Se alguém ainda duvida que a deputada Iracema Vale (PSB) tem estatura política para ter recebido a maior votação nas eleições para deputado estadual e reunir méritos políticos para presidir a Assembleia Legislativa, os 13 meses passados desde a sua ascensão à chefia do Poder Legislativo foram suficientes para dissipar dúvidas. Com quatro mandatos de vereadora e dois de prefeita em Urbano Santos, trajetória que lhe deu experiência para se movimentar nos campos legislativos e executivos, Iracema Vale é hoje uma das principais referências políticas do Maranhão e comanda o parlamento estadual com desenvoltura e autoridade de quem sabe o que faz e onde quer chegar.
Na última semana, motivada pelas comemorações relativas ao Dia Internacional da Mulher, ela ocupou diversos espaços de mídia, e nas entrevistas foi muito além do papel da mulher, deixando claras posições surpreendentes. No bate-volta que travou no programa radiofônico Ponto Continuando, ao ser indagada sobre riscos que deputados eleitos correm de perderem seus mandatos porque os seus partidos teriam fraudado as cotas de gênero, ou seja, usaram mulheres só para constar nas chapas. E enquanto a maioria fez coro a favor da cassação dos deputados, ela surpreende ao declarar: “Eu não concordo que se puna o deputado que foi votado, que conquistou seu mandato lutando. Isso precisa ser revisto”. E fez duras críticas a mulheres que se submetem a esse esquema de serem candidatas de faz-de-conta. “Isso é muito feio, nos envergonha”, disparou.
Dona de sorriso fácil e de gestos leves, que traduzem uma calma que emerge sempre que tem um desafio a encarar, a deputada Iracema Vale sabe falar firme e jogar pesado quando a situação política exige. Um exemplo: quando o deputado Carlos Lula (PSB) questionou o processo de escolha de conselheiros do Tribunal de Contas do Estado, criando um forte clima de tensão no plenário, a presidente não se alterou: parabenizou pela sua candidatura e lembrou que pelo mesmo processo a Assembleia Legislativa escolheu vários conselheiros, e avisou que a eleição do novo conselheiro – tendo Flávio Costa como candidato – será realizada dentro das regras que a assessoria jurídica da Casa orientar. Sem alterar a voz, encerrou o assunto não dando margem para uma discussão mais intensa.
A intensa movimentação institucional e política não lhe tira o foco de chefe do Poder Legislativo. Costuma presidir as seções ordinárias e extraordinárias, destina parte do seu tempo a atender deputados, é diligente na administração da instituição, exercendo controle férreo sobre finanças, compra e serviços, atuando como uma gestora eficiente. Ao mesmo tempo, Iracema Vale também vem se destacando como legisladora, com alguns projetos de lei aprovados e sancionados, já valendo como regra. Um deles, proibiu o plantio de soja e eucalipto na região em volta do Parque Nacional dos Lençóis, que ficou protegido dos males da monocultura. Outro, em parceria com o deputado Roberto Costa (MDB), extinguiu a regra de que 10% de mulheres tinham acesso à Polícia Militar por concurso público, dando a elas os mesmos direitos dados aos homens. A campanha em que lidera as deputadas num coro expressivo de defesa da participação da mulher na política é uma prova maiúscula do seu tirocínio nesse campo.
No tabuleiro da política, Iracema Vale é um exemplo clássico de quem tem poder de fogo e sabe usar. No final do ano passado, o ex-deputado Bira do Pindaré, então à frente do PSB, se apressou e anunciou uma aliança do partido com o prefeito de São José de Ribamar, Júlio Matos (Podemos). Com a autoridade de quem teve mais de cinco mil votos no município, onde faz oposição ao prefeito, ela colocou as cartas na mesa do partido e reverteu a posição, anunciando mais tarde que o PSB vai com o vereador Dudu Diniz, atual presidente da Câmara ribamarense. Na seara político-partidária, a presidente da Assembleia Legislativa atua alinhada ao governador Carlos Brandão (PSB), mas sempre afirmando que não coloca a autonomia da Assembleia Legislativa em jogo. Se o Governo vence as disputas é porque tem uma bancada majoritária.
