Iracema aposta na base governista e diz que Brandão manterá maioria na Assembleia

Iracema Vale (d) foi entrevista na TV Mirante pela jornalista Carla Lima, ontem

O governador Carlos Brandão (PSB) conta com maioria na Assembleia Legislativa, mas a nova base governista ainda é um processo em construção, iniciado depois do “racha” que veio à tona na eleição da mesa Diretora da Assembleia Legislativa, e pode ser aumentada. Essa foi, em síntese, a mensagem da presidente do Poder Legislativo, deputada Iracema Vale (PSB), em entrevista que ontem ao programa matutino da TV Mirante. “Daqui para a frente vamos manter (a maioria), dependendo da pauta apresentada”, declarou a presidente, prevendo que a base será maior ou menor dependendo da pauta proposta pelo Poder Executivo. Ela manifestou a convicção de que o espírito conciliador e a habilidade política do governador Carlos Brandão (PSB) serão decisivos na manutenção e ampliação da base governista no Poder Legislativo.

No que diz respeito à sua reeleição para o comando do parlamento estadual, que em princípio estava garantida por larga maioria, mas correu sério risco com o empate de 21 votos a 21 na disputa com o deputado Othelino Neto (SD), Iracema Vale deixou claro que não tem problema com o fato de ter saído vencedora por ser mais velha. “Graças a Deus, logramos êxito pela terceira vez”, declarou, contabilizando as três eleições das quais participou na Alema – a de fevereiro de 2023, a reeleição antecipada de junho de 2024, que foi anulada pela Justiça, e a do dia 13, que deu empate e dois escrutínios e foi decidida pelo critério da maior idade, que a favoreceu.

Política experiente, que sabe se movimentar no complexo tabuleiro em que se move a política estadual, principalmente em tempos pré-eleitorais, Iracema Vale manifesta confiança de que o imprevisto acontecido na sua reeleição foi o resultado da ação de “forças externas”. Ela não deu nomes aos envolvidos na pressão, mas manifestou a convicção de que tudo foi esquematizado para que o resultado fosse de 21 a 21, ou seja, que o objetivo não era evitar a sua reeleição, mas apenas mandar um recado a ela e ao governador Carlos Brandão.

– Vimos que existia um forte trabalho, uma forte influência de forças externas à Assembleia para que esse placar chegasse a 21 a 21 – declarou Iracema Vale, deixando no ar a impressão de que acredita que essas “forças externas” continuarão atuando.

Ao mesmo tempo, garante que a base governista continua majoritária e poderá ser aumentada e que a matéria a ser submetida a votação no Legislativo definirá o tamanho dessa maioria. E usou como exemplo a votação de quinta-feira, muito complicada por envolver aumento de ICMS, na qual o Governo saiu vencedor com a aprovação dos recursos para viabilizar o programa Maranhão Sem Fome. Naquela votação, a nova oposição mostrou cara e tamanho: uma dezena de deputados. Em votações futuras, o Governo poderá aumentar sua maioria por meio de articulação.

Iracema Vale pode ser parte importante dessa articulação. Primeiro pela experiência já acumulada no comando da Assembleia Legislativa, cujo funcionamento e movimentos já assimilou. E depois, porque tem faro político apurado e já conhece cada um dos integrantes da Casa. Sua habilidade é mostrada, por exemplo, quando diz que não trata os votos que perdeu na sua eleição como traição, quando é esse o tratamento de que algumas vozes da base governista estão dando aos “rebelados”. Para ela, todo deputado tem o direito de votar como quiser, o que significa dizer que manterá a mesma relação com os que lhe negaram o voto, mas não assumiram a condição de oposição ao Governo. Manterá também relação republicana com a oposição.  

Fora do contexto da entrevista à TV Mirante, Iracema Vale sabe que sua presidência no próximo biênio, a ser iniciado em fevereiro de 2025, será bem mais complexa do que a do biênio que termina. Será um período mais tenso, no qual o plenário estará mais sensível à medida que se aproximar a corrida às urnas em 2026. Com a calma, a paciência e a segurança que demonstrou no dia em que sua presidência esteve sob grave risco, ela é, entre os governistas, o nome certo para comandar a Casa nessa quadra.

