A tsunâmica reviravolta na situação do ex-presidente Lula da Silva (PT), que ontem passou de condenado por corrupção e degredado político a cidadão limpo e de novo dono do direito de disputar mandatos, terá desdobramentos diversos no Maranhão. Primeiro porque os fundamentos da decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, de anular as sentenças lavradas pelo então juiz Sérgio Moro contra Luiz Inácio Lula da Silva na 13ª Vara Federal de Curitiba, abrem caminho para o reordenamento político nacional, com repercussão forte no plano político do Maranhão, especialmente no projeto que o governador Flávio Dino (PCdoB) constrói para 2022. E segundo porque, com a autoridade de quem é ex-juiz federal e aliado de primeira hora do ex-presidente Lula, o governador Flávio Dino viu seus argumentos contrários às condenações serem confirmados, o que reforça seu cacife nos campos político e jurídico.
Desde que a pancadaria contra o ex-presidente foi iniciada na Operação Lava-Jato, Flávio Dino assumiu a posição de crítico severo do então juiz-titular da Lava-Jato em Curitiba, enxergando ilegalidades flagrantes nos seus procedimentos e nas suas decisões. Sempre fazendo questão de assinalar o seu apoio a operações contra a corrupção, como a Lava-Jato, desde que respaldadas numa base jurídica sólida e em provas irrefutáveis, Flávio Dino pregou contrariamente às condenações que Sérgio Moro impôs ao ex-presidente Lula. Ciente do cabedal jurídico do governador do Maranhão – os dois ingressaram na magistratura pelo mesmo concurso, no qual o maranhense foi primeiro colocado – Sérgio Moro fez cara de paisagem sempre que Flávio Dino reagiu criticando duramente uma decisão do chefe da Lava Jato. Tanto que, por estratégia ou por pura cautela, sempre fugiu ao debate aberto com o governador do Maranhão.
A decisão do ministro Edson Fachin, portanto, lastreia amplamente as críticas do governador maranhense ao agora ex-juiz e ex-ministro Sérgio Moro.
Politicamente, a volta do ex-presidente Lula da Silva ao patamar dos elegíveis mexe com o tabuleiro sucessório no Maranhão. Para começar, tudo indica que Flávio Dino cumprirá sua declaração, várias vezes repetida, a de que, com Lula candidato, ele estará fora da corrida presidencial. Resta saber o que fará o governador se o ex-presidente se candidatar e convidá-lo para vice, selando a aliança PT-PCdoB. Ou ainda tentar essa fórmula com outro nome do PT tendo Flávio Dino como vice. Defensor intransigente da articulação de uma grande aliança partidária, tendo como candidato a presidente o nome dessa frente que estiver melhor colocado nas preferências do eleitorado, Flávio Dino sabe que será difícil convencer o PT a abrir mão de indicar a cabeça da chapa.
Com Lula livre e elegível, Flávio Dino dificilmente entrará na briga pela sucessão do presidente Jair Bolsonaro (ainda sem partido). Seu caminho já está traçado em direção ao Senado da República, sendo, para muitos, candidato imbatível para a única vaga a ser aberta, podendo ter o atual ocupante, senador Roberto Rocha (PSDB), como adversário. Essa tendência, que parece irreversível, coloca muita clareza no desenho da corrida eleitoral no Maranhão no ano que vem. E a favor dela estão todos os aliados de bom senso do governador, que não veem razão para ele mergulhar na corrida presidencial, como cabeça-de-chapa ou como vice. É certo também que, mesmo candidato a senador, Flávio Dino se engajará intensamente na campanha para viabilizar qualquer movimento protagonizado ou apoiado pelo líder petista.
PONTO & CONTRAPONTO
Destaque
Mulheres ampliam seus espaços na Assembleia Legislativa
As mulheres estão dando as cartas na Assembleia Legislativa nesta legislatura. Hoje, elas são 10, representando quase 25% dos deputados estaduais do Maranhão. Mais do que isso: formam uma representação partidariamente diversificada, mas costumam se mobilizar em torno de questões ´para as quais as mulheres são mais sensíveis, como os direitos da mulher trabalhadora e a violência contra a mulher.
A deputada Helena Duailibe (Solidariedade) é um quadro político de excelência, lastreada por vasta experiência na vida profissional como médica, e na vida pública, como vereadora de São Luís ser deputada estadual, e como secretária de Saúde da Capital e do estado do Maranhão. É atualmente a procuradora da Mulher na Assembleia Legislativa. É tarimbada também na articulação em plenário.
Ana do Gás (PCdoB) é uma mulher de garra, forjada na luta e bem-sucedida como empresária na região de Santo Antônio dos Lopes. No exercício do segundo mandato, ela encerou recentemente um período longo como secretária de Estado da Mulher, cargo que exerceu com eficiência e do qual se afastou no momento em que entendeu ser a hora de retornar às atividades parlamentares.
