Nenhuma fala do governador Flávio Dino (PCdoB) indicou até agora o motivo pelo qual ele tende a não apontar o ex-governador e atual deputado federal José Reinaldo Tavares (PSB) como um dos nomes que disputarão as duas cadeiras no Senado pela aliança governista em 2018. Nos bastidores, na crônica política, nas artérias da blogosfera e nas rodas de conversa estabeleceu-se a convicção de que o grande empecilho à unção do ex-governador como candidato da Situação são as suas posições alinhadas à direita no plano nacional – votou pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), duas vezes pela permanência do presidente Michel Temer (PMDB), a favor da reforma trabalhista e tende a apoiar a reforma da Previdência, entre outras posições -, mesmo se mantendo leal ao governador e às linhas gerais do seu Governo. O caso é, provavelmente, o mais revelador da celeuma partidária que transformou a realidade política brasileira numa espécie de geleia geral, na qual as escolhas partidárias se dão mais por conveniência e instinto de sobrevivência do que pela opção por um projeto para o País.
Quatro casos exemplificam bem essa confusão que escancara a falta de uma cultura política e partidária no país e que, pelas distorções que essa carência promove, torna o cenário partidário nacional um caso raro de uma contradição que se reflete nos movimentos da política do Maranhão.
O primeiro e mais importante envolve o ex-governador e atual deputado federal José Reinaldo Tavares, ainda filiado ao PSB, sem que em nenhum momento da sua vida política tenha mostrado qualquer traço de simpatia, por mais leve que fosse, pelos postulados da esquerda. As posições assumidas por José Reinaldo no Congresso Nacional são a própria tradução da sua plena identificação com o liberalismo, que representa a face mais democrática e moderna da direita, que rejeita qualquer postulado como a defesa intransigente da propriedade, a liberdade de mercado, a livre empresa, o conceito pleno de lucro e a redução da presença do Estado no processo econômico, postulados inaceitáveis, em diferentes medidas, pelo governador Flávio Dino e pelo comando nacional do PSB. O ex-governador já registrou, com bastante clareza, que não pretende afastar-se da aliança política do governador, mas foi igualmente claro ao afirmar também não mudará suas posições liberais, as quais defende como princípios. Além do mais, José Reinaldo tem demonstrado alinhamento político com o Governo do presidente Michel Temer, o que incomoda profundamente o Palácio dos Leões. O conflito de posições causou e alimenta o distanciamento, num processo em que não existe culpado, bandido ou mocinho e que se resolve quando um deles – no caso José Reinaldo – encontrar o seu quadrado partidário. Por conta das contradições ideológicas, o nó que está dado, e se José Reinaldo não procurar sua turma, terá de rever seu projeto, já que, a menos que haja um recuo radical por parte do governador Flávio Dino, ele dificilmente será candidato pela aliança governista.
O segundo exemplo está na contradição ideológica que embalou o senador Roberto Rocha até pouco tempo. As posições liberais assumidas pelo senador foram fator decisivo para o seu afastamento e rompimento com o governador Flávio Dino e da sua saída do PSB e retorno ao ninho dos tucanos, no qual se encaixa com perfeição. Roberto Rocha nasceu politicamente no seio da direita, na vertente sarneysista do valente e autêntico ex-líder estudantil, ex-vereador de São Luís, deputado estadual, ex-deputado federal, ex-prefeito de Balsas e ex-governador do Maranhão Luiz Rocha, também advogado e grande produtor rural, introdutor entusiasmado do agronegócio no estado, DNA ideológico que cedo ou tarde tornaria inviáveis sua permanência no PSB e sua condição de figura de proa no núcleo de comando na aliança comandada pelo governador. O rompimento foi, portanto, uma consequência natural de uma incompatibilidade de berço, reforçada com outros fatores, como a legítima e saudável ambição politica de cada um.
Os dois exemplos que se seguem são ao mesmo tempo ilustrativos e contundentes dessa contradição que alimenta a imprecisão da face e da essência de partidos de esquerda – porque, curiosamente, não há esquerdista “militando” em partido de direita. O primeiro: é muito difícil compreender que o deputado Raimundo Cutrim tenha se tornado um quadro do PCdoB. Delegado federal de carreira, que atuou fortemente nos anos de chumbo, quando a Polícia Federal foi usada pela ditadura para caçar e varrer do mapa político nacional militantes da esquerda, Raimundo Cutrim entrou na política pelas entranhas do sarneysismo com o qual rompeu e acabou ingressando no movimento liderado pelo governador Flávio Dino, tornando-se apenas uma voz e um voto governista na Assembleia Legislativa, sem qualquer traço de identificação com a matriz ideológica do partido ao qual está filiado ninguém sabe exatamente por que. O quarto exemplo: será possível que o ex-deputado Ricardo Murad – político nascido no berço de ouro do sarneysismo, recém-filiado ao PRP, tenha comandado o PSB e defendido teses socialistas no Maranhão? Saído do velho PDS no final dos anos 90 do século passado, depois de romper com o Grupo Sarney, abrigou-se no PSB, que se encontrava sem norte no Maranhão e cujo comando assumiu com estardalhaço, depois de encantar o respeitado deputado federal José Carlos Sabóia, à época o principal líder do partido no estado. Seu perfil claramente de direita não se encaixou no partido, como não se encaixaria depois no PDT. Voltou ao seu quadrado de origem.
