Com aval palaciano, Iracema Vale lança candidatura e torna imprevisível a disputa para a presidência da Assembleia Legislativa

Iracema Vale vai disputar presidência da Assembleia Legislativa contra o atual presidente Othelino Neto, que busca novo mandato

Se as lideranças não construírem um acordo que levem a uma candidatura de consenso alinhada ao Palácio dos Leões, a eleição do próximo presidente da Assembleia Legislativa será marcada por uma disputa dura, como há muito não ocorre nas entranhas do Palácio Manoel Beckman. Isso porque a caminhada aparentemente segura e tranquila do atual presidente, deputado reeleito Othelino Neto (PCdoB), para continuar no comando do Poder Legislativo elegendo-se presidente para o primeiro biênio (2023/2024) da 20ª legislatura, foi fortemente abalada ontem pelo anúncio da candidatura da deputada Iracema Vale (PSB) ao cargo. A iniciativa da deputada eleita poderia ser um arroubo momentâneo de quem está mais interessada em ocupar algum espaço, mas a informação de que deputados importantes da base governista – como Rafael Leitoa, Antônio Pereira e Florêncio Neto, todos do PSB, e Arnaldo Melo, do PP, por exemplo – foi uma sinalização clara de que o gesto da parlamentar é, na verdade, um movimento com o aval do Palácio dos Leões.

Iracema Vale entrou na disputa embalada por vários argumentos. O primeiro é que, segundo fontes governistas, o governador Carlos Brandão (PSB) não teria firmado compromisso com a candidatura do presidente Othelino Neto a novo mandato presidencial, estando, portanto, à vontade para apoiar um candidato da sua preferência ou o próprio presidente. Outro argumento: boa parte da base governista da futura Assembleia Legislativa não apoiaria a eleição do presidente Othelino Neto para novo mandato presidencial. E ainda: além de ter sido a deputada eleita mais votada (104 mil votos), Iracema Vale argumentou que sua eventual eleição representará um avanço nos costumes políticos, à medida que, se eleita for, ela será a primeira mulher a comandar o Poder Legislativo do Maranhão. Esses argumentos já teriam mobilizado 15 deputados da base governista e da oposição.

– A mulher tem alcançado lugares importantes dentro do parlamento e da política. Com o nosso senador Flávio Dino indo para o Ministério da Justiça, teremos duas mulheres no Senado (uma delas será Ana Paula Lobato [PSB], esposa de Othelino Neto). Elegemos 12 mulheres para a próxima legislatura, mas ainda podemos avançar ainda mais nessas conquistas – declarou Iracema Vale justificando sua candidatura, que segundo ela não é uma imposição palaciana.

Por mais que seja politicamente normal – afinal, qualquer um dos 42 deputados eleitos para a 20ª legislatura está habilitado a se candidatar a presidente -, o pleito de Iracema Vale causa a forte impressão de um racha na base governista. Primeiro porque, enquanto o governador Carlos Brandão, não compromisso com o presidente Othelino Neto, o senador eleito Flávio Dino (PSB) avalizou a candidatura dele a novo mandato. Tanto que na semana passada, ao participar de uma reunião com o PCdoB, o senador eleito declarou que a candidatura de Othelino Neto estava “bem encaminhada”. A declaração de Flávio Dino e uma do próprio Othelino Neto dizendo-se convencido de que terá o apoio do governador Carlos Brandão, perderam completamente o sentido.

Se o “racha” se configurar com a manutenção das duas candidaturas, os líderes poderão deixar rolar o confronto no Legislativo ou entrarão em acordo para evitá-lo. No caso do “racha”, várias perguntas vêm à tona: Como se comportarão os 11 deputados do PSB? Seguirão a orientação do governador Carlos Brandão em favor de Iracema Vale? Votarão de acordo com a orientação do senador eleito Flávio Dino, que apoia a candidatura de Othelino Neto? Ou, finalmente, será construído um grande acordo dentro da base governista? O tempo dará resposta a essas indagações.

Fora disso, o fato é que até agora, o presidente Othelino Neto tem uma candidatura sólida, bem encaminhada e com todas as chances de sair vitoriosa. A entrada da deputada eleita Iracema Vale na disputa, se for mesmo embalada pelo poderoso combustível palaciano, como está se mostrando, muda todo cenário. E uma mudança com essa envergadura tornará absolutamente imprevisível a eleição do novo presidente da Assembleia Legislativa. Lembrando que ainda faltam 52 dias para o pleito, com Natal, Ano Novo e posse do novo Governo estadual pelo meio.

PONTO & CONTRAPONTO

Começa agora, para valer, a divisão dos votos dos deputados eleitos e reeleitos pelo comando do Legislativo

Rodrigo Lago apoia Othelino Neto, enquanto Antônio Pereira e Rafael Leitoa

No jogo de poder pelo comando da Assembleia Legislativa, caso não haja um grande acordo, as bancadas caminharão unidas ou se dividirão. O alvo da maior atenção são os 11 votos do PSB, partido comandado pelo governador Carlos Brandão, que apoia o pleito de Iracema Vale, e liderado pelo senador eleito Flávio Dino, que avaliza a candidatura de Othelino Neto, cujo partido, o PCdoB, tem cinco votos, e devem todos sufragar o presidente, a exemplo do deputado eleito Rodrigo Lago, que lhe declarou apoio.   Para onde for o seu chefe maior, deputado federal Josimar de Maranhãozinho, os cinco votos do PL irão junto, o mesmo devendo acontecer com os quatro votos do PDT, que devem seguir a orientação do senador Weverton Rocha. Os três votos do PP seguirão rumos próprios, uma vez que o deputado Arnaldo Melo já declarou apoio a Iracema Vale, enquanto seu colega Rildo Amaral está fechado com o presidente Othelino Neto. Um dos dois votos do PSC, o do deputado reeleito Wellington do Curso, já foi dado para o presidente Othelino Neto. Um dos dois votos do PSD está decidido com o apoio da deputada Mical Damasceno ao presidente Othelino Neto. Como irão os três votos do Patriotas, os dois do União Brasil, os dois do MDB, os dois do Podemos e o solitário do Republicanos? O jogo da divisão começa agora.

Se Lula anunciar Dino para ministério, Ana Paula será senadora por tempo indeterminado

Se for nomeado ministro, Flávio Dino abrirá vaga para Ana Paula Lobato no Senado

A sexta-feira começa com a expectativa em relação ao anúncio de alguns ministros pelo presidente eleito Lula da Silva (PT). Se o senador eleito Flávio Dino (PSB) for confirmado para o Ministério da Justiça, o presidente da Assembleia Legislativa, deputado reeleito Othelino Neto (PCdoB), terá motivos de sobra para comemorar: sua esposa, Ana Paula Lobato, 1º suplente do senador Flávio Dino, assumirá o mandato senatorial no início de fevereiro, pelo tempo em que o titular permanecer trabalhando na Esplanada dos Ministérios.

São Luís, 09 de Dezembro de 2022.

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