
é forte e pode lançar candidato Orleans Brandão
ou Iracema Vale no jogo da sua sucessão sucessor
O vice-governador Felipe Camarão (PT) está fora do jogo sucessório? Não está. A cúpula nacional do seu partido o tem como um projeto político e eleitoral viável, e o caso do print ofensivo à deputada Mical Damasceno (PSD) é uma bomba em potencial, mas por enquanto é ainda um caso de polícia, que deve ter desdobramentos. Difícil, portanto, supor que esse caso o retire da vida política, ainda que possa lhe arranhar o prestígio. Felipe Camarão já sabe o que é a guerra pelo poder. Tem plena consciência de que se encontra no olho do furacão em que se transformou a disputa sucessória com a decisão de Flávio Dino de renunciar ao mandato de senador para ser ministro da Suprema Corte.
O vice-governador quer ser governador e tem o apoio incondicional do grupo dinista, que teve muito poder, mas perdeu quase tudo com a ascensão do governador Carlos Brandão (PSB), que por conta do rasgo de independência, encarou o rompimento com seu antecessor Flávio Dino, fazendo o que há de mais natural na política: decidiu seguir caminho próprio e nele tentar manter o poder. No seu projeto, definiu que a peça-chave é o secretário Orleans Brandão (MDB), de Assuntos Municipalistas, seu sobrinho e braço direito na política, contando com o aval de um batalhão de prefeitos, a começar pelo de Bacabal, Roberto Costa (MDB), que preside a poderosa e influente Famem. Seu cacife político é enorme, e pode ser transformado em ativo eleitoral.
Os bastidores da política estão tensos, e nesse ambiente se avalia que só existem três situações capazes de impedir o confronto entre essas duas correntes.
A primeira: o governador Carlos Brandão sai para o Senado, o vice Felipe Camarão assume e disputa a reeleição, continuando tudo como previsto quando ainda havia diálogo entre Carlos Brandão e Flávio Dino. É o projeto defendido por dinistas, mas hoje ferreamente rejeitado por brandonistas. A segunda situação: Felipe Camarão renuncia e disputa vaga na Câmara Federal e Carlos Brandão sai para concorrer ao Senado, abrindo caminho para a presidente da Assembleia Legislativa, Iracema Vale (PSB), que, sem poder disputar a reeleição, articula a escolha de um candidato. É um projeto que agrada e desagrada aos dois lados. E a terceira situação: Carlos Brandão permanece no Governo e lança Orleans Brandão, obrigando Felipe Camarão a permanecer vice-governador até o fim. É o sonho do grupo brandonista, fortemente rejeitado por dinistas.
A verdade é que, assim como Felipe Camarão precisa que Carlos Brandão renuncie para que ele possa ser governador e candidato à reeleição, Carlos Brandão precisa que Felipe Camarão renuncie, para que ele possa também renunciar, emplacar Iracema Vale, lançar um candidato leal e disputar o Senado. A grande vantagem do governador Carlos Brandão é que ele está politicamente forte, o que lhe dá cacife para estimular o projeto de candidatura de Orleans Brandão, caso consiga isolar Felipe Camarão permanecendo no Governo para ficar sem mandato a partir de 1º de janeiro de 2027, elegendo ou não o seu sucessor. Muitos brandonistas perguntam se vale o risco.
A julgar pelo que está acontecendo nesse momento, sem um grande acordo, esses três cenários são absolutamente inviáveis. Nos bastidores, corre a informação, não confirmada, de que o governador Carlos Brandão topa sentar e até deixar o Governo em favor de um candidato de consenso, desde que o seu sucessor não seja Felipe Camarão. E também que o vice-governador não admite abrir mão de assumir o Governo se o governador renunciar. Assim, a única alternativa que Carlos Brandão tem é permanecer no cargo e lançar o seu candidato, no caso Orleans Brandão, projeto que está em andamento.
Sem portas abertas para uma grande negociação, Felipe Camarão e Carlos Brandão vão, cada um a seu modo, mantendo os seus espaços e seus trunfos, e administrando o cenário até o dia 3 de abril do ano que vem.
PONTO & CONTRAPONTO
Bom exemplo: apesar da tensão política, Brandão passará Governo para Camarão por uma semana
Em meio aos confrontos da guerra pelo poder, o governador Carlos Brandão (PSB) dá uma demonstração surpreendente da ampla compreensão que tem do que sejam relações institucionais. Na próxima semana, ele embarcará para cumprir uma agenda na Europa, passará uma semana fora, deixando, como manda a lei e a civilidade republicana, o Governo e o Estado sob o comando do vice-governador Felipe Camarão (PT).
Provavelmente inspirado na saudável relação que manteve durante sete anos e três meses como vice no Governo Flávio Dino, tempo em que foi escalado para inúmeras missões dentro e fora do Brasil, incluindo cinco viagens à China em busca de acordos comerciais, Carlos Brandão não restringe o papel institucional do vice-governador Felipe Camarão.
Naturalmente, existe um pacto não declarado de que, na interinidade como governador, o vice não vai interferir nas ações do Governo, salvo em situações em que a atuação do chefe do Poder Executivo, titular ou interino, seja exigida, como um problema grave de segurança, uma catástrofe ou coisa parecida.
O governador Carlos Brandão (PSB) embarca na próxima semana para a Europa onde cumprirá missão oficial em Paris (França) e Estocolmo (Suécia). Será a segunda vez em 2025 que Felipe Camarão assumirá o Governo interinamente. E a julgar pelos antecedentes dessa convivência institucional, Felipe Camarão deverá cumprir o mandato interino sem atropelos, ao tempo em que o governador Carlos Brandão fará a sua parte no Velho Mundo.
Clima na Assembleia é amenizado; Iracema trabalha para evitar excessos
O clima de tensão no plenário da Assembleia Legislativa foi amenizado ontem. Deputados dinistas continuaram criticando o Governo, mas num tom mais ameno. Os deputados governistas também reagiram sem muita ênfase. A exceção foi o deputado Carlos Lula (ainda no PSB), que abriu a metralha oposicionista acusando o Governo de ter anunciado e não realizado a duplicação da MA-320.
O amortecimento da tensão teria sido em parte o resultado de uma movimentação da presidente da Casa, Iracema Vale (PSB), que vem administrando com cuidado e eficácia o jogo pesado entre dinistas e brandonistas. Sem interferir nos debates, a presidente tem sido dura na administração do tempo de tribuna, pedindo cautela no uso de termos fortes e orientando para que agressões pessoais sejam evitadas.
Mesmo sendo parte importante do jogo político em curso, partidária assumida do governador Carlos Brandão, manifestando também simpatia ao projeto de candidatura do secretário Orleans Brandão, a presidente Iracema Vale mantém linha aberta com todas as correntes, atuando plenamente como chefe de Poder.
A maneira como vem conduzindo o plenário e os bastