A menos que haja uma reviravolta imprevisível e espetacular dentro do ninho dos tucanos ludovicenses, o deputado estadual Wellington do Curso não será o candidato do PSDB à Prefeitura de São Luís. Seu projeto de candidatura, que já vinha sendo metralhado há tempos, recebeu o tiro de misericórdia nesta semana, quando o chefe estadual dos tucanos, senador Roberto Rocha, confirmou o que até as pedras de cantaria da Praia Grande já sabiam: o comando do PSDB decidiu que o partido vai se coligar com o Podemos em torno da candidatura do deputado federal Eduardo Braide. Wellington do Curso, que segundo as pesquisas vem brigando com o pré-candidato do DEM, Neto Evangelista, pela terceira colocação na preferência do eleitorado, atrás de Eduardo Braide e do pré-candidato do Republicanos, deputado estadual Duarte Júnior, andou ensaiando uma reação, declarando que “a candidatura está firme”, mas caminha para a certeza de que o PSDB não lhe dará a vaga de candidato. Terá agora de optar entre engolir seco e entrar na onda de Eduardo Braide, mergulhar na seara da neutralidade em relação à disputa ou então dar o troco apoiando outro candidato.
Visto pelo olhar do pragmatismo político, o senador Roberto Rocha faz o jogo de quem tem cartas para jogar. Já há muito avaliou que, mesmo apoiado pela cúpula do PSDB, a candidatura de Wellington do Curso não iria muito longe, e logo seria atropelada pela de Neto Evangelista ou pela de Rubens Júnior, dois pesos pesados que começam a se movimentar montados em poderosas estruturas políticas e partidárias. O próprio Wellington do Curso sabe que, com ou sem lastro partidário, seu projeto de chegar à Prefeitura de São Luís dificilmente evoluiria a ponto de ele se tornar um candidato realmente competitivo, com cacife para entrar pelo menos no time dos favoritos. Ele é ativo, faz uso intenso e polêmico das redes sociais, alimenta um discurso como som de monocórdio em oposição ao Governo do Estado, claramente pensado para alimentar sua relação com eleitores e simpatizantes, mas não vai além disso.
Entre manter o apoio ao projeto sem futuro de Wellington do Curso e apostar no projeto até aqui bem posicionado de Eduardo Braide, Roberto Rocha prefere a segunda opção. O senador tucano sabe que sua situação em relação às eleições de 22 não é boa, tem ciência de que suas chances para o Governo do Estado são remotas e também que a reeleição para o Senado é parada dura num cenário que não lhe é nada favorável, principalmente se o governador Flávio Dino não entrar para a disputa nacional como candidato a presidente ou a vice-presidente e decidir por uma vaga na Câmara Alta. Nesse contexto, suas chances se limitariam a uma cadeira na Câmara Federal, o que, a princípio, parece não ser do seu interesse.
Com a experiência de quem saiu da condição de vice-prefeito de São Luís eleito em 2012 para o Senado em 2014, Roberto Rocha sabe que qualquer projeto político e eleitoral maior no Maranhão passa pela Capital. Ele já teve força na Ilha, mas perdeu muito quando, numa atitude que até hoje muitos observadores não entenderam, rompeu peremptoriamente com o governador Flávio Dino e, contrariando o seu partido no plano nacional, bandeou-se para o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Agora, enxerga no apoio a Eduardo Braide o único caminho para voltar a ter algum peso em São Luís. Sim, porque ao levar o PSDB para uma coligação com o Podemos, o senador leva também alguns instrumentos políticos e eleitorais, a começar por um expressivo tempo de rádio e TV, que facilitará muito a campanha do aliado. Isso, é claro, terá um preço político elevado em caso de eleição.
Esse movimento estava previsto desde que Wellington do Curso começou a se mexer como pré-candidato do PSDB. De lá para cá, Roberto Rocha emitiu inúmeros sinais de que seu caminho seria outro. Mas, por se considerar forte, não fazer leituras corretas e não perceber que seria rifado, ou tentando ganhar tempo para criar uma situação que acabasse por lhe favorecer, Wellington do Curso manteve o projeto de candidatura, que agora, tudo indica, está sendo ostensivamente arquivado. Pode ser que haja uma reviravolta. Afinal, na política do Maranhão, boi voa, e em muitos casos, de asa quebrada.
PONTO & CONTRAPONTO
Prêmio do Congresso em Foco: Eliziane Gama fez por onde para ter sido apontada como a melhor do Senado
Um ano e meio depois de assumir o mandato, depois de ter sido eleita numa disputa com pesos pesados da política maranhense, o deputado federal Sarney Filho (PV) e o senador Edison Lobão (MDB), a senadora Eliziane Gama (Cidadania) foi apontada como o melhor quadro do Senado pelo Júri Especializado do Prêmio Congresso em Foco 2020, em meio a nomes de peso na Casa.
Não é pouca coisa. O Prêmio Congresso em Foco é o resultado de um processo sério, realizado por avaliações em vários enfoques. Ela não aparece na lista dos escolhidos por voto popular nem na dos nomes apontados por jornalistas. A escolha pelo Júri Especializado dá uma densidade maior ao prêmio, porque, além da movimentação política, os jurados avaliam também – e principalmente – o desempenho parlamentar – que mede sua ação no plenário e fora dele – e legislativo, que avalia sua produção do senador como legislador.
Eliziane Gama cumpriu rigorosa e eficientemente o seu mandato até aqui. Politicamente, se estabeleceu na Oposição ao Governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), manifestando-se criticamente em todas as questões relevantes e batendo com força nos erros, nas artimanhas, nas contradições e nos arroubos autoritários do Governo e seus agentes. Como parlamentar, tem sido uma senadora presente, participativa e bem posicionada, no plenário e nas comissões, tendo participado diretamente de todos os grandes debates travados na Casa. E como legisladora, em um ano e meio apresentou uma expressiva quantidade de indicações e projetos de lei, atuando também como relatora de projetos de impacto.
A escolha do Júri Especializado coroou seu mandato até aqui. Ela fez por onde.
MDB joga seu trunfo para fazer uma coligação em São Luís
Embalado pelos bons ventos que sopraram a seu favor desde que o MDB e sua líder inconteste, a ex-governadora Roseana Sarney, resolveram, de fato, levantar sacudir a poeira e dar a volta por cima, apresentando-se no cenário político como uma agremiação mais aberta, mais leve e sem ranços, o comando emedebista, liderado pelo deputado Roberto Costa, vem marcando posições. Inicialmente pensou num candidato próprio, mas todas as tentativas de definir um nome fracassaram, inclusive a própria Roseana Sarney, que declinou do convite. Depois, o partido se voltou para a procura de uma aliança bem armada, mas as coisas não saíram como os chefes emedebistas imaginaram. Agora, o comando partidário bateu martelo: o MDB só coligará se indicar o candidato a vice. Sabe que será difícil com Eduardo Braide (Podemos), que deverá ter vice do PSDB ou do PSC; com Neto Evangelista (DEM), que, tudo indica, terá um vice do PDT, por exemplo. Pode resolver esse ponto com Duarte Júnior (Republicanos), por uma articulação eficiente do vice-governador Carlos Brandão. O MDB pode coligar ainda com Carlos Madeira (Solidariedade) ou com Adriano Sarney (PV). Mas se não houver possibilidade de um bom acordo, o Plano B já está definido: investir todas as suas forças na eleição de uma bancada na Câmara Municipal.
São Luís, 21 de Agosto de 2020.