PONTO & CONTRAPONTO

Transições tensas e pacíficas ocorrerão em grandes municípios

Rildo Amaral, Roberto Costa, Rafael Brito
e André da RalpNet articulam transição

Prefeitos eleitos de grandes municípios começam a se movimentar para fazer a transição de poder. É o caso de Prefeituras como as de Imperatriz, Bacabal, Timon e Pinheiro.

Em Imperatriz, o prefeito eleito Rildo Amaral (PP), já formou uma equipe técnica da sua inteira confiança para conversas com o governo que finda comandado pelo prefeito Assis Ramos (UD). Até onde a Coluna apurou, o prefeito eleito escalará intermediários para conversar com o prefeito que sai, com o qual não quer conversa. É provável que mude de ideia, mas, se houver, esse encontro será apenas formal, sem muita conversa.

O prefeito eleito de Bacabal, Roberto Costa (MDB) conduzirá um processo de transição muito diferente da maioria. É que, além de ter o prefeito que sai Edvan Brandão como aliado de primeira linha, o prefeito eleito tem informações seguras de que a Prefeitura de Bacabal está saneada, com suas obrigações em ordem e que funciona sem problemas, não havendo problemas para solucionar. Ele escalou uma equipe de assessores para conversar com secretários e assessores da gestão que finda.

A transição em Timon não será problemática, segundo fonte política do município. Apesar da forte tensão que permeou a campanha, o prefeito eleito Rafael Brito (PSB) e a prefeita não reeleita Dinair Veloso (PDT) travam uma relação republicana serena. Isso permitirá que a transição será feita sem traumas nem tensões.

Informações que correm no meio político dão conta de que o prefeito de Pinheiro, Luciano Genésio (PP) está correndo para “colocar a casa em ordem” para entregá-la ao sucessor. Adversário político do prefeito que saiu, o prefeito que chega, André da RalpNet (Podemos) já teria escalado um time de assessores para fazer a transição, mas sem descartar a possibilidade de fazer uma varredura na casa que receberá.

Os resultados dessas trocas de informações virão a público em janeiro.

Extrema-direita maranhense não saiu contra o indiciamento de Bolsonaro

Jair Bolsonaro: sem defesa
contundentes de aliados

O indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e dos dois homens fortes do seu governo, general Braga Neto, que foi ministro da Defesa e candidato a vice-presidente da República, e general Heleno Augusto, ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, ambos envolvidos até a medula óssea na grande trama para o golpe de Estado que fracassou, deixou a extremas direita maranhense sem norte.

Salvo os usuários frequentes de redes sociais, que exaltam o ex-presidente e a turma em volta dele em qualquer circunstância, nenhuma voz mais conhecida, como o ex-senador Roberto Rocha (sem partido), se manifestou de maneira contundente em defesa do ex-chefe, como faziam sempre. E como a deputada Mical Damasceno (PSD), que não se manifestou sobre o assunto.

A única voz bolsonarista que se manifestou foi o deputado Yglésio Moisés (PRTB), para quem todas as denúncias contra o ex-presidente “fracassaram”. Quinta-feira, na tribuna da Assembleia Legislativa, ele fez um discurso contestando a denúncia mais recente, que envolve inclusive planos para assassinar o presidente eleito Lula da Silva (PT), o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro do STF e então presidente do TSE Alexandre de Moraes. Sua fala, porém, foi bem mais tímida do que de costume, dando a impressão de que ele sentiu o golpe.

Não será surpresa se, quando se manifestarem, essas vozes fizerem o desenho de sempre, negando tudo e alegando perseguição política. O problema é que o conteúdo das mais de 800 páginas do relatório da Polícia Federal pedindo o indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e mais 40 integrantes do esquema golpista é consistente e de difícil contestação.

São Luís, 23 de Novembro de 2024

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