Cleide Coutinho (PDT) é uma parlamentar experiente, que tem como suporta a longa militância na política de Caxias e região, onde foi o braço direito do marido, o deputado Humberto Coutinho, falecido em 2018, depois de mais de duas décadas de liderança inconteste na Princesa do Sertão. Médica por formação, Cleide Coutinho responde hoje pelo legado político e empresarial que construiu junto com o marido, que continua sendo a sua referência.
Detinha (PL) é assistente social e desembarcou na Assembleia Legislativa em janeiro de 2019 como a mais votada no pleito de 2018. Foi prefeita bem-sucedida de Centro do Guilherme. Atua politicamente como braço forte da arrojada ação política do marido, o deputado federal Josimar de Maranhãozinho (PL). Detinha comanda hoje a bancada do PL no Legislativo estadual, com expressivo peso político no plenário.
Daniela Tema (DEM) chegou à Assembleia Legislativa em 2019 como representante da região central do estado, tendo Tuntum como base principal. Nutricionista de formação, a deputada Daniela Tema tem feito um bom trabalho de apoio à sua região, bem como em questões gerais, como a defesa da mulher, que tem sido uma das bandeiras do seu mandato. Já com seguiu a aprovação de várias medidas nesse sentido.
Andreia Rezende (DEM) é representante da região polarizada por Balsas. Nascida numa família de políticos, tem formação superior em Odontologia, com carreira profissional bem-sucedida. Mas sempre foi fascinada pela política, que abraçou de vez quando decidiu substituir o marido, ex-deputado Stênio Rezende como candidata em 2018. Vítima de um acidente durante a campanha, perdeu os movimentos das pernas. Nada, porém, a impede de atuar intensamente no campo político.
Thaíza Hortegal (PP) poderia tranquilamente continuar atuando como médica pediatra na região da Baixada, dando suporte à ação política do marido, Luciano Genésio (PP), prefeito reeleito de Pinheiro, sua principal base política. Na Assembleia Legislativa, tem sido atuante defendendo os interesses da sociedade, cuidando de questões na área de saúde e apoiando ações destinadas aos municípios onde atua.
Socorro Waquim (MDB), professora de larga experiência e política de muita militância, tendo sido vereadora e prefeita de Timon, hoje o quarto maior município do Maranhão, e secretária de Estado no Governo Roseana Sarney. Política ativa, sempre ocupa a tribuna para se manifestar sobre temas importantes. É um quadro parlamentar de excelência.
Mical Damasceno (PTB) é professora e saída politicamente da militância evangélica na Assembleia de Deus. Na Assembleia Legislativa, é ativa na articulação de plenário, mas também na manutenção das suas convicções religiosas. Recentemente, deu o maior salto político até aqui: assumiu o comando estadual do PTB, em substituição ao deputado federal Pedro Lucas Fernandes. A guinada partidária abriu-lhe um grande espaço político.
Betel Gomes (PRTB), que antes de ser deputada é professora do ensino básico em Arame, assumiu o mandato de deputada com garra e determinação. Nas suas entrevistas, ela tem relatadas dificuldades da sua região. Sua atuação tem sido discreta até aqui, mas ninguém duvida de que a parlamentar está determinada a fazer um mandato tampão de resultados.
Roseana Sarney confirma que pode disputar cadeira na Câmara dos Deputados
A ex-governadora Roseana Sarney (MDB) confirmou ontem, em entrevista à TV Mirante, informação divulgada pela Coluna no dia 29 de Janeiro: poderá disputar cadeira na Câmara dos Deputados. Não fez uma afirmação categórica, recorrendo ao charme politicamente saudável de deixar dúvidas no ar, mas pareceu ter esse projeto como o mais provável para a suspensão previsível da sua aposentadoria política.
Na entrevista, a ex-governadora admite enfaticamente a ideia de voltar por onde começou: na Câmara dos Deputados, na qual ingressou na eleição de 1990. E a explicação é lógica e faz todo sentido: como candidata a deputada federal, ela fazer uma campanha em nível estadual, podendo sair das urnas com votação superior a 200 mil votos, os quais somados aos dos atuais deputados João Marcelo e Hildo Rocha, poderão formar um bolo eleitoral com força para eleger os três e mais um ou até quatro deputados. Isso lhe daria a vantagem de chegar à Câmara Baixa liderando uma minibancada, fortalecendo sua posição dentro da representação do MDB.
Roseana Sarney também deixou no ar a hipótese de disputar o Governo do Estado ou o Senado. Se fizer opção pelo Palácio dos Leões, entrará na corrida com algo em torno de 25% das intensões de voto, para enfrentar, em princípio, o senador Weverton Rocha (PDT), que caminha mesmo para ser candidato, e o vice-governador Carlos Brandão (Republicanos), também determinado a ser o sucessor do governador Flávio Dino. Suas chances seriam remotas. Já com relação ao Senado, dificilmente Roseana Sarney sairá do conforto da sua aposentadoria política para entrar numa disputa na qual suas chances são mínimas.
Logo, feitas e refeitas as contas e tiradas as provas, a Câmara dos Deputados é o caminho mais tranquilo e mais promissor que a ex-governadora Roseana Sarney dispõe nesse momento.
São Luís, 09 de Março de 2021.