Dois candidatos de Bolsonaro no Maranhão já são conhecidos; o mistério é o terceiro  

 

Jair Bolsonaro revela que tem três candidatos no Maranhão. No jogo das evidências entram Weverton Rocha e Lahesio Bonfim, faltando a identificação do terceiro

“Temos três nomes ao Governo do Maranhão e vamos batalhar por eles nestas eleições”. Com essa declaração, feita durante uma live nas suas redes sociais, o presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, sem dar nome aos seus preferidos, jogou uma bomba de elevado teor explosivo no epicentro da disputa travada pelos nove postulantes ao Palácio dos Leões. Como que maliciosamente determinado a criar uma celeuma na corrida sucessória estadual, provavelmente por pressentir que poderá sair das urnas maranhenses impiedosamente surrado, o presidente completou: “Que deem votos de confiança a candidatos que têm afinidade conosco”. No meio político e fora dele, dois nomes foram apontados sem maiores discussões: o senador Weverton Rocha, candidato do PDT, e o ex-prefeito de São Pedro dos Crentes Lahesio Bonfim, aspirante do PSC. O terceiro nome virou mote de especulação.

Dos nove candidatos a governador, quatro podem, de cara, serem excluídos da lista de prováveis candidatos do presidente. O primeiro é governador Carlos Brandão (PSB), por conta da sua relação com o ex-governador Flávio Dino (PSB) e por pertencer ao partido do ex-governador Geraldo Alckmin, companheiro de chapa do ex-presidente Lula da Silva (PT). No caso de Enilton Rodrigues (PSOL), Hertz Dias (PSTU) e Frankle Costa (PCB), eles causam urticária política no chefe da Nação por pertencerem à esquerda dura, radical, que não faz concessão à extrema-direita que tenta reelegê-lo. Ainda que não seja impossível, é improvável que Simplício Araújo seja o terceiro nome, já que seu partido, o Solidariedade, fechou apoio a Lula da Silva. A mesma situação envolve o ex-prefeito Edivaldo Holanda Jr. (PSD), embora o presidente do seu partido no Maranhão, deputado federal Edilázio Jr., seja bolsonarista assumido. Resta Joás Moraes, candidato do Democracia Cristã, que chegou de surpresa na lista de candidatos a governador.

A identificação do senador Weverton Rocha como um dos candidatos do presidente Jair Bolsonaro está plenamente justificada: ele tem como candidato a vice o deputado estadual Hélio Soares, presidente formal do PL do Maranhão, e o apoio do deputado federal Josimar de Maranhãozinho, manda-chuva de fato do partido do presidente no estado. Mais do que isso, tem como aliado de proa o senador Roberto Rocha (PTB), chefe maior do bolsonarismo no território estadual e candidato à reeleição. Além do mais, o candidato do PDT não abraçou o projeto de Ciro Gomes, candidato presidencial do seu partido, e disse que, se for eleito e Jair Bolsonaro reeleito, não terá qualquer problema em bater às portas do Palácio do Planalto para pedir apoio ao seu eventual governo. Recentemente, em entrevista à TV Mirante, o senador pedetista declarou que a escolha do deputado Hélio Soares para ser seu companheiro de chapa teve o aval do presidente Jair Bolsonaro.

O segundo nome é Lahesio Bonfim, candidato do PSC, partido da base governista em Brasília e controlado no estado pelo deputado federal Aluísio Mendes, bolsonarista linha de frente e que exerce a função de vice-líder do Governo na Câmara Federal. O ex-prefeito de São Pedro dos Crentes é fã assumido de Jair Bolsonaro, chama-o de “meu presidente”, e declarou que lhe dará seu voto. Não esconde essa relação, mas, de olho na elevada rejeição do presidente no Maranhão, prefere mantê-lo como seu aliado distante do que um apoiador. Em que pesem as restrições que faz do presidente em relação à sua campanha ao Governo do Estado, Lahesio Bonfim é, sim, o segundo homem de Jair Bolsonaro entre os candidatos a governador do Maranhão.

