“Há limites legais que, quando quebrados, resultam em grandes erros, infelizmente é o que, neste momento, acontece com a Operação Lava Jato. Muito difícil que a legalidade dessa interceptação telefônica seja confirmada quando do exame sereno e técnico das provas daí advindas. Tenho desde o início apontado a importância da Lava Jato. Mas as regras constitucionais e processuais não podem ser quebradas. Lamento muito. Chegamos a uma grave crise institucional. Sem serenidade, difícil sair dela sem a destruição do Estado Democrático de Direito”.
A nota, publicada no twitter, foi a reação do governador Flávio Dino (PCdoB) à decisão do juiz Sérgio Moro, que comanda a Operação Lava Jato, de quebrar o sigilo e, assim, tornar públicas conversas telefônicas entre a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula, entre elas uma ocorrida no inicio da tarde de ontem, na qual a presidente informa ao seu antecessor que está lhe encaminhando o ato da nomeação dele para a chefia da Casa Civil. O áudio caiu como uma ogiva de muitos megatons no meio político e causou forte repercussão em todo o País, empurrando a crise política que abala o País ao seu momento mais dramático. Coincidência ou não, a divulgação da conversa ocorreu no momento em que o Supremo Tribunal Federal (STF) julgava os embargos interpostos pela presidência da Câmara Federal em relação às regras do impeachment, injetando ânimo forte nos partidários do impedimento da presidente, o que agravou ainda mais o clima de tensão dentro do Congresso Nacional.
O governador manteve, de maneira serena, mas contundente, a mesma posição que manifestara na semana passada, quando criticou a decisão do juiz Sérgio Moro de levar coercitivamente o ex-presidente Lula para depor, há duas semanas. Ontem, Moro voltou a atingir o ex-presidente ao quebrar o sigilo das interceptações telefônicas autorizado pelo próprio magistrado, num ato visto por Dino como ilegal e atentatória ao Estado Democrático de Direito.
Ao reagir com os mesmos argumentos aos fatos que sacudiram o Brasil nas últimas 48 horas, o governador Flávio Dino tem, de fato, exercido um papel importante como líder político. Enquanto a maioria dos governadores prefere manter-se distanciada do grande embate, atuando somente nos bastidores, o chefe do Governo maranhense tem participado diretamente do processo, manifestando posições firmes e, para muitos, ousadas em defesa do mandato da presidente Dilma Rousseff. Escudado na sua cultura jurídica e na experiência de ex-magistrado federal e ex-deputado federal, o governador é um dos que enxergam e denunciam tentativa de “golpe” no pedido de impeachment da presidente da República. Dino e o PCdoB acham que, além de ilegal, por não ter fundamento, o impeachment poderia acirrar os ânimos da sociedade e, mergulhar o País numa onda de violência. “É o que aconteceria se houvesse essa insanidade do impeachment. É algo tão irresponsável, tão absurdo, que eu não consigo imaginar que isso passe a sério pela cabeça de alguém”, declarou o governador em recente entrevista ao portal de notícia 274.
Nas suas manifestações em defesa do mandato da presidente Dilma Rousseff e na pregação pela abertura de um amplo diálogo para resolver a crise política, o governador do Maranhão tem encontrado espaço para também criticar o Governo federal no que respeita à política econômica. Dino bate forte no ajuste excessivamente draconiano no que se refere ao corte de gastos é ruim para o País, e defende a adoção de medidas mais ousadas para reativar a economia em curto prazo, e outras que garantirão mais receita e melhor distribuição de renda, como a taxação das grandes fortunas. O governador tem sido também um defensor insistente da renegociação da dívida dos estados e municípios, que estão amargando duramente as consequências da falta de recursos.
O problema é que os últimos acontecimentos levaram a crise ao que muitos políticos experientes avaliam como o seu ponto mais grave, o que pode tornar irreversível o processo de impeachment e, consequentemente, o impedimento da presidente Dilma Rousseff. Tanto que na sua nota de agora, diferentemente das anteriores, o governador do Maranhão não insiste na proposta de diálogo para superar a crise, mas faz um apelo pela “serenidade”. Ao trocar a proposta de diálogo pelo apelo à serenidade, o governador Flávio Dino dá uma clara demonstração de que está efetivamente temeroso de que a “insanidade” do impeachment está de fato a caminho e com sérios riscos de mandar a presidente da república para a casa.
PONTO & CONTRAPONTO
Congressistas maranhenses acham que Dilma cairá
A Coluna ouviu ontem à noite quatro congressistas maranhenses sobre o agravamento da crise política e os seus desdobramentos. Todos falaram em “off the record”, e pedindo para manter o sigilo da fonte. Os quatro disseram basicamente a mesma coisa, usando praticamente as mesmas expressões. Em primeiro lugar, todos acham que o agravamento da crise tornou o processo de impeachment irreversível, tendo os quatro deram como certo que a presidente Dilma será defenestrada do Palácio do Planalto e mandada para casa com os direitos políticos suspensos por oito anos. Os mesmos congressistas acreditam no poder político e de sedução do ex-presidente Lula, avaliando que, apesar das condições extremamente adversas, ele poderá recompor minimamente a base hoje esfacelada e dar um novo rumo político ao Governo. Sob o argumento de que a crise é política Enxergam a possiblidade – muito remota – de que sejam adotadas de algumas medidas que possam estancar e até mesmo reverter a crise econômica, acreditando que, apesar das reações de ontem nas ruas, Lula vai comandar a Casa Civil e poderá dar uma guinada radical no Governo e, com isso, frear a crise política. Uma convicção: o problema do País hoje chama-se Dilma. Se ela sair ou for tirada, o Brasil encontrará rapidamente o caminho da estabilidade. Se ela continuar, ninguém.
Rigo Teles assume a liderança do PV na Assembleia Legislativa
O PV mudou de comando na Assembleia Legislativa. Numa decisão inesperada e que surpreendeu a Casa, o deputado Adriano Sarney, que havia sido escolhido para liderar a bancada, resolveu abrir mão do posto de líder para repassá-lo ao experiente decano da Casa, deputado Rigo Teles. Mesmo tendo sido feita com boa vontade, a mudança não foi um gesto de benevolência do deputado Adriano Sarney. Ela aconteceu por puro pragmatismo. O primeiro porque o deputado Rigo Teles, que está no seu quinto mandato, se deu conta de que não teria muito futuro como regra três no PV e estava em busca de um novo partido. Entregar-lhe a liderança foi o gesto que o comando do partido encontrou para segurá-lo na agremiação, onde já está há dois mandatos. A situação da bancada do PV, formada por quatro deputados – Adriano Sarney, Edilázio Jr. Hemetério Weba e Rigo Teles – é complicada. Os dois primeiros fazem dura oposição ao Governo Flávio Dino. Os outros dois integram informal, mas efetivamente, a base do Governo no Legislativo. Como líder, Adriano Sarney manteria seu discurso contra o Governo. Já Rigo Teles terá uma porta aberta no Palácio dos Leões, que pode ser muito útil aos quatro deputados. “Aceitei ser o líder do PV para manter o diálogo com o Governo, que já tem o meu apoio”, disse o deputado Rigo Teles, do alto da sua experiência de cinco mandatos, conseguidos à base de uma ação política de resultados, que leva em conta primeiro os problemas da região que o apoia, a começar por Barra do Corda.