Politicamente correta e sensata a decisão dos governadores do Nordeste de não atender integralmente ao convite do governador de São Paulo, João Dória (PSDB), para uma reunião com o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), esta semana, em Brasília. Em decisão consensual, os líderes nordestinos, que mantêm um fórum no qual discutem e decidem sobre questões de interesse da região como um todo, resolveram mandar um representante, o governador Wellington Dias (PT). Com a atitude, os governadores nordestinos atendem em parte ao convite do governador eleito de São Paulo, que teve a iniciativa, mas não representa nem os governadores nordestinos nem o presidente eleito Jair Bolsonaro. No documento que será entregue ao presidente por Wellington Dias, os governadores nordestinos pleiteiam uma audiência de todos os chefes de Estado da região com Jair Bolsonaro, para discutir uma pauta exclusiva para o Nordeste. Considerado o principal articulador do Fórum de governadores da região, o governador Flávio Dino (PCdoB) apoia integralmente não ida dos governadores ao encontro, concordando o envio de um representante da região. Para o governador do Maranhão, um encontro dos governadores da região com o presidente eleito terá de ser fruto de um entendimento entre os dois campos, e não resultado de uma intermediação de um governador eleito de outra região.
O movimento do governador eleito de São Paulo é muito claro e faz parte de uma estratégia de médio prazo e por meio da qual ele pretende ser o sucessor do presidente Jair Bolsonaro. Até os garis de São Paulo sabem que o tucano João Dória, mesmo não tendo assumido ainda o Governo de São Paulo já está em campanha quase declarada ao Palácio do Planalto 2022. Ninguém duvida que, com a ousadia política que vem exibindo e uma estratégia de marketing bem concebida, ele é um candidato forte à sucessão do presidente eleito, que já afirmou que, por ser contrário à regra da reeleição, não será tentará um novo mandato. João Dória aposta nessa promessa de Jair Bolsonaro e desde agora já se move para se tornar “o nome” para a sucessão presidencial.
Ocorre que os governadores do Nordeste não estão dispostos a embarcar no esquema do governador de São Paulo, primeiro porque não enxergam nela um político compromissado com a região, e segundo porque, juntos, formam uma força política poderosa, que pode se mobilizar em torno de um candidato de esquerda ou de centro. A escolha poderá recair sobre o governador do Maranhão, Flávio Dino, tido por todos como um nome a ser considerado em qualquer conversa sobre sucessão presidencial no chamado campo progressista. João Dória, é claro, sabe disso, e por isso já se mexa com o objetivo de quebrar essa unidade apresentando-se como um “líder” preocupado com a conciliação nacional. Uma jogada inteligente e ousada, mas que revela claramente o que está por trás.
Os governadores nordestinos demonstram coerência ao não se deixarem seduzir pelo “canto da sereia” de João Dória, que é muito mais produto de marketing do que o resultado de uma carreira política consistente. Sabem também que não terão um relacionamento fácil com o presidente Jair Bolsonaro nos primeiros momentos, mas têm consciência de que tudo será uma questão de tempo e de habilidade no mexer das pedras, pois cedo ou tarde o mandatário terá de encarar os problemas da região, sabendo que dificilmente dará qualquer passo nessa direção sem um alinhamento com os governadores. O fato de quase todos os chefes de Governo nordestinos serem de esquerda fará com que o presidente perceba que essa retórica primária de “varrer comunista” e “metralhar petralhas” não funcionará. Como chefe da Nação, seu discurso terá de ser conciliador, goste ele ou não.
Nesse contexto, o governador Flávio Dino é peça-chave na ciranda das articulações com o objetivo estabelecer um relacionamento institucional e produtivo com o presidente Jair Bolsonaro, desde que os espaços políticos sejam bem demarcados e respeitados.
PONTO & CONTRAPONTO
No sétimo mandato de vereador, Catulé vai comandar a Câmara de Caxias pela terceira vez
O vereador Antônio José Albuquerque Bittencourt Albuquerque (PRB) foi reeleito, por unanimidade, para a presidência da Câmara Municipal de Caxias, cargo que exercerá pela terceira vez, sendo duas na mesma legislatura, o único caso registrado em mais de um século no sempre intenso parlamento da Princesa do Sertão. O presidente reeleito da vereança caxiense alcançou a proeza no sétimo mandado – foi eleito pela primeira vez em 1988 -, o que lhe assegura um lugar entre os políticos mais ativos e longevos, apesar das inúmeras intemperes, marchas e contramarchas, altos e baixos, enfim, os tremores que costumam agitar Caxias. Uma ciranda que tornou o vereador Antonio José Bittencourt Albuquerque um craque na arte da sobrevivência política.
