Especial: Bumba Meu Boi e Lençóis Maranhenses se tornam, de fato, patrimônio imaterial e natural da civilização humana

Acima: Carlos Brandão e Marlova Jovchelovitchi
exibem um boi-símbolo da cultura maranhense;
nas demais imagens a procissão que saiu da
Casa das Minas e alcançou a Capela de São Pedro

A cultura popular e a natureza do Maranhão estão em festa. O Bumba Meu Boi foi reconhecido pela Unesco como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade e os Lençóis Maranhenses receberam do mesmo braço cultural da ONU o título de Patrimônio Natural da Humanidade. Esses status universais da base cultural popular e de uma faixa excepcional do rico mosaico natural maranhense, associados ao reconhecimento, também pela Unesco, de São Luís como Cidade Patrimônio Cultural da Humanidade, são atestados incontestáveis de que a Ilha de São Luís, seu entorno regional e sua gente etnicamente misturada produziram coisas diferentes, e indiscutivelmente superiores, de tudo o que é de cultura de base desse imenso Brasil miscigenado.    

Os dois diplomas entregues ontem pela Unesco ao governador Carlos Brandão, que na sexta-feira jogou para o alto as marchas e contramarchas políticas, para ser, integral e entusiasticamente, o anfitrião dos atos em que o mais forte braço da cultura popular e a faixa mais diferenciada da natureza, tornaram o Maranhão um pedaço excepcional do planeta. O primeiro, o Bumba Meu Boi, que expressa a religiosidade e as características mais evidentes do caldeirão cultural produzido pelas três raças que deram origem ao que hoje é o maranhense integral. O segundo, os Lençóis, que estão revelando ao mundo uma faixa de terra esculpida pelos ventos num processo contínuo de encantamento. |Ambos formam o tripé superior com a inclusão do maior acervo arquitetônico colonial português da América Latina, construído ao longo de quatrocentos anos.

Marginalizado até o início dos anos 60, quando os seus “batalhões” ainda animavam terreiros ludovicenses como manifestações marginais, acompanhadas pelos olhares atentos da polícia, o Bumba Meu Boi se agigantou como expressão popular nos anos 70 e 80, avalizado pelos esforços dos seus brincantes e cantadores, como os geniais poetas-compositores Humberto de Maracanã, Coxinho, João Chiador, entre outros gigantes da poesia popular, que formaram as gerações que os estão sucedendo. Eles tiveram o incentivo de militantes da cultura maranhense, como Domingos Vieira Filho, Valdelino Cécio, Arlete Nogueira Machado, Joila Morais, Terezinha Jansen, Zé Pereira Godão, entre outros militantes da cultura de base, que ao longo das décadas de 70, 80 e 90 driblaram a ditatura e as forças conservadoras e ajudaram a colocar batalhões linha de frente, nos seus diferentes sotaques, como “Maracanã”, “Maioba”, “Madre Deus”, “Pindoba” “Ribamar”, “Laurentino” “Rosário”, “Axixá”, “Morros”, no epicentro da cultura maranhense.

Aos poucos incorporados pelo poder público como tesouros da cultura popular e fonte de atração turística, esses batalhões acabaram consagrados, não só como manifestações culturais, mas como símbolos maiores de um povo culturalmente rico. A força das suas danças e das suas toadas embala os maranhenses e hoje encanta brasileiros que visitam esse pedaço isolado do País nas festas juninas, que ganham volume a cada ano. E como tudo o que é genuíno, sofre ataques diversionistas, como as corruptelas que distorcem a raiz cultural usando lindas mulheres, que afrontam os cazumbás com seus bailados sensuais, diferentes, mas sem a alma cultural das índias da Maioba e do Maracanã, por exemplo. É como se fossem a versão “sertaneja universitária” do Bumba Meu Boi. Mas os “batalhões pesados” preservam suas raízes como um tesouro, e mostram isso a cada período junino nos arrais de São Luís e do Maranhão, especialmente em 29 de junho, no grande encontro do João Paulo, no qual externam sua força e a sua resistência com o movimento cultural de base.

O título de Patrimônio Cultural e Imaterial da Humanidade contempla, na mesma medida, os “batalhões” genuínos dos sotaques de matraca/pandeirões, zabumba, orquestra e costa de mão, que se mantêm com uma surpreendente e inesgotável alegre mistura de força, humildade e um indômito orgulho. Está certo o governador Carlos Brandão quando, ao lado de Marlova Jovchelovitch Noleto, representante da Unesco no Brasil, declarou: “Eu sou um entusiasta da cultura, um entusiasta do turismo. No nosso governo, o turismo no estado subiu 44%, segundo dados do IBGE. O nosso Centro Histórico, que é Patrimônio Histórico e Cultural. Nosso projeto é fortalecer e valorizar cada vez mais o bumba boi”.

Acompanhado da representante da Unesco, o governador liderou uma procissão de “batalhões” que saiu da consagrada Casa das Minas e terminou na capela de São Pedro, o santuário do Bumba Meu Boi do Maranhão.

