Monsenhor Hélio Maranhão partiu deixando uma história rica de ação sacerdotal, militância política e controvérsias

 

héliomaranhão
Hélio Maranhão construiu uma trajetória rica

Monsenhor Hélio Maranhão, falecido ontem aos 85 anos, se não foi exatamente um homem muito além do seu tempo, construiu uma trajetória como um rompedor de paradigmas incômodos ao longo da sua vida. Muitos viam nele somente o sacerdote de atitudes e posturas nada convencionais e muitas vezes totalmente incompatíveis com as de um padre no sentido formal; alguns o identificavam como um intelectual, mas versado em cultura religiosa e canônica, o que o isolava culturalmente; outros o apontavam como o homem vivenciado e fortemente posicionado diante da sociedade e das instituições; e, finalmente, os que enxergavam nele apenas o religioso-oficial ativo na função pública de capelão da Polícia Militar do Maranhão, que em atos solenes chamava a atenção com sua batina preta ornada com alamares, estrelas e medalhas. Uma versão justa desse personagem muito presente na vida maranhense terá de reunir todas essas faces e mais outras tão bem definidas e marcantes que fizeram dele um homem singular.

Quando se fala do religioso que alcançou o título honorífico de “monsenhor” – que coloca o sacerdote numa zona de prestígio entre o cônego e o bispo, mas que na estrutura da Igreja Católica significa fim de carreira hierárquica -, fala-se do padre ordenado em Roma e que muito jovem participou intensamente dos movimentos de reforma da Igreja  iniciada pelo Papa João XXIII por meio do Concílio Vaticano II, que sacudiu as tradições mais duras da Igreja e impôs transformações radicais na relação da instituição com os fiéis católicos. Há quem diga que ele esteve na linha de frente do movimento de padres renovadores que mudou, por exemplo, o formato da missa – antes, o sacerdote a celebrava de costas para os fiéis, só a eles se dirigindo na homilia e na comunhão, e esse movimento conseguiu mudar a posição, passando o celebrante a ficar de frente para os presentes. Os estudos e a experiência o tornaram ao mesmo tempo um doutrinador militante e  teólogo empenhado em reformar, se não a essência dos cânones, pelo menos a prática doutrinária do catolicismo, tendo deixado uma vasta obra sobre o tema. Uma das suas preocupações era impedir que o catolicismo fosse enfraquecido pelo reformismo evangélico.

Na condição de sacerdote, Hélio Maranhão atuou fortemente como chefe de paróquia em Barra do Corda – sua cidade natal, onde nasceu em 1930 -, em Tutóia – onde demorou-se por mais de uma década -, e em Codó, onde também deixou marcas. Atuou como líder da Igreja, evangelizador, pregador sacro e educador. Foi também o militante político no sentido informal, desvinculado de partidos e ideologias. Sua formação na esteira do Concílio Vaticano II ganhou forte influência da ala esquerda da Igreja que na América Latina viria a prosperar nos anos 60 e 70 como a Teologia da Libertação, responsável por movimentos revolucionários, que no Brasil ganhou expressão maior com Dom Hélder Câmara, arcebispo de Olinda e Recife, e Dom Pedro Casaldáliga, no Mato Grosso, por exemplo. Preocupado com a divisão da terra e defensor de uma reforma agrária para resolver conflitos no campo, o então Padre Hélio Maranhão foi um dos precursores dos movimentos que para ele foram embriões das Assembleias Eclesiais de Base, conforme uma série de relatos que ele deixou em pequenas brochuras pouco conhecidas.

Como o movimento da chamada Igreja Progressista por uma reforma agrária radical no país era comandado pela esquerda do clero e ele, por fidelidade à religião, não se posicionou ideologicamente, viveu uma situação ímpar, sendo vigiado de perto pelos militares, que viam nele um esquerdista, e mal visto pela esquerda, na época liderada por padres como Vitor Asselin e militantes da esquerda clandestina, que o acusavam de fazer jogo duplo. E ficou pior aos olhos da esquerda quando, em 1979, aceitando pagar preço político alto, foi nomeado pelo governador João Castelo (PDS) para o cargo estratégico de presidente do Instituto de Terras do Maranhão (Iterma), com a tarefa de, se não fazer uma reforma agrária para valer, pelo menos para realizar um censo agrário e solucionar conflitos isolados, fazer assentamentos e conceder títulos de propriedade a famílias do campo. No cargo, Hélio Maranhão mexeu com uma série de formigueiros agrários e políticos, comprando brigas à direita com agentes da ditadura e alguns latifundiários, e à esquerda com grupos que o criticavam, às vezes contrariando até o governador, que ficava no fogo cruzado. O fato é que, bem ou mal, ele aplicou a famosa e polêmica Lei de Terras deixada pelo governador José Sarney e que, segundo o ex-presidente, foi alterada para pior pelo governador Pedro Neiva de Santana. É claro que a realidade mudou, a ditadura caiu e a Constituição Cidadã mudou tudo, mas não há registro de um período em que o Iterma foi tão ativo do que quando sob sua presidência.

