A campanha para a Prefeitura de São Luís está nas ruas. Os nove candidatos a prefeito se desdobram, cada um a seu modo, para parecerem salvadores da pátria, apresentando-se como donos de soluções para os problemas de uma cidade com 1,1 milhão de habitantes, que é ao mesmo tempo campeã em áreas invadidas, abrigando ocupações gigantescas, e Cidade Patrimônio Cultural da Humanidade devido ao seu fantástico e ameaçado acervo de prédios coloniais; uma cidade que tem um dos portos mais importantes do País, mas não conseguiu colocar todas as suas crianças na escola, para citar algumas incômodas contradições .E nesse contexto, duas situações deste início da corrida às urnas preocupam. A primeira é que a campanha, que parecia destinada a ser um grande momento em que os problemas da Capital do Maranhão seriam discutidos pela sua mais nova geração de políticos, corre o risco de se tornar mais um embate à moda antiga, envolvendo temas menores, de pouca importância. A segunda: a corrida eleitoral da Capital está sendo judicializada, como se os candidatos fossem políticos velhos, viciados e ardilosos, numa inversão de objetivo aparentemente sem muito sentido.
No primeiro caso, a sabatina dos candidatos feita pelo jornal O Estado Maranhão foi reveladora. Os nove candidatos sabatinados trataram de alguns problemas – saúde, educação, mobilidade urbana, entre outros de menor importância -, jogando para debaixo do tapete questões essenciais e desafiadoras. A metropolização, por exemplo, foi solenemente ignorada por todos os candidatos. Nenhum deles falou sério e com propriedade sobre saneamento básico, como também ninguém se comprometeu em brigar para levar à frente o programa de revitalização do centro de São Luís. Preferiram perdeu tempo e conversa sobre o VLT, um tipo de transporte público ainda experimental de implantação cara por que exige uma linha férrea.
Nenhum candidato assumiu o compromisso a livrar as duas áreas da Praça Deodoro do feirão a céu aberto onde se vende roupa, calçados, comida quente, frutas, enfim, tudo o que é vendável, e que restringe, de maneira agressiva, a mobilidade na área mais nobre do coração de São Luís. Ninguém externou qualquer preocupação com o ordenamento do espaço público na cidade, que é hoje ocupado vendedores, que simplesmente chegam e instalam seus carrinhos, bancas e outros apetrechos sem dar a menor importância para a ordem pública. Nenhum disse ter nas suas prioridades como prolongamento da Avenida Litorânea e da Via Expressa, fundamentais para melhorar a malha viária da cidade. Nenhum deles sequer mencionou o que pretende fazer com a palafita que a cada dia se amplia às margens da Avenida Ferreira Gullar, nas imediações da Ponte José Sarney e que virou uma imagem grotesca para quem percorre a Beira-Mar ou atravessa a ponte. Ninguém falou, enfim, dos inexistentes limites da cidade, de como urbanizar corretamente bolsões como o eixo Itaqui-Bacanga, a região do Coroadinho.
Edivaldo Jr. (PDT), Eliziane Gama (PPS), Wellington do Curso (PP), Rose Sales (PMB), Fábio Câmara (PMDB), Eduardo Braide (PMN), Valdeny Barros (PSOL), Cláudia Durans (PSTU) e Zéluiz Lago (PPL) se limitaram à pauta genérica da sabatina e se repetiram sobre saúde, educação e mobilidade urbana, como se uma cidade com tantos problemas e tantos desafios. Quando o tema foi educação, os sabatinados via de regra criticaram a situação precária da rede escolar do município e da baixa qualidade do ensino, da falta de iniciativa da atual gestão, mas nenhum candidato revelou com precisão um projeto mínimo para mudar o quadro criticado. O mesmo aconteceu em relação à saúde e à mobilidade urbana. Ninguém se propôs a resolver o problema do transporte paralelo que invaviu a cidade, como mototáxi, táxi-lotação, vans. Quem leu o resumo de cada sabatina se surpreendeu com a maneira como a São Luís Capital, Cidade Patrimônio Cultural da Humanidade, epicentro de uma região metropolitana informal foi minimizada, como se suas excelências estivessem falando de uma cidade menor.
O que compromete a qualidade da campanha é a judicialização. O bom senso sugere que nenhum dos candidatos a prefeito de São Luís, a começar pelo próprio prefeito Edivaldo Jr., tem mancha ética na sua trajetória. Mas a Rede, que é ainda um simulacro de partido, sem qualquer expressão ou autoridade política, resolveu protocolar duas ações na Justiça Eleitoral questionando a correção administrativa do prefeito – o grau de maldade foi tamanho que chegou-se a divulgar o absurdo segundo o qual o PDT estaria cogitando substituir a candidatura de Edivaldo Jr. pela de sua esposa, Camila Holanda, que sequer tem filiação partidária. Veio então o contra-ataque: partidos aliados do prefeito resolveram denunciar um suposto – e improvável – desvio de conduta da deputada Eliziane Gama com verba da Câmara Federal. Todas são ações conteúdo frágil, que parece não resistir a avaliação criteriosa.
Se os candidatos e líderes partidários não caírem na razão imediatamente, a nova geração de políticos causará má impressão na sua primeira grande participação no destino da cidade.
PONTO & CONTRAPONTO
Judicialização também ganha corpo em Imperatriz
A judicialização da campanha ganha peso também no interior. Em Imperatriz, o Ministério Público Eleitoral (MPE) impugnou a candidatura do ex-prefeito Ildon Marques (PSB), que segundo as últimas pesquisas lidera a corrida para a Prefeitura. Chama a atenção o fato de o PME ignorar decisão recente do Supremo Tribunal Federal (STF) segundo a qual só as Câmaras Municipais podem reprovar prestações de contas e, assim, tornar inelegíveis os prefeitos por elas responsáveis. Ildon Marques tem contas rejeitadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU), mas todas as suas prestações de contas foram aprovadas pela Câmara Municipal de Imperatriz, o que, de acordo com a decisão recente do STF, não impede a sua candidatura, já que não transforma num ficha-suja. O MPE abre uma polêmica que certamente vai desembocar no STF. O mesmo está acontecendo com o ex-prefeito Zé Vieira (PP) em Bacabal.
Fábio Câmara promete virar o jogo durante a campanha
O vereador Fábio Câmara tem garantido a líderes do PMDB que vai sair do segundo bloco – dos que têm menos de 10% das intenções de voto – para encostar nos integrantes no primeiro bloco, hoje liderado pelo prefeito Edivaldo Jr.. Câmara avalia que tem a “cara do povo” e está convencido de que tem discurso e propostas para convencer o eleitorado da Capital de que ele é o verdadeiro adversário do prefeito e o postulante mais preparado para administrar São Luís. Tudo indica que o candidato do PMDB vai tentar puxar Wellington do Curso e Eliziane Gama para a briga, por acreditar que nesse embate ele tem condições de mostrar-se mais preparado do que os adversários.
São Luís, 20 de Agosto de 2016.