Lençóis: a joia natural do Maranhão pertence agora ao mundo inteiro

Carlos Brandão anuncia em Barreirinhas o título dos Lençóis, ao lado da representante da Unesco, dos ministros Marina Silva e
André Fufuca, da presidente Iracema Vale e outros convidados

A entrega do Certificado de Patrimônio Natural da Humanidade ao Parque Nacional dos Lençóis Maranhense se deu numa grande manifestação no Parque das Dunas, em Barreirinhas – portal de entrada para o parque -, pela representante da Unesco no Brasil, Marlova Jovchelovitch Noleto, ao governador Carlos Brandão, na presença dos ministros do Meio Ambiente, Marina Silva, e do Esporte, André Fufuca, da presidente da Assembleia Legislativa, Iracema Vale (ainda no PSB), dos senadores Weverton Rocha (PDT) e Eliziane Gama (PSD), do deputado federal Duarte Jr. (ainda no PSB), do prefeito de Barreirinha, Vinícius Vale (MDB), de secretários de estado, entre outros convidados.

O diploma contempla como patrimônio da civilização os 155 mil hectares de dunas, rios, lagoas e manguezais que formam a maravilha ecológica o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses e que se tornou o oitavo parque a contar com essa chancela no Brasil, ganhando força como destino turístico, sendo um motor econômico, também criando as condições para a sua própria preservação.

Para receber o certificado de patrimônio do mundo, o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses foi analisado sob diversos aspectos, entre eles a beleza natural, suas características geomorfológicas, a sua integridade, a legitimidade dos limites e proteção da área, além da situação do plano de manejo, que inclui a situação dos moradores nativos, ações de conservação e atuação dos prestadores de serviços turísticos. No ato, o governador Carlos Brandão anunciou que conseguiu junto ao Governo federal recursos no valor de R$ 100 milhões. Esses recursos serão aplicados em projetos de abastecimento de água e serviços de esgoto em áreas urbanas alcançadas pelo parque, a começar por Barreirinhas, que é o centro de recepção e irradiação da base turística dos Lençóis Maranhenses, que recebe cada vez mais visitantes anualmente.

E não poderia ser diferente, porque os Lençóis Maranhenses são um fenômeno natural único em todo o planeta.

E o governador Carlos Brandão deixou claro que vai usar todos os recursos ao seu alcance para preservar esse tesouro natural: “Já estamos recuperando o aeroporto, colocando iluminação e dando todas as condições para que a gente possa receber voos diretos, o que vai fortalecer hotéis, restaurantes, bares, porque isso é mais emprego e mais renda. A partir de hoje, esse patrimônio não é mais só nosso, mas do mundo e cabe a nós cuidarmos desse grande patrimônio natural e para isso todos nós devemos fazer a nossa parte”.

Vale lembrar que o governador Carlos Brandão participou pessoalmente de todas as etapas do processo que resultou no reconhecimento da região com o patrimônio mundial. Participou, em julho do ano passado, em Nova Deli, Índia, da reunião em que o Comitê do Patrimônio Mundial da Unesco concedeu o título. Em julho deste ano, durante reunião em Paris, na França, o mandatário maranhense formalizou o pedido para que a entrega do certificado fosse realizada em solo brasileiro.

O estado do Maranhão agora é detentor de três títulos de Patrimônio da Humanidade – São Luís, Bumba Meu Boi e Lençóis Maranhenses. Na avaliação da represente do braço cultural da ONU, “é importante valorizar esse título de Patrimônio Natural dos Lençóis, porque quando a Unesco declara esse valor excepcional, aumenta o cuidado, aumenta a proteção, o número de turistas e a cadeia da economia. É um esforço de muitas mãos humanas e temos o dever de cuidar, proteger e salvaguardar”.

A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, elogiou o compromisso do governador Carlos Brandão em conquistar a certificação para os Parque Nacional dos Lençóis e destacou o cuidado do Governo Federal em promover a preservação associada a investimentos.

– O Ministério do Meio Ambiente sabe a importância das belezas naturais e trabalha para que sejam preservadas e ao mesmo tempo promovam emprego, renda e bem-estar. Vamos fazer aqui outros investimentos, para que possamos ter o turismo de observação e de imersão. Que a gente se sinta responsável por preservar e usar com sabedoria esse lindo e maravilhoso presente – destacou a ministra.

Em resumo: a preservação do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses se dá porque ele é o resultado de um raro fenômeno geológico e foi formado ao longo de milhares de anos através da ação da natureza. Suas paisagens são deslumbrantes, com imensidão de areia que faz o lugar assemelhar-se a um deserto, mas as águas pluviais formam lagoas que se espalham em praticamente toda a área do parque formando uma paisagem inigualável, como se fossem vários oásis. Daí o fascínio que exerce sobre turistas do mundo inteiro.

São Luís, 16 de Agosto de 2025.

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