Hélio Maranhão quebrou paradigmas nas situações mais simples e curiosas. No carnaval, por exemplo, quando religiosos costumam se recolher em retiros para se afastar das “tentações do demônio” ou até cumprir penitências, ele entrava na contramão, reunia um grupo de amigos – quase nenhum padre nem freira -, enfiava-se num vistoso fofão e saia pelas ruas de São Luís comandando um bloco carnavalesco atípico, no qual só era permitido tomar vinho tinto leve, e com parcimônia. Era também um excelente contador de “causos”, recolhidos das suas vivências paroquiais, e em muitos dos quais era ele próprio personagem central. Fascinado pelas letras, cultivava amizade com escritores e poetas, tanto que chegou à Academia Maranhense de Letras. E um desses poetas – o jovem advogado e deputado estadual Marconi Caldas, filho do influente desembargador votorinista Tácito Caldas – que numa animada roda de conversa, perguntou-lhe, à queima-roupa: “Padre Hélio, dizem que o senhor é namorador, é verdade? Sem perder a veia da tranquilidade, o sacerdote reformador respondeu: “Deputado, dizem muitas coisas a meu respeito. Mas o que posso lhe dizer é que tudo o que é feito com amor, Nosso Senhor abençoa”.

Foi o Monsenhor Hélio Maranhão de todos esses vieses que partiu ontem, deixando uma forte marca na história do seu tempo no Maranhão.

 

 

PONTOS & CONTRAPONTOS

 

Pleito de criadores

humberto e criadoresEm audiência que concedeu ao presidente e ao vice-presidente da Associação dos Criadores do Estado do Maranhão (Ascem), respectivamente José Assub Neto e Iêdo Lobão, o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Humberto Coutinho (PDT) assumiu compromisso de levar ao governador Flávio Dino (PCdoB) a seguinte pauta de pleitos: decretação do estado de emergência por causa das queimadas que vêm reduzindo drasticamente as áreas de pastagem no estado; a compra de milho à Conab, a um preço mais em conta; e, finalmente, um pedido de apoio para a realização da Expoema, que este ano completará a relação de 60ª edição. Assessorado pelo publicitário Antonio Nelson Farias, José Assub Neto relatou ao presidente da Assembleia Legislativa uma situação dramática vivida no momento por criadores maranhenses que são as queimadas, que ocorrem em todas as regiões do estado, mas são mais intensa e destruidoras na região do Itapecuru. O presidente, que também é criador, ouviu atentamente o relato dos líderes da Associação e prometeu relatá-las ao governador Flávio Dino o mais rapidamente possível. Aliás, vale o registro de que o presidente da Assembleia Legislativa tem sido muito procurado por líderes das mais diferentes áreas, para pedir-lhe que atue como interlocutor junto aso governo do Estado.

 

PMDB sofre perda

O PMDB do Maranhão perdeu ontem um dos seus mais importantes quadros, o advogado e membro da Comissão Executiva estadual Salomão Silva Souza. Assessor parlamentar no Senado da República, prestava também assistência jurídica ao partido, tendo se tornado um doa quadros mais ativos da agremiação pemedebista no Maranhão. A morte de Salomão Silva Souza consternou familiares e amigos. Em Brasília, o senador João Alberto foi à tribuna para comunicar a perda, o que fez com a seguinte mensagem: Hoje registro, com muito pesar, com muito pesar mesmo, o falecimento do assessor parlamentar do Senado, doutor Salomão Silva Souza. Maranhense, natural de Magalhães de Almeida, esposo e pai de família exemplar, figura muito conhecida em São Luís. Ele iniciou suas atividades profissionais como vendedor, bancário e professor, foi diretor da tradicional escola Centro Caxeiral em São Luís. Foi fundador da escola filantrópica Jardim de Infância Gurilândia, em São Luíss, que se mantém até hoje, prestando inestimável apoio aos menos favorecidos. Mas foi como advogado que se destacou, exercendo suas atividades com dedicação e honradez, conquistando o respeito dos seus colegas e a admiração dos seus clientes e da sociedade maranhense, também pela maneira amável com que se relacionava. Venerável da Loja Maçônica Renascença e membro da Executiva do PMDB do Maranhão, exerceu liderança política por muitos anos, deixando o exemplo de homem público e profissional competente, comprometido com os valores morais e éticos que norteiam a pessoa humana. Manifesto meu sentimento à família enlutada na pessoa da sua esposa Alzira Marlene Serra Souza. Era o que tinha a comunicar.  

 

São Luís, 10 de Novembro de 2015.

Um comentário sobre “Monsenhor Hélio Maranhão partiu deixando uma história rica de ação sacerdotal, militância política e controvérsias

  1. O legado do Mons. Hélio Maranhão é grandioso. Quando ele chegou em Tutoia no inicio da ditadura militar, ele não foi bem vindo, falavam os conservadores, os coronéis da politicagem da época, ele porém, foi corajoso, nunca se deixou abater. Acredito que um dos seus maiores feitos dentre tantos, foi a fundação do Ginásio Almeida Galhardo, com anexos em Barro Duro e Paulino Neves, do qual fui estudante na década de 70, formou a primeira turma de professores para o ensino fundamental. Implantou na época Comunidade Eclesial de Base para desespero e revolta dos beatos, missa participativa, confissão pública, orações livres, cultos ecumênicos, com a participação de pastores evangélicos (escândalo) diziam. Celebrou meu matrimônio, hoje estou com 35 anos de casado. (Sou Pr. Evangélico) O primeiro padre carismático do Maranhão, autor de vários louvores lindos. Ótimas lembranças de meu Pastor.

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