
Brandão, enquanto Felipe Camarão
pode migrar para o PSB
Em meio à tensa movimentação que pode tirar governador Carlos Brandão, e grande parte do seu grupo, do PSB, levando-os a migrar para o MDB, se a mudança for consumada, o braço maranhense do PT vai avançando numa posição delicada, mas bem definida. O partido do presidente Lula da Silva não abraçou o projeto de candidatura do vice-governador Felipe Camarão (PT) ao Governo do Estado, e vem emitindo sinais fortes de que se encontra caminhando a passos largos para firmar um acordo com o chefe do Executivo em torno da pré-candidatura do secretário de Assuntos Municipalistas, Orleans Brandão (MDB). O PT tem várias razões para se posicionar alinhado com o governador Carlos Brandão, entre elas o espaço generoso que ocupa no Governo.
O PT do Maranhão emitiu todos os sinais de alinhamento com o governador Carlos Brandão desde o processo eleitoral interno do qual Francimar Melo saiu reeleito presidente. Ele liderou a corrente que tem como referência o ex-vice-governador e ex-conselheiro do TCE Washington Oliveira, hoje secretário-chefe da Representação do Governo do Maranhão em Brasília. Ele e seu grupo montaram um rolo-compressor que esmagou nas urnas os candidatos das várias correntes do partido que entraram na disputa, da qual Francimar Melo saiu reeleito com mais de 60% dos votos, descartando a necessidade de segundo turno. E não é segredo dentro do partido que o grupo liderando por Francimar Melo com o apoio de Washington Oliveira contou com uma discreta, mas efetiva, torcida do Palácio dos Leões.
O vice-governador Felipe Camarão participou do processo de eleição interna do PT sinalizando que não se envolveria diretamente com nenhum candidato, exatamente porque o seu objetivo era agregar o partido em torno do seu projeto de candidatura. Com o resultado da eleição, o comando reeleito tentou passar uma mensagem de que apoiaria a candidatura do vice-governador, mas logo em seguida recolheu suas bandeiras. Francimar Melo foi a Brasília, conversou com a direção nacional e voltou dizendo que não havia tratado de candidaturas, passando, assim, um recado direto ao vice-governador Felipe Camarão: nada está decidido em relação ao seu projeto de candidatura.
Com a crise no PSB, que deve sair do controle do governador Carlos Brandão nos próximos dias, para abrigar a chamada corrente dinista, e com o PT caminhando para confirmar o seu alinhamento ao projeto de candidatura de Orleans Brandão, o caminho natural do vice-governador Felipe Camarão será migrar para o PSB e disputar o Governo do Estado pela legenda socialista.
O PT integra a Federação Brasil Esperança, juntamente com o PCdoB e do PV. Pelo que está sendo desenhado, o PV, comandado pelo ex-deputado estadual Adriano Sarney, juntará forças com o PT, levando assim a Federação para a base da pré-candidatura de Orleans Brandão. Ao se juntarem, PT e PV isolarão o PCdoB, levando o deputado federal Márcio Jerry a deixar a legenda comunista e migrar para o PSB, um movimento que já teria sido acertado com o comando nacional da agremiação socialista. O ingresso de Márcio Jerry no PSB compensaria a saída do deputado federal Duarte Jr. (PSB), que estaria inclinado a seguir com o governador Carlos Brandão para o MDB ou desembarcar em outra legenda de centro.
Nesse contexto, o PT seguirá sem problemas para o alinhamento com o governador Carlos Brandão apoiando Orleans Brandão. Por se tratar de política, não se descarta uma reviravolta que possa alterar radicalmente esse cenário, obrigando o PT a mudar de posição. Mas a julgar pelas declarações do governador Carlos Brandão confirmando sua permanência no cargo e a determinação com que vem se manifestando a respeito da pré-candidatura do secretário de Assuntos Municipalistas, o PT deve seguir nessa toada em direção às urnas.
