Crivo implacável de políticos, as urnas de 2022 firmaram lideranças sólidas e destruíram castelos sem base

A urna eletrônica foi o caminho seguro para o eleitorado fazer suas escolhas numa eleição limpa

2022 vai entrar para a História como o ano em que as eleições quebraram muitos paradigmas políticos no Maranhão, produzindo vencedores sólidos, barrando o avanço de quem tinha certeza de que sairia vencedor mas calculou mal sua trajetória, e trazendo à tona projetos de lideranças imprevisíveis e outras trabalhadas para ganhar esse status. O fato é que as urnas desenharam um novo mapa político do Maranhão, que tem no epicentro o senador eleito e futuro ministro da Justiça Flávio Dino (PSB) como liderança maiúscula, indiscutível. Colocaram também no topo do poder estadual, sem sombra para incomodá-lo, o governador reeleito Carlos Brandão (PSB), que conquistou seu espaço com um pragmatismo pouco visto em tempos recentes. No espaço dos ganhadores, o deputado Othelino Neto (PCdoB) poderá não se eleger de novo presidente da Assembleia Legislativa, mas seus ganhos políticos foram imensos. E abriram caminho largo para novos quadros, sendo o vice-governador eleito Felipe Camarão (PT) o mais promissor entre eles. Por outro lado, as urnas desmontaram o arrojado projeto de poder do jovem e impetuoso senador Weverton Rocha (PDT), e catapultaram o ex-prefeito da pequena São Pedro dos Crentes, Lahesio Bonfim (PSC) para o centro do mapa político do estado. No conjunto de quem perdeu, o senador Roberto Rocha (PTB) foi, certamente, o mais castigado pelas urnas. Nesse contexto, surgiram, no cenário, lideranças não previstas como a deputada estadual eleita Iracema Vale (PSB), que nem tomou posse e já está no centro das decisões com a provável eleição para a presidência da Assembleia Legislativa. Seguem os políticos que, na visão de Repórter Tempo, fecharam o ano como os vitoriosos e os perdedores na mais diferenciada guerra pelo poder dos tempos recentes no Maranhão.

Quem ganhou

Flávio Dino (PSB): Saiu das urnas como senador eleito e termina o ano como futuro ministro da Justiça e Segurança Pública. Salvo o ex-presidente José Sarney, não há na História recente do Maranhão um político com a sua estatura, que tenha construído, sem a mão de um padrinho, uma liderança tão abrangente e tão sólida. O ano que termina encerra um ciclo de oito anos em que comandou diretamente o Estado, liderando uma aliança partidária que só foi quebrada com a saída do PDT, mas que em nada afetou a base política cujo comando repassou agora ao governador Carlos Brandão. Os mais de dois milhões de votos que recebeu para o Senado o colocaram no topo da lista dos campeões de votos no Maranhão. E caminha para ser um dos nomes mais destacados da equipe do presidente Lula da Silva.

Carlos Brandão (PSB): As urnas o colocaram no patamar mais alto do prestígio político ao reelege-lo em turno único. Desde abril, o discreto vice assumiu a titularidade do Governo, e logo nos primeiros atos mostrou que tem personalidade política forte, que sabe onde está pisando, que conhece o ofício que vai exercer na cadeira principal do Palácio dos Leões. Com eleição incontestável, e sem uma sombra que coloque em risco a estabilidade do grupo que lidera, chega ao topo da carreira reeleito, e sem o desafio de se reeleger daqui a quatro anos. Fecha o ano se preparando para comandar o seu próprio Governo, que começa no primeiro dia de janeiro.

Felipe Camarão (PT): Um dos quadros mais qualificados da sua geração, desembarcou na seara política se lançando pré-candidato do PT a governador. Mudou o curso ao ganhar a disputada vaga de candidato a vice na chapa da aliança PT/PSB. Eleito, chega ao final de 2022 se preparando para assumir, certo de que será governador a partir de abril de 2026, e nessa condição, candidato à reeleição, com chance real de repetir o feito do atual chefe de Estado.

