativo destacou que o presidente eleito recebeu 55% dos votos válidos, estando, portanto, legitimado para assumir o comando do País. Observou, por outro lado, que seu adversário, Fernando Haddad (PT), recebeu 45% dos votos válidos, uma votação suficiente para lembrar ao presidente eleito que quase metade dos brasileiros não o respaldaram nas urnas. Assinalou que, mesmo assim, o novo presidente terá de governar para todos, como manda a democracia, convivendo inclusive com uma forte Oposição, que deve primar pela preservação do estado democrático de direito.
O presidente da Assembleia Legislativa defendeu que o seu partido, o PCdoB, deve fazer uma Oposição “responsável e democrática”. “Nós, do PCdoB, como respeitamos os nossos eleitores, entendemos o recado das urnas. Ficaremos vigilantes para garantir o estado democrático de direito, preservando os avanços sociais obtidos a duras penas pelo povo brasileiro e para que ninguém seja discriminado por raça, por religião, por orientação sexual, ou por ter posturas e opiniões divergentes das posições majoritárias”, enfatizou.
Othelino Neto destacou a vitória de Fernando Haddad no Maranhão, que lhe deu 73% dos votos, a exemplo do que aconteceu na Região Nordeste, onde o candidato do PT foi amplamente vitorioso. Para ele, o presidente eleito deve cumprir o compromisso de “governar para todos”, dando aos estados do Nordeste o mesmo tratamento que dispensará aos demais estados da Federação. E demonstrou preocupação com algumas promessas do presidente eleito: “É um caso talvez ímpar, em que precisamos torcer para que parte das promessas feitas hoje pelo presidente eleito, não sejam cumpridas, porque só assim o país terá a paz necessária para que possamos viver bem”.
E dentro da concepção política segundo a qual a decisão da maioria é irreversível e deve ser respeitada, o presidente da Assembleia Legislativa disse torcer para que o futuro Governo devolva normalidade política ao País, com gestos de pacificação: “Que Bolsonaro possa, principalmente, pacificar o Brasil. Todos precisam ser respeitados e bem cuidados, independente de terem lhe conferido o voto ou não. Quando passa a eleição, o governante não é só governante de quem o elegeu, é governante de todos. Foram 47 milhões de votos para Haddad, o que é uma quantidade expressiva e sinaliza que o presidente eleito precisa reconhecer que tem uma banda da população que precisa ser vista e respeitada”.
Nesse contexto, o presidente do Poder Legislativo definiu como um fato positivo o Maranhão ter conferido 73% dos votos ao candidato Fernando Haddad. “Mais de um milhão de votos à frente do segundo colocado no estado. E o Nordeste, que muitas vezes é discriminado e considerado como uma região menos informada foi quem deu um sinal para o Brasil, dando ao Haddad uma diferença de mais de 10 milhões de votos”, analisou.
A manifestação do presidente da Assembleia Legislativa traduz a média do pensamento dos que veem o estado democrático baseado na escolha pelo voto direto e secreto como o único capaz de comportar o pluralismo e assegurar o funcionamento integral das instituições sob o governo de qualquer viés ideológico e dos que compreendem que o choque dos contrários dentro dos limites civilizados tem sido o motor político da civilização. Daí a avaliação de que a escolha do presidente da República pelo voto direto é um fato positivo e saudável, ainda que o escolhido seja embalado por tantas controvérsias como é o caso do presidente eleito Jair Bolsonaro.
PONTO & CONTRAPONTO
Roberto Rocha se afasta do PSDB tradicional e se alinha ao “novo” puxado por João Dória
Mesmo tendo “liderado” o desastre do PSDB nas urnas maranhenses, o senador Roberto Rocha se movimenta para sobreviver dentro do partido. Beneficiado com a vantagem de ser detentor de um mandato importante, o parlamentar maranhense decidiu andar na contramão dos líderes tradicionais do partido ao declarar apoio total ao presidente eleito Jair Bolsonaro. Em meio aos escombros do PSDB, os tucanos e todo o mundo político nacional pergunta se o partido vai apoiar ou fará Oposição ao Governo de Jair Bolsonaro. Líderes tucanos fundadores do ninho, a começar pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e o ex-governador paulista e atual presidente da agremiação Geraldo Alckmin, não aprovam qualquer aproximação com o futuro Governo, mas são desafiados pelos líderes emergentes da agremiação, liderados pelo governador eleito de São Paulo, João Dória, e pelo governador eleito do Rio grande do Sul, Eduardo Leite, que já declaram expressamente apoio ao presidente eleito Jair Bolsonaro. Roberto Rocha, que voltou ao PSDB pelas mãos de Geraldo Alckmin, está se alinhando à corrente que começa a se formar liderada por João Dória. Nos bastidores, há quem diga que o senador vai tentar de todas as maneiras manter o controle do partido no estado, para tê-lo como instrumento para fazer Oposição cerrada ao governador Flávio Dino, descartando uma aliança com os novos senadores Weverton Rocha (PDT) e Eliziane Gama (PPS). O problema é que outras forças do PSDB estão se articulando para brecar a “bolsonarização” do partido, o que poderá resultar num racha que pode dar origem a uma nova agremiação, esta alinhada ao futuro Governo, tendo Roberto Rocha como um dos fundadores. Parece ficção, mas é o que está se desenhando nos subterrâneos da vida partidária.
Oligarquia I
Roseana Sarney diz que a “oligarquia” está fora
Causou agitação nos bastidores da política estadual um vídeo em que a ex-governadora Roseana Sarney (MDB) reage a uma provocação quando saía do Colégio Santa Teresa, no Domingo (28), após cumprir a obrigação cidadã de votar. Descontraída e acompanhada pelo irmão, deputado federal Sarney Filho (PV), Roseana Sarney foi alcançada por um anônimo, que gritou, em tom de deboche:
– Fora, oligarquia!
Sem se alterar, a ex-governadora virou-se e respondeu, num tom que pareceu declaração de fato consumado:
– Já estamos fora.
E seguiu em frente, deixando no ar a impressão de que, pelo menos ela própria, está mesmo saindo de cena.
Oligarquia II
Em 2006, a então candidata ao Governo falou em “perpetuar a oligarquia”
A reação de Roseana Sarney à indagação debochada de Domingo ao sair do Colégio Santa Tereza foi o oposto de uma declaração que ela deu a uma jornalista no mesmo local após votar nas eleições de 2006, quando disputou com Jackson Lago (PDT) e foi derrotada. Naquele 7 de Outubro, a então senadora foi votar levando junto a filha e dois netos, ainda crianças. Nas mesmas circunstâncias, ouviu de uma jornalista visitante como se sentia na condição de membro de uma oligarquia. Bem humorada, Roseana Sarney respondeu:
– Muito bem.
E apontando para os netos, completou, em tom de ironia:
– Eles estão aqui para aprender como perpetuar a oligarquia.
A jornalista ficou sem graça.
São Luís, 30 de Outubro de 2018.