Os fatos que movimentaram o meio político na semana passada contribuíram muito para o desenho do cenário sucessório no Maranhão, que já começa a ganhar traços e cores com alguma nitidez. Dois deles se diferenciaram dos demais, por rascunharem caminhos em dois campos da disputa sucessória. O primeiro foi o esforço em vão do PDT para convencer o mundo de que o PT pode apoiar a candidatura do senador Weverton Rocha ao Governo do Estado. O outro foi a informação – não confirmada nem desmentida – de que a chapa majoritária do PSD, a ser encabeçada pelo ex-prefeito Edivaldo Holanda Jr., não terá candidato a senador, com a possibilidade de o candidato a governador declarar apoio à candidatura do governador Flávio Dino (PSB) à Câmara Alta. As duas situações, distantes em matéria de seara partidária e envolvendo pré-candidaturas diferentes, tem um ponto comum: o poder de fogo do governador Flávio Dino.
Os esforços de porta-vozes do PDT para mostrar alguma possibilidade de o PT vir a apoiar a candidatura do senador Weverton Rocha ao Governo do Estado ocuparam parte do noticiário, mas se revelaram improdutivo. O melhor exemplo foi a tentativa de usar o ex-ministro José Dirceu com esse objetivo. José Dirceu veio ao maranhão de férias, hospedou-se na residência de veraneio do senador Weverton Rocha, deslocou-se depois para São Luís, onde participou de ato do PT não relacionado com sucessão, e fez uma inexplicável visita à Famem – o rico histórico político do petista não registro vínculo seu com municipalismo. Em meio a essa movimentação, a presidente nacional do PT, Gleise Hoffmann, provocada pelo blog Atual 7, mandou um recado direto: José Dirceu veio ao Maranhão em viagem particular, não pertence à direção nacional e não falaria pelo partido. Numa batida mais forte, o presidente do PT no Maranhão, Augusto Lobato, fulminou as investidas do PDT declarando, em vários momentos, que o partido do ex-presidente Lula da Silva caminha para apoiar a candidatura do vice-governador Carlos Brandão (PSDB).
A má semana para o projeto pedetista começou com a improdutiva incursão do presidente nacional do partido, Carlos Lupi, em São Luís, onde tentou em vão convencer o governador Flávio Dino a declarar apoio ao senador Weverton Rocha. Foi embora dizendo que “temos de ganhar o coração do governador”. Ganhou, claro, o direito de continuar tentando. O que significa dizer que o governador Flávio Dino tem poder decisório nesse jogo.
A decisão – não confirmada nem desmentida, vale repetir – dos comandos nacional e regional do PSD de atender a pedido do seu virtual candidato a governador, ex-prefeito Edivaldo Holanda Jr., para não lançar candidato a senador, dando-lhe abertura para declarar apoio à candidatura do governador Flávio Dino ao Senado configura um fato inédito. É certo que o governador não declarará apoio à candidatura do ex-prefeito, mas Edivaldo Holanda Jr. dá uma demonstração de honestidade política colocando na mesa o apoio decisivo que recebeu de Flávio Dino nas duas vezes em que disputou a Prefeitura de São Luís, e de ter-lhe virado as costas não atendendo ao chamamento para apoiar a candidatura de Duarte Jr.. É uma dívida gigantesca, que o ex-prefeito pretende pagar em parte reduzindo o plantel de adversários do governador na corrida senatorial.
Essas duas situações, a primeira indireta, e a segunda explícita, dão uma dimensão precisa do que é o poder de fogo político do governador Flávio Dino. E a explicação está num conjunto de fatores, sendo o primeiro deles o fato de o governador praticar uma política com visível e sólida base ética, com fidelidade a princípios e respeito às alianças partidárias, apostando sempre em candidaturas de consenso. O outro fator é que Flávio Dino abre espaço para aliados, realizando um Governo de coalizão, mas não usa a máquina como moeda de troca. O que mostrou até aqui foi uma prática política diferenciada, que lhe dão estatura para ser decisivo em situações como essas.