Othelino Neto (PCdoB): Reeleito deputado estadual como o segundo mais votado, o presidente da Assembleia Legislativa chega ao final de 2022 mergulhado numa disputa em que tenta eleger-se para mais um mandato presidencial. A possibilidade de não vencer essa queda-de-braço vem passando a falsa ideia de que, não conseguindo, entrará para o time dos perdedores. Errado. Basta fazer contas e mensurar o reforço político que ganha com sua esposa, a vice-prefeita de Pinheiro Ana Paula Lobato (PSB), se tornando senadora da República na vaga do senador eleito Flávio Dino.

Os deputados reeleitos Roberto Costa (MDB), Arnaldo Melo (PP), Glaubert Cutrim (PDT), Ana do Gás (PCdoB), Antônio Pereira (PSB), Rafael Leitoa (PSB), Ariston Gonçalo (PSB), Daniella Jadão (PSB), Wellington do Curso (PSC), Andreia Rezende (PSB), Mical Damasceno (PSD), Neto Evangelista (União Brasil), Paulo Neto (PSB), Ricardo Rios (PSB), Rildo Amaral (PSD) e Yglésio Moises (PSB). E os deputados eleitos Iracema Vale (PSB), Carlos Lula (PSB), Cláudia Coutinho (PDT), Abigail (PL), Aluízio Santos (PL), Claudio Cunha (PL), Davi Brandão (PSB), Dra. Viviane (PSB), Edna Silva (Patriotas), Eric Costa (PSD), Fabiana Vilar (PL), Fernando Braide (PSC), Florêncio Neto (PSB, Francisco Nagib (PSB), Guilherme Paz (Patriotas), Hemetério Weba (PSB), Janaína Ramos (Republicanos), Júlio Mendonça (PCdoB), Júnior Cascaria (Podemos), Júnior Graça (PP), Juscelino Marreca (Patriotas), Leandro Bello (Podemos), Osmar Filho (PDT), Ricardo Arruda (MDB), Rodrigo Lago (PCdoB) e Solange Almeida (PL).

Os deputados federais reeleitos Márcio Jerry (PCdoB), Josimar de Maranhãozinho (PL), Rubens Jr. (PT), André Fufuca (PP), Marreca Filho (Patriota), Júnior Lourenço (PL), Pedro Lucas Fernandes (UB), Juscelino Filho (UB), Josivaldo JP (PSD), Aluísio Mendes (PSC), Cléber Verde (Republicanos) e Pastor Gil (PL). E os deputados federais eleitos: Detinha (PL), Duarte Jr. (PSB), Amanda Gentil (Republicanos), Roseana Sarney (MDB) e Fábio Macedo (Podemos).

Núcleo Duro do Governo – Sebastião Madeira (Casa Civil), José Reinaldo (Programas Especiais) e Luís Fernando Silva: com a ascensão de Carlos Brandão ao Governo do Estado, os três secretários se tornaram os principais assessores e conselheiros do governador. Sebastião Madeira com a experiência de dois mandatos de prefeito de Imperatriz e quatro mandatos de deputado federal, é um político tarimbado e que está em plena forma. José Reinaldo tem décadas de praia com passagem por órgãos relevantes, incluindo a Sudene e o Ministério dos Transportes, tendo sido deputado federal e alcançado o Governo do Estado com reeleição. Luís Fernando Silva é técnico de excelência, foi secretário várias vezes e político com dois mandatos de prefeito de São José de Ribamar. Sob a coordenação de Sebastião Madeira, garantiram o funcionamento do Governo no afastamento do governador Carlos Brandão, durante a pré-campanha. Foram chamados de ultrapassados pelo senador Weverton Rocha e responderam com a vitória acachapante de Carlos Brandão.