PONTO & CONTRAPONTO
Entrevista de Brandão ao Metrópoles sobre relação com Dino: um relato honesto e sem nenhuma surpresa
Repercutiram fortemente, ontem, no meio político e fora dele, as declarações do governador Carlos Brandão em entrevista concedida ao portal de notícia Metrópoles. Ele falou de vários assuntos – ações de governo, tarifaço, etc. -, mas o que causou frisson mesmo foi o que disse a respeito da sua relação com o ex-governador e hoje ministro do Supremo Tribunal Federal Flávio Dino, hoje ministro do Supremo Tribunal Federal STF.
Carlos Brandão fez um relato verdadeiro e honesto sobre a sua aliança com Flávio Dino, que começou em 2006, quando ele, Carlos Brandão, cedeu várias das suas bases eleitorais ao ex-juiz federal que decidiu entrar na política como candidato a deputado federal. O apoio do então chefe da Casa Civil do Governo Zé Reinaldo foi decisivo para Flávio Dino e os dois se elegeram deputados federais e cumpriram o mandato alinhados. Em 2010, Carlos Brandão foi para uma bem-sucedida reeleição, enquanto Flávio Dino, depois de haver fracassado na sua tentativa de ser prefeito de São Luís em 2008, disputou o Governo, não se deu bem e ficou sem mandato. Em 2014, Flávio Dino se candidatou novamente e escalou o então deputado federal Carlos Brandão (PSDB) para vice. A chapa foi eleita e reeleita em 2018 em turno único. Em 2022, Flávio Dino renunciou passando o Governo para Carlos Brandão, que se reelegeu em turno único, enquanto Flávio Dino foi para o Senado com uma votação retumbante. Os dois continuaram a relação política e institucional quando o senador Flávio Dino foi ministro da Justiça até sua saída da política para ser ministro do Supremo, em fevereiro de 2024.
Foi um relato simples, sem falseamento, como o preto no branco, sem qualquer fato novo.
Carlos Brandão relatou, com mesma, naturalidade – só com uma pequena dose de ironia nas declarações -, o tom quando contou a mudança de comportamento do grupo ligado a Flávio Dino, que não entendeu que o Governo era outro, que as regras eram outras e os espaços seriam outros, apontando esse choque de realidade como o motivo de insatisfação e do afastamento e do rompimento, que se tornou fato consumado com a sua decisão de permanecer no cargo e impedir a ascensão do vice Felipe Camarão, por ele apontado como membro do grupo oposicionista. Em resumo: o governador Carlos Brandão fez um relato íntegro da sua relação com o hoje ministro da Suprema Corte.
Nenhuma surpresa no que falou.
Saída do Republicanos deixa Eduardo Braide quase sem base partidária
Se, de fato, estiver planejando entrar na corrida ao palácio dos Leões, o prefeito de São Luís, Eduardo Braide (PSD), deve estar montando uma estratégia arrojada, que certamente não incluirá o apoio de um conglomerado de partidos. Isso ficou claro depois que o Republicanos, comandado pelo deputado federal Aluísio Mendes, que estava na sua base, migrou com armas e bagagem para a aliança que sustenta o projeto de candidatura do secretário de Assuntos Municipalistas, Orleans Brandão (MDB).
No momento, além do seu partido, o prefeito de São Luís conta apenas com um aliado, o deputado federal Cléber Verde, que comanda o MDB na Capital, distanciado da cúpula estadual. Mas mesmo essa aliança poderá ser desfeita com a consolidação da pré-candidatura de Orleans Brandão, que é o candidato do partido.
Nesse contexto, é difícil imaginar que o deputado federal Cléber Verde, um político experiente nesse jogo, permaneça como quadro “rebelde”, se posicionando na contramão da direção estadual do MDB. Tudo indica que Cléber Verde e seu filho, o vereador Cléber Verde Filho, sairão da base de Eduardo Braide para apoiar o candidato do MDB ao Governo.
É o que manda a lógica.
São Luís, 30 de Julho de 2025.