Não há como negar que, mesmo já estando na labuta política há 30 anos, Iracema Vale é um fato novo na política maranhense. E com potencial para mirar um espaço político bem mais amplo do que é alcançável por um deputado estadual.
PONTO & CONTRAPONTO
Pedro Lucas deve permanecer no comando do União Brasil e Juscelino Filho no ministério
Tudo indica que o deputado federal Pedro Luvas Fernandes permanecerá no comando do União Brasil no Maranhão. Ele assumiu o partido depois que o deputado federal Juscelino Filho deixou o comando partidário para se tornar ministro das Comunicações.
Pedro Lula Fernandes foi um dos principais apoiadores do movimento do advogado Antônio Rueda pela presidência do partido, numa guerra pesada contra o atual presidente, o deputado federal por Pernambuco Luciano Bivar, que foi um dos fundadores do partido.
Não existe uma disputa entre Pedro Lucas Fernandes e Juscelino Filho. Eles têm uma relação de aliados partidários, convivem bem, apesar das diferenças, e entendem que só unindo a força da bancada eles podem auferir bons resultados políticos e eleitorais.
A menos que haja uma hecatombe política, Juscelino Filho dificilmente deixará o Ministério das Comunicações antes de 3 de abril 2026. Ele tomou gosto pela pasta e tem dito a aliados que tem muito o que fazer, inclusive para beneficiar o Maranhão. Quer também estar na pasta pelos próximos dois anos, quando terá de se desincompatibilizar para concorrer à reeleição para a Câmara Federal um cargo legislativo.
Os dois devem somar forças para que o partido tenha um bom desempenho nas urnas.
PF já reúne material suficiente para denunciar o ex-presidente Bolsonaro por trama golpista
Os depoimentos dos ex-comandantes do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, e da Aeronáutica, brigadeiro Carlos Batista Júnior na investigação da Polícia Federal sobre a tentativa de golpe militar tramada pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL), no final de 2022, depois que ele foi derrotado nas urnas pelo ex-presidente Lula da Silva (PT), confirma agora, com todas as letras, que o então presidente da República tentou um golpe de Estado, para continuar no poder impedindo a posse do presidente eleito.
As investigações feitas a partir da delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, que foi ajudante de Ordem do então presidente, foi devastador para o ex-presidente e a trupe que o cercava, como os generais Heleno e Braga Netto. As informações que ele repassou levaram a PF a investigar e descobrir uma série de fatos que do confirmam a trama. Mais do que isso: mostraram que o golpe só não foi consumado em dezembro de 2022 por que os comandantes do Exército e Aeronáutica discordaram e se negaram a apoiar a quebra da estabilidade institucional.
Esses chefes militares não encontraram qualquer argumento que justificasse a obsessão do então presidente para se manter no caso, já que perdera a eleição nas urnas. Só o então comandante Garnier se dispôs a colocar tropas de marinheiros nas ruas, mas se calou quando se viu investigado diante de um delegado da PF – só que em algum momento do processo ele vai ter de falar.
O fato é que os depoimentos desses oficiais legalistas, corroborados pela delação do ex-ajudante de ordem criaram um enorme embaraço para o ex-presidente. Ele foi apontado como o pivô da trama golpista, situação que está provada e comprovada. E na avaliação de analistas especializados nessa seara, o ex-presidente dificilmente escapará de um indiciamento, que dependendo da consistência, pode manda-lo para a cadeia.
Bolsonaristas militantes certamente dirão que se trata de uma armação contra o seu chefe maior. Diante de tantas evidências de que a trama golpista realmente aconteceu, o melhor que podem fazer é preparar o espírito para o que vem por aí. Um dos itens quase unânimes é que o ex-presidente será indiciado e pode acabar na cadeia por um bom tempo.
São Luís, 16 de Março de 2024.