PONTO & CONTRAPONTO
PP vai para a Casa Civil e continuar apoiando Governo, mas sem abrir portas para Bolsonaro
A ida do presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira, para a Casa Civil, e mesmo levando em conta o fato de que o seu segundo maior líder, o presidente da Câmara Federal, deputado Arthur Lira, não escancara as portas do partido para abrigar o presidente Jair Bolsonaro e sua turma, mesmo tendo ele declarado amor pelo Centrão. Há vozes dentro da agremiação que defendem o apoio ao Palácio do Planalto e que concordam que a pedra seja mantida sobre os pedidos de impeachment. Mas não querem nem saber da hipótese de serem colegas de partido do presidente. Os argumentos são fortes, e começam com a lembrança do que Jair Bolsonaro fez com o PSL, o qual tentou tomar de assalto, mas teve o ataque duramente repelido. Também lembram o que o Partido da Mulher Brasileira, que preconceituosamente foi convencido a mudar de nome e de comando para recebê-lo com sua tropa, mas a tentativa de domínio gerou uma grave crise interna, que acabou por inviabilizar a “invasão” bolsonarista. E finalmente, o Patriotas, que rachou com a aproximação do presidente e seus seguidores, tornando fracassada a terceira tentativa de encontrar um partido num intervalo de três meses. Em relação ao PP, seus principais líderes ainda não se manifestaram sobre aceno do presidente da República, mas na turma do miolo pepista há vozes dizendo em alto e bom tom que a aliança com Jair Bolsonaro termina com o apoio no Congresso Nacional. No Maranhão, o deputado André Fufuca, que preside o braço local e tem voz de peso no comando nacional, não parece nem um pouco interessado em entregar sua fonte de poder ao senador Roberto Rocha, como especulam algumas fontes.
Rayssa Leal, mais do que um fenômeno, um exemplo
A Coluna rende sinceras homenagens à skatista imperatrizense Rayssa Leal, a Fadinha, 13 anos, que ontem, enquanto o Brasil ainda dormia, eliminou concorrentes dos cinco continentes e conquistou a Medalha de Prata na Olimpíada de Tóquio, só perdendo exatamente para uma japonesinha da sua idade, mas também com o prazer de estar à frente de outra japonesinha da sua idade. Ela venceu no Skate Street, sagrando-se a primeira mulher e mais jovem brasileira a conquistar uma medalha olímpica nessa modalidade. Com seu feito, turbinou a autoestima do brasileiro, que anda maltratada.
Rayssa merece todos os louros, todas as honras e todas as homenagens agora e pelo o resto da sua vida, pois entrou para a História por um caminho especial, bem diferente do que trilham apoiados desde os primeiros passos, como ocorre nos países onde a formação esportiva é levada sério.
O caminho especial que a levou a Tóquio foi traçado por ela própria. Isso porque aprendeu e aprimorou o uso do skate por ela mesma, contando apenas com o apoio dos pais, que respeitaram a escolha da filha, feita ainda criança, e lhe deram o embalo com seus parcos recursos. A medalhista olímpica não saiu de uma escola de skate, não aprendeu com mestres experientes, e só ganhou apoio técnico depois que andou assombrando o Brasil e o mundo com seu talento excepcional. E foi isso que a levou a conquistar campeonatos e prestígio em diferentes cantos do planeta.
Mesmo amparada como integrante da delegação brasileira, condição por ela conquistada vencendo as eliminatórias para alcançar o passaporte para o Japão, Rayssa Leal ganhou a prata olímpica com seu próprio esforço. Ela não saiu de uma academia, não foi instruída por especialistas nem foi bancada com patrocínios milionários. Só passou a receber o amparo do Comitê Olímpico nacional quando já estava feita, por seus próprios méritos, aos 12 anos. Como muitos outros atletas brasileiros, alguns medalhados, a heroína do Tocantins não saiu de uma escola de um centro de treinamento bancada pelo Governo brasileiro nem recebeu os estímulos necessários para a formação de um atleta. Aprendeu sozinha, tombando nas praças e calçadas de Imperatriz, às vezes vestida de fada, encantando os que a viam dominando com maestria incomum a, às vezes, indomável prancha com rodas. Certamente sem nem metade do suporte recebido pela japonesinha que a superou e pela outra japonesinha que deixou para trás
Rayssa Leal é um fenômeno sem tirar nem por. E seu feito deve contribuir para que o Brasil deixe de produzir “bolhas” de atletas e passe a ver a educação física, os esportes em geral como parte da formação dos brasileiros.
São Luís, 27 de Julho de 2021.