Lahesio Bonfim (PSC): ex-prefeito de São Pedro dos Crentes, um pequeno município da região sul do estado, o médico Lahesio Bonfim saiu derrotado nas eleições, mas sua participação na disputa foi tão expressiva, que ele bateu o candidato do PDT, Weverton Rocha, e chegou em segundo lugar. Não se elegeu, mas saiu das urnas muitas vezes mais forte do que entrou.

Iracema Vale (PSB): ex-prefeita de Urbanos Santos, onde fez uma gestão arrojada, ganhou projeção regional. Candidata a deputada estadual, fez sua campanha associada à candidatura do governador Carlos Brandão à reeleição, saiu das urnas como campeã de votos para a Assembleia Legislativa, com mais de 100 mil votos. Antes de ser diplomada foi lançada candidata à presidência da Assembleia Legislativa com o apoio do governador Caros brandão, sendo apontada até aqui como franca favorita.

Ivo Resende (PSB): um dos quadros atuantes da novíssima geração de políticos maranhenses, o prefeito de São Mateus saiu de uma posição discreta para o epicentro do tabuleiro político estadual ao se eleger, por aclamação, presidente da Federação dos Municípios do Maranhão (Famem).

Quem perdeu

Roberto Rocha (PTB): No próximo dia 31 de fevereiro, o senador Roberto Rocha, terá encerrado, de maneira inclemente, um ciclo trágico da sua trajetória política. Sairá sem mandato, sem aliados no poder e sem perspectiva a curto prazo. Seus oito anos no Senado foram politicamente espantosos: em pouco tempo rompeu com o grupo de centro-esquerda que o elegeu, permaneceu algum tempo numa zona cinzenta, e em seguida se converteu ao bolsonarismo, tornando-se um dos seus mais ardorosos propagadores. Empolgado, avaliou que podia medir forças com Flávio Dino na disputa para o Governo. Foi massacrado. Em vez de repensar, mergulhou ainda mais na militância bolsonarista, e de novo achou que poderia peitar Flávio Dino na disputa para o Senado. Foi de novo trucidado. A partir de fevereiro, seu único vínculo com a política será sua filiação do PTB, um partido que já teve dignidade, mas que hoje representa a direita raivosa e sem futuro. Fecha 2022 como o maior perdedor da política maranhense.

Weverton Rocha: Poucos políticos tombaram tão feio quanto o senador e presidente do PDT no Maranhão. O ambicioso e arrojado projeto de poder que concebeu minuciosamente a partir da sua eleição de senador em 2018 para chegar ao Palácio dos Leões em 2022 revelou-se um equívoco monumental. Tentou impor sua candidatura à aliança liderada pelo então governador Flávio Dino, que optou pela candidatura do vice Carlos Brandão. Inconformado, avaliou que tinha cacife para uma carreira solo, rompendo com o grupo. Foi para o confronto, aliou-se ao bolsonarismo, apoiou Roberto Rocha para o Senado e acabou impiedosamente surrado pelas urnas. Fecha o ano apostando que vai se recompor nas asas do Governo Lula da Silva. Tem chance de se realinhar.

Edivaldo Holanda Jr. (sem partido): O ex-prefeito de São Luís chega ao final de 2022 vitimado por um inexplicável erro de avaliação. Diante das evidências de que não teria a menor chance de sucesso, se lançou na corrida ao Palácio dos Leões com dois objetivos: ser governador na base do “vai que cola” e fazer pré-campanha para a Prefeitura da Capital em 2024. Não passou bem perto dos Leões e descobriu que suas chances numa disputa com o prefeito Eduardo Braide (PSD) e com o deputado federal Duarte Jr. (PSB) são quase inexistentes. Perdeu boa chance de ser deputado federal e ficou sem rumo.

