A entrada do PCdoB como amicus curiae na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN) movida pelo Solidariedade, por iniciativa do deputado Othelino Neto (SD), questionando a vitória da deputada Iracema Vale (PSB) na eleição para a presidência da Assembleia Legislativa pelo critério da maior idade, ganhou agora a dimensão de uma guerra partidária. Até quinta-feira, o MDB e o Republicanos haviam se posicionado a favor da presidente, mas esse cenário foi equilibrado com o ingresso do PCdoB apoiando a posição do Solidariedade na contenda judicial que acontece no Supremo Tribunal Federal e cujo desfecho deve sair antes do recesso do Judiciário, a ser iniciado no próximo dia 19.
O movimento do PCdoB, que é comandado pelo deputado federal Márcio Jerry, dá a esse conflito um tom diferenciado, porque o partido integra uma Federação, da qual fazem parte o PT e o PV, dois partidos linha de frente na base de apoio do governador Carlos Brandão (PSB). É claro que, mesmo federado, o PCdoB tem autonomia para se posicionar, já que é um ente partidário independente. Mas esse posicionamento coloca o PT, liderado pelo vice-governador Felipe Camarão, e o PV, comandado pelo ex-deputado e presidente da MOB Adriano Sarney, muito próximos do confronto.
O envolvimento de cinco partidos (PSB, Solidariedade, MDB, Republicanos e PCdoB) na guerra deflagrada em torno da presidência da Assembleia Legislativa, entre a presidente Iracema Vale (22 votos) e o deputado Othelino Neto (22 votos) que foi decidida em favor da presidente pelo critério da maior idade, dá a essa queda-de-braço a dimensão de um confronto político de largas proporções, com desdobramentos absolutamente imprevisíveis. A entrada do PCdoB atiça ainda mais e dá uma indicação definitiva de que a aliança entre o governador Carlos Brandão e o agora ministro Flávio Dino (STF) está, de fato rompida.
No pedido para se tornar amicus curiae do Solidariedade na ação que tenta invalidar a eleição da presidente Iracema Vale, o PCdoB reforça a linha de oposição da maioria da sua bancada na Assembleia Legislativa. E também reforça a impressão de que as suas relações com o Palácio dos Leões, que já vinham se deteriorando, podem desandar de vez – a única voz governista da bancada é a da deputada Ana do Gás, que apoia integralmente a presidente Iracema Vale. Os demais deputados comunistas – Rodrigo Lago, Júlio Mendonça e Ricardo Rios – apoiaram a candidatura do deputado Othelino Neto e respaldaram a decisão dele de questionar o pleito na Suprema Corte, posição que agora foi formalizada com a entrava na ação como amicus curiae.
Não há como negar que um grande confronto está armado entre as forças lideradas pelo governador Carlos Brandão e as que se mantêm fiéis ao que se convencionou chamar de dinismo e pode ser deflagrado para produzir os seus efeitos nas eleições de 2026. Há quem acredite que essa guerra pode ser evitada por meio de um grande movimento conciliatório. Mas as escaramuças que vêm acirrando a disputa pela presidência da Assembleia Legislativa sinalizam que a paz e a reconciliação não devem acontecer facilmente. Os líderes dessas forças estão sob pressão, o que torna difícil a sua movimentação.
Chama a atenção o fato de o PCdoB ingressar na ação apoiando o Solidariedade exatamente no momento em que correm nos bastidores da política a possibilidade de uma conversa entre o governador Carlos Brandão e o ministro Flávio Dino. Esse encontro, se vier a ser confirmado como está sendo soprado, pode ser apenas uma audiência para tratar de assuntos formais do Governo e do Estado do Maranhão, como também pode evoluir para um “papo reto” que possa colocar o agitado cenário político do Maranhão nos eixos. Ou encerrar de vez uma parceria política que produziu bons resultados ao longo de oito anos, e desaguar numa guerra de desfecho imprevisível em 2026.
PONTO & CONTRAPONTO
Apoio de Cléber Verde Jr. a Paulo Victor mostra que o MDB está harmonizado
A declaração de apoio do vereador eleito Cleber Verde Jr. (MDB) à candidatura do presidente da Câmara Municipal, vereador Paulo Victor (PSB) para comandar a Casa também no biênio 2025/2026, traz no seu âmago um forte sinal de que o braço do partido em São Luís, comandado pelo deputado federal Cléber Verde, está definitivamente sintonizado com a direção estadual, comandada pelo empresário Marcus Brandão.
O clima entre os dois comandos passou por momentos de tensão no início de 2024, quando Cléber Verde, ao assumir a direção do MDB ludivicense declarou que o partido apoiaria a candidatura do prefeito Eduardo Braide (PSD) à reeleição. A declaração pegou de surpresa o comando estadual, que já tinha decidido apoiar a candidatura do deputado federal Duarte Jr. (PSB).
Houve um rápido estremecimento entre os dois campos emedebistas, mas um acordo foi firmado, permitindo que as duas posições fossem mantidas. O resultado foi que Cléber Verde conseguiu o que queria: a eleição do seu filho, Cléber Verde Jr., e a direção estadual comemorou a eleição de André Campos, emedebista de proa, que deixou o partido momentaneamente e disputou pelo PP para não embarcar na onda do prefeito Eduardo Braide. André Campos também apoia o projeto de poder do presidente do parlamento municipal.
Apoiada pela direção do MDB, a candidatura do vereador reeleito Paulo Victor a novo mandato presidencial revela que os ânimos estão serenados.
Interessados no comando do PL no Maranhão foram avisados de que nada vai mudar
Não foram dadas declarações nem os supostos interessados assumem, mas a verdade é que pelo menos três políticos do campo da direita radical andaram sondando o comando nacional do PL a respeito do destino do partido, caso o ex-presidente Jair Bolsonaro consiga expulsar da agremiação o deputado federal Josimar de Maranhãozinho e seu grupo.
Dos chefes ligados ao ex-presidente, que na semana passada voltou a defender a expulsão do chefe do partido no Maranhão, os interessados no PL ouviram que Jair Bolsonaro vai insistir no esforço para tomar a legenda do grupo de Maranhãozinho. Mas quando chegaram a Valdemar Costa Neto, que preside e é o verdadeiro dono do PL, ouviram que não há a menor chance de ele embarcar na onda bolsonarista contra Josimar de Maranhãozinho.
Em resumo: os três interessados se deram conta de que a situação do PL no Maranhão não vai mudar, e que o melhor a fazer é procurar outro rumo partidário.
São Luís, 07 de Dezembro de 2024.