Guinada de Yglésio ao bolsonarismo define identidade ideológica, mas pode fechá-lo num gueto

Jair Balsonaro avaliza Yglésio Moises como
seu porta-voz na corrida em São Luís

Ao buscar e obter chancela para representar o bolsonarismo na corrida à Prefeitura de São Luís, o deputado estadual Yglésio Moises (ainda no PSB e com futuro partidário incerto) conseguiu a tão almejada identidade ideológica, tornando-se, finalmente, um quadro da direita radical, definição pela qual vinha brigando tenazmente nos dois últimos anos. Ao mesmo tempo, atraiu para sua carreira uma série de incertezas e riscos políticos, alguns com elevada gravidade, obrigando-se a viver, às vezes, numa espécie de corda bamba, e, aqui e ali, numa tensa disputa na mesclada seara da direita no Maranhão. O seu desafio começa na corrida ao Palácio de la Ravardière, na qual a chamada “direita pé no chão”, equilibrada e democrática, já tem candidato, o prefeito Eduardo Braide, filiado ao PSD, o melhor exemplo dessa direita que torce o nariz para a banda radical, representada pelo bolsonarismo, e que alimenta flertes com o centro.

Ao se tornar o representante do bolsonarismo na política de São Luís, por designação do próprio ex-presidente Jair Bolsonaro, conforme divulgado pelo parlamentar, o deputado Yglésio Moises fez a opção consciente de que será parte de uma espécie de gueto ideológico. Ao invés de representar a direita pé no chão, democrática, ele corre o sério risco de ser acolhido pela bolha bolsonarista, olhado e identificado por outros segmentos como um militante e porta-voz da direita radical, extremista, armamentista e golpista, que são exatamente os traços que identificam o bolsonarismo, o que há de mais atrasado no espectro político e ideológico brasileiro, segundo a avaliação de pelo menos oito entre dez cientistas políticos debruçados sobre esse cenário.

Político inteligente e preparado, mas com imensa dificuldade de assimilar a ideia de que partido político é uma instituição coletiva – e a prova disso está na sua passagem pelo PDT, PROS e PSB -, o deputado Yglésio Moises vive a estranha e curiosa situação do político que finalmente encontrou a sua identidade ideológica na direita bolsonarista, mas está filiado a contragosto a um partido de centro-esquerda, o PSB, e não encontra uma legenda à direita que o receba de braços abertos. (No que diz respeito a essa estranha situação, o parlamentar trava uma guerra judicial com a cúpula do partido pelo direito de deixar a legenda sem perder o mandato, mas o partido não aceita, mantendo a exigência legal segundo a qual se ele deixar a legenda, perde a cadeira na Assembleia Legislativa. Ele trabalha com a convicção de que levará a melhor na Justiça).   

No campo partidário da direita, o maior partido no Maranhão é o PL, comandado com mão de ferro pelo deputado federal Josimar de Maranhãozinho, e que tende a apoiar o prefeito Eduardo Braide, não havendo espaço para o deputado Yglésio Moises O Republicanos, controlado pelo deputado federal bolsonarista Aluízio Mendes, aposta alto na reeleição do prefeito Eduardo Braide. O PRD, resultado na fusão do Patriotas com o PTB, comandado pelo deputado federal Marreca Jr., tende a seguir a orientação do governador Carlos Brandão (PSB). Surgiu um zumzum de que o deputado Yglésio Moises, mesmo agora identificado como um político da direita radical, poderia filiar-se ao PSDB, um símbolo do centro que está renascendo e ganhando músculos a batuta do atual chefe da Casa Civil Sebastião Madeira, mas vozes tucanos descartaram a possibilidade.

Político que calcula seus passos, incluindo nesses cálculos os riscos década guinada que dá na sua carreira solitária, o deputado Yglésio Moises sabe que vai perder grande parte dos votos que tem no centro, e na esquerda, e que terá de buscar compensação na direita bolsonarista nas suas eleições para a Assembleia Legislativa. Movido por visível pragmatismo político, dada a facilidade com que ajusta seu discurso, tem consciência de que seus movimentos radicais dificilmente lhe abrirão as portas do Palácio de La Ravardière em 2024 e tornam incerto o seu destino em 2026.

PONTO & CONTRAPONTO

Com maioria do TRE, Neto Evangelista ganha fôlego para definir candidatura em SL

Neto Evangelista: alívio com a
maioria do TRE contra cassação

Até ontem com o cutelo da Justiça sobre seu mandato, correndo o risco de perder a sua cadeira na Assembleia Legislativa e atropelar sua carreira, o deputado Neto Evangelista (União) respirou ontem o ar puro do alívio ao ver formada no TRE maioria contra a cassação do seu mandato por conta de uma tramoia feita pelo seu partido em relação à cota de gênero para as eleições de 2022

O deputado Neto Evangelista viveu meses de tensa expectativa em relação ao processo pelo quando o Republicanos e o suplente de deputado estadual Inácio Melo o acusaram de ter sido beneficiado por uma candidatura feminina armada pela direção partidária para preencher a cota feminina da chapa do União para deputado, da qual Neto Evangelista foi o único eleito.

O Ministério Público Eleitoral rejeitou a denúncia, e o relator da matéria no TRE concordou, aceitando o argumento da defesa de que Neto Evangelista não teve nada a ver com a traquinagem da cúpula partidárias, não sendo justa a cassação do seu mandato – o qual, diga-se, foi lastreado por boa votação.

Ainda faltando três votos, mas com maioria garantida – os juízes ainda podem mudar seus votos, mas no caso é improvável -, Neto Evangelista ganha fôlego para continuar atuando, inclusive com novo ânimo para definir a sua participação na disputa perla prefeitura de São Luís. Lembrando que ele foi o terceiro colocado na corrida municipal de 2020.

Mas a experiência e a prudência recomendam cautela – e caldo de galinha – até que a votação seja fechada.

Câmara de São Luís: falta a sessão ordinária vai pesar no contracheque

Paulo Victor adotou medida a pedido de vereadores

Os vereadores de São Luís serão submetidos a um novo regime funcional: serão obrigados a marcar presença nas sessões de segundas, terças e quartas-feiras, quando a Câmara Municipal, que é formada por 31 membros, realiza sessões ordinárias, com votações. A decisão foi tomada pelo presidente Paulo Victor (PSDB), na sessão de ontem, depois de um protesto feito por vários vereadores, entre eles o ex-presidente Astro de Ogum (PCdoB), o Coletivo Nós (PT) e o vereador Marcial Arruda, sob o argumento de que a ausência de vereadores prejudica os demais na votação de projetos.

A falta de quórum em sessões ordinárias tem sido motivo eventual de mal-estar no Palácio Pedro Neiva de Santana. Vários projetos considerados importantes por seus autores não foram votados, causando indignação nos seus autores, que registraram protestos. O presidente Paulo Victor já havia apelado aos seus pares sobre a necessidade de quórum nas sessões ordinárias, tendo algumas vezes advertido sobre a possibilidade de medidas nesse sentido.

O resultado é que a partir de agora a ausência nessas sessões será descontada no contracheque.

São Luís, 23 de Novembro de 2023.

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