Deputados estaduais que não se reelegeram: Adriano Sarney (PV), Marco Aurélio (PSB), Helena Duailibe (PSD), Zé Inácio (PT), Pastor Cavalcante (PTB), Wendell Lages (PV), Socorro Waquim (PP), Vinícius Louro (PL), Pará Figueiredo (PL), Fábio Braga (Solidariedade), Edivaldo Holanda (PSD), Edson Araújo (PSB), Thaíza Hortegal (PDT), Leonardo Sá (PP), Ciro Neto (PDT), César Pires (PSD), Betel Gomes (MDB) e Adelmo Soares (PCdoB).

Os deputados federais que não se reelegeram: Gil Cutrim (Republicanos), Edilázio Jr. (PSD), Hildo Rocha (MDB), João Marcelo (MDB), Bira do Pindaré (PSB) e Zé Carlos (PT).

Lobão Filho (MDB): Há quem diga que ele se lançou, mas não se esforçou. Há também quem diga que ele não soube usar o capital político do pai, o ex-senador Edison Lobão (MDB). E há finalmente os que avaliam que política não é sua praia. O fato é que o ex-suplente de senador, que exerceu o mandato por bom tempo, amargou um tremendo fracasso nas urnas na tentativa de se eleger deputado federal. Não chegou a 15 mil votos, quando a expectativa era a de que saísse das urnas com pelo menos 100 mil votos.

Erlânio Xavier (PDT): até julho se movimentando como o todo-poderoso prefeito de Igarapé Grande, presidente da Famem, secretário geral do PDT e homem-forte da campanha do senador Weverton Rocha, Erlânio Xavier viu seu mundo se desmanchar no dia 1º com a humilhante derrota sofrida pelo seu candidato. Tentou minimizar o naufrágio fazendo campanha para o presidente Jair Bolsonaro no 2º torno, mas afundou ainda mais. Fecha o ano apenas como prefeito de Igarapé Grande, onde enfrenta problemas.    

Roseana Sarney (MDB): O fato de ter sido eleita deputada federal lhe deu uma vitória eleitoral, isso ninguém discute. Mas ao se avaliar o contexto dessa eleição, a conclusão é óbvia: a política Roseana Sarney não é nem de longe a líder política eleitoralmente poderosa que governou o Maranhão por quase 14 anos. Quando se candidatou, a avaliação que fazia era ade que sairia das urnas com pelo menos 250 mil votos, atuando como “puxadora” de outros candidatos do partido, como os dois que não se reelegeram. O MDB esperava pelo menos três maranhenses, mas ela chegará sozinha.

Simplício Araújo (Solidariedade): Candidato a governador, quando poderia ter disputado a Câmara Federal, o ex-secretário de Indústria, Comércio e Energia atuou como um político pouco inteligente e muito ingênuo. Poderia ter se mantido alinhado ao grupo, mas preferiu insistir no erro e termina o ano praticamente varrido da política.  

O bolsonarismo fracassou no Maranhão. Seus candidatos foram, em larga maioria, esnobados ostensivamente pelo eleitorado. Vários dos que sobreviveram estão a caminho de se reposicionar no cenário estadual.

 PONTO & CONTRAPONTO

Vitória

A volta improvável, mas espetacular do ex-presidente Lula da Silva (PT) à presidência da República depois de vitimado por um processo fraudalento, que lhe impôs uma prisão injusta de 580 dias. A vitória se deu com uma campanha limpa, sem os bilhões dos cofres públicos e com um discurso franco, sem mentiras. Na corrida às urnas, os maranhenses lhe deram mais uma vez votações superlativas nos dois turnos.

Derrota

A derrota do presidente Jair Bolsonaro (PL) aconteceu, mesmo tendo usado o aparelho de Estado e a insana máquina de produção de mentiras e da pregação ostensiva do ódio, transformando cidadãos ingênuos em massa de manobra. Ele conseguiu dividir o País, mas foi mandado embora, correndo o sério risco de parar na cadeia tão logo retorne das suas férias em Miami, paraíso onde se refugiam muitos malandros brasileiros.

São Luís, 29 de Dezembro de 2022.

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