Nesse contexto, impressiona que o ex-governador José Reinaldo, que terá portas abertas em qualquer agremiação partidária do centro e da direita insista em permanecer no PSB amargando as restrições que agora lhes são feitas e que se refletem com muita força no seu relacionamento cada vez mais frágil com o governador Flávio Dino que, tudo indica, dificilmente o anunciará como seu candidato a senador.
PONTO & CONTRAPONTO
Bacabal: Justiça afasta Zé Vieira e TSE deve cassá-lo, empossar Roberto Costa ou convocar nova eleição
O Maranhão político e a parte mais antenada do eleitorado acompanham o tenso e imprevisível desenrolar da guerra judicial pelo comando da Prefeitura de Bacabal, cujo desdobramento mais recente foi o afastamento do prefeito Zé Vieira e a providência da Câmara Municipal de convocar o vice-prefeito Florêncio Neto (PHS) para assumir o cargo, mas a convicção o alcançou sob o impacto de uma tragédia familiar (a morte do seu filho), causando um incômodo hiato de acefalia na gestão municipal.
A guerra em curso em Bacabal é travada, de um lado, pelo prefeito eleito e agora afastado Zé Vieira (PR), que lidera um grupo pesado que reúne pesos pesados da política local, como o ex-prefeito José Alberto e o deputado estadual Carlinhos Florêncio (PHS), que é pai do vice-prefeito Florêncio Neto, e de outro pelo deputado estadual Roberto Costa (PMDB), candidato do grupo liderado pelo senador João Alberto (PMDB) e segundo colocado na disputa.
A guerra se dá em duas frentes judiciais, uma na Justiça Eleitoral, alimentada por ação do Ministério Público Eleitoral que impugnou a candidatura de Zé Vieira argumentando que ele é ficha-suja, seguindo-se uma sucessão de recursos, de modo que a decisão está na agulha do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e a outra frente na Justiça comum e que, após a sucessão de recursos, chega à confirmação de que Zé Vieira é mesmo ficha suja e não pode ser prefeito, aliás, não poderia sequer ter sido candidato. O primeiro desfecho foi a ordem judicial (Justiça comum) afastando Zé Vieira e mandando o presidente da Câmara Municipal empossar o vice-prefeito, o que deve ser feito hoje ou amanhã.
Na frente eleitoral, o TSE vai decidir a qualquer momento se cassa ou não a chapa de Zé Vieira e assim o despacha junto com o vice-prefeito Florêncio Neto. É quase certo que decidirá pela cassação diante da confirmação da Justiça comum que Zé Vieira é ficha suja. Nesse contexto, a decisão esperada é se, cassada a chapa de Zé Vieira-Florêncio Neto, o cargo será entregue ao segundo colocado, deputado Roberto Costa, ou será empossado interinamente o presidente da Câmara Municipal e convocada nova eleição em 90 dias. O que for dito fora desse cenário é artimanha destinada a beneficiar um ou outro envolvido na peleja.
Uma pendência está resolvida: ainda que venha ser beneficiado por recurso improvável, Zé Vieira dificilmente voltará ao cargo, podendo ser considerado fora do jogo. E a julgar por tudo o que foi apurado e decidido até agora no âmbito da Justiça Eleitoral, uma avaliação simples e isenta sugere que o vento está soprando a favor do deputado Roberto Costa, embora seja também provável a convocação de nova eleição.
Wellington diz que se Fufuca e o PP quiserem, ele será candidato a governador ou a senador
“Se o PP e o André Fufuca quiserem, eu posso ser candidato à reeleição, a governador e a senador. Só não aceito ser candidato a deputado federal, para não disputar votos com André Fufuca (presidente do partido), que é meu líder, o cara politicamente mais correto que encontrei na política do Maranhão”. A declaração, feita em tom enfático, revelou o estado de ânimo do deputado estadual Wellington do Curso (PP) em relação ao seu futuro político imediato. Ao mesmo tempo, amenizou a impressão da Coluna de que estivesse amargando um processo de isolamento por conta das suas posições duramente críticas em relação ao Governo do Estado. Na conversa aberta e direta, Wellington do Curso causa a impressão de que a reaproximação do PP com o Palácio dos Leões, ao contrário do que muitos imaginam, não o coloca em situação delicada no partido nem refreiam suas investidas contra ações do Governo, que considera impróprias ou inadequadas. “Estou bem, e sinceramente não estou preocupado com eleição. Devo ser candidato à reeleição, mas não sou apegado a cargo e estou a disposição do partido e do meu líder André Fufuca. Vamos conversar. Se ele e o partido acharem que eu deva ser candidato à reeleição, eu serei. Se acharem que eu deva ser candidato a senador, eu serei. Mas se acharem que eu deva ser candidato a governador, eu serei. Não tem problema nenhum”, diz, com surpreendente firmeza em se tratando de um político jovem em ano eleitoral. Wellington do Curso não tocou no assunto, mas não consegue esconder que o seu grande projeto é disputar a Prefeitura de São Luís em 2020, acreditando que até lá terá ampliado e consolidado o espaço político e eleitoral que conquistou sozinho na eleição de 2016, quando bateu a casa dos 100 mil votos e foi o terceiro colocado na disputa em São Luís enfrentando o prefeito Edivaldo Jr. (PDT) e o deputado Eduardo Braide (PMN). Vale, portanto, acompanhar com atenção os próximos passos de Wellington do Curso.
São Luís, 28 de Outubro de 2017.
wellinton , o do curso, nao tem chance nenhuma. um falastrao polemico ele