Para quem não sabe, Antonio José Bittencourt Albuquerque é conhecido em Caxias e fora dela como Catulé, economista por formação, mas político por vocação, profissão, convicção e, pode-se dizer, paixão. Pavio curto e dono de uma coragem excepcional, Catulé traz da infância seu interesse pelos fatos políticos. Enquanto muitos dos seus colegas jogavam bola, ele se dedicava à leitura de jornais e revistas, sempre levando para as rodas as notícias mais frescas do universo político municipal, estadual e nacional. Já na adolescência estava sempre envolvido com questões de natureza política, indicando que, mais cedo ou mais tarde, entraria na briga pelo voto. Formou-se economista, mas em vez de se dedicar aos números, dedicou-se mesmo à política, conquistando seu primeiro mandato de vereador nas eleições municipais de 1988, filiado ao PMDB.
Catulé esteve na linha de frente de todos os embates políticos ocorridos em Caxias nas últimas três décadas. Foi figura-chave no movimento que lançou Paulo Marinho na política caxiense, teve participação decisiva ba célebre campanha do “X” manteve uma ligação forte com o legendário senador Alexandre Costa, comandou o PMDB municipal, e de lá para cá rompeu e reatou com vários grupos, sendo sempre alvo de fortes pressões destinadas a impedir a renovação dos seus mandatos. Na última eleição municipal, foi um dos articuladores da candidatura e da campanha do prefeito eleito Fábio Gentil (PRB), que venceu nas urnas o prefeito Leo Coutinho (PDT), liderado pelo deputado estadual Humberto Coutinho (PDT) – o maior líder político de Caxias nos últimos tempos -, conquistando mais um mandato e, em seguida, a presidência da Câmara Municipal, onde atua como um esteio para garantir a governabilidade no município. Tem alimentado até agora uma aliança firme com o prefeito Fábio Gentil. Sua reeleição foi reflexo desse contexto.
Independentemente de qual venha a ser o seu futuro na política, Antonio José Bittencourt Albuquerque, o Catulé, já entrou para a história recente de Caxias como um dos seus protagonistas mais ativos, vivendo situações que vão desde embates verbais cruentos na tribuna da Câmara Municipal, as explosões nos palanques, passando por confrontos no corpo-a-corpo e até enfrentamento à bala no centro da cidade. As polêmicas que o envolvem, a maioria decorrente da provocação ao seu temperamento forte, talvez tenham minimizado sua ação política, obrigando-o a lutar tenazmente pela sobrevivência como detentor de mandato, e não para dar um passo mais além, como chegar à Prefeitura ou desembarcar no parlamento estadual ou no federal. Preparo e vivência ele tem de sobra. Falta-lhe o suporte, que ainda pode chegar. Quem sabe? Afinal, estamos falando de Caxias, a mais animada e imprevisível seara política do Maranhão.
Em Tempo: no próximo mandato, o presidente Catulé comandará uma Mesa Diretora da Câmara com a seguinte composição: Ximenes (PR), 1° vice-presidente; Neto do Sindicato (PC do B), 2° vice-presidente; Mário Assunção (PPS), 1° secretário; Sargento Moisés (PSD) 2° secretário; Magno Magalhães (PSD), 3° secretário, e Repórter Puliça (PRB), 4° secretário.
Ibaneis dá tiro certo ao escolher Sarney Filho para o Meio Ambiente de Brasília
O anúncio de que o deputado federal Sarney Filho (PV) será o novo secretário de Meio Ambiente do Distrito Federal, feito pelo governador eleito Ibaneis Rocha (MDB) surpreendeu o meio político maranhense, incluindo parte do Grupo Sarney. O governador eleito do DF deu um tiro certeiro, a começar pelo fato de que o futuro auxiliar traz no currículo mais de seis anos no comando do Ministério do Meio Ambiente – quatro anos no Governo Fernando Henrique Cardoso e dois e meio no Governo Michel Temer. O convite se encaixa como uma luva no perfil de Sarney Filho, que se aposentaria da vida pública tão logo terminar o seu nono mandato de deputado federal em fevereiro do ano que vem. É muito provável que o ex-presidente José Sarney seja o articulador-fiador desse acerto, uma vez que tem influência no MDB do DF, tendo sido, por exemplo, padrinho maior do ex-governador Joaquim Roriz, que governou a Capital por três, consagrando-se como o maior líder de Brasília até aqui. Vale anotar, que José Sarney tem influenciado fortemente na administração de Brasília. Nos anos 70, por seu intermédio, o engenheiro Mauro Fecury foi presidente da Novacap, estatal que construiu e administra Brasília, cargo que também foi ocupado por José Reinaldo Tavares. Outro exemplo: no atual Governo, a área de Saúde foi em parte comandada pelo maranhense José Márcio Leite, cuja experiência vem desde o Governo Luís Rocha. Sarney Filho tem todas as condições de realizar um grande trabalho pelo meio ambiente do Distrito Federal.
São Luís, 14 de Novembro de 2018