Não há como afirmar que ele seja o terceiro candidato do presidente Jair Bolsonaro, mas evidências e sinais apontam para o candidato do DC, Joás Moraes, que tem como candidato a senador do pastor Ivo Nogueira. Nas entrevistas que concedeu e nos debates dos quais participou, o candidato do DC exibiu um bom conhecimento técnico a respeito de como funciona a máquina pública, apresentou propostas com substância nas diferentes áreas, fez críticas ao Governo Flávio Dino, mas fez de conta que o Governo Jair Bolsonaro não existe, e se existe, nada tem a ver com o Maranhão. Pode não ter qualquer relação com o presidente, mas pode ter caído nas suas graças.

A identificação completa do trio pode acontecer antes do pleito do próximo dia 2.

 

PONTO & CONTRAPONTO

 

Chama a atenção o número de policiais militares candidatos a deputado estadual e federal

Grande número de candidatos de todas as patentes saíram das fileiras da PMMA

Nenhuma das eleições parlamentares realizadas no Maranhão neste século teve número tão elevado de policiais militares como candidatos a deputado estadual e a deputado federal quanto a de agora. São coronéis, capitães, tenentes, cabos e soldados tentando cadeiras na Assembleia Legislativa e na Câmara Federal. O curioso é que, com raras exceções, são candidatos por partidos de direita e pregando ideias conservadoras, passando a impressão de que a Polícia Militar seja uma instituição motivada por sentimentos não simpáticos à democracia. Um dos candidatos, que se declara bolsonarista, chega a usar a expressão “vamos acabar com o comunismo”, como se tivesse seguindo uma orientação ideológica expressa, não levando em conta que a democracia é a saudável – às vezes dura, é verdade – convivência de contrários. O fato é que, fazendo parte de um movimento articulado ou não, os policiais militares parecem decididos a exibir força política com o seu “batalhão” de candidatos. O problema é que, ao contrário de movimentos anteriores, como o que elegeu Cabo Campos deputado estadual em 2014 – que se revelou um desastre como parlamentar e político -, a profusão de candidaturas militares pulveriza sua base, que são os votos dos membros da corporação, seus familiares, amigos e até simpatizantes, tornando praticamente impossível a eleição de representantes. Se tantas candidaturas são fruto de um movimento articulado, destinado a apenas mostrar a politização da PM, faz sentido, ainda que contrarie a natureza da instituição. Mas se a intenção for mostrar força eleitoral e ocupar espaço parlamentar, é fácil prever que o movimento caminha para um fracasso retumbante. Vale aqui um registro: nada contra a participação de policiais militares na disputa eleitoral.

Numa outra esfera policiais, é oportuno anotar que a Polícia Civil está fora dessa onda, com raríssimos candidatos. Ativa no plano corporativo, a Polícia Civil está mais preocupada como seu papel institucional.

 

Debates: TV Guará foi atingida pelo esgotamento da fórmula nessa corrida eleitoral

Uma das peças que anunciavam o debate da TV Guará, que foi cancelado ontem

Não surpreendeu a suspensão, ontem, do debate entre os candidatos a governador que seria realizado na TV Guará. O projeto naufragou pela decisão de três candidatos de não participarem: Carlos Brandão (PSB), Lahesio Bonfim (PSC) e Edivaldo Holanda Jr. (PSD). Os três alegaram incompatibilidade com as suas agendas de campanha, mas na verdade, não tiveram nenhum interesse no programa. A atitude dos três pode ser explicada, primeiro, pela quantidade de eventos dessa natureza realizados em São Luís, além da enorme quantidade de entrevistas. Só o Sistema Mirante realizou dois debates e cinco séries de entrevistas, incluindo emissoras de rádio, o portal imirante.com e a TV Mirante. E nesses eventos, os candidatos que compareceram disseram exatamente a mesma coisa, sem que nada de novo tenha vindo à tona nas manifestações subsequentes. O governador Carlos Brandão percebeu que, além de enfadonhos, os debates nada acrescentariam à sua luta por votos. Edivaldo Holanda Jr. pulou fora pela mesma razão, e com a agravante de que perdeu pontos preciosos, que tenta reconquistar no corpo-a-corpo. Lahesio Bonfim certamente foi movido pela mesma onda. Sem os três, um debate perde totalmente o sentido.

Claro que isso causa prejuízo na credibilidade da empresa, que apostou alto na empreitada, mas que pode ter sido fruto de um planejamento equivocado, de vez que evidências nessa seara já vinham acontecendo o suficiente para que o botão da cautela fosse acionado pelos executivos da TV Guará.

São Luís, 23 de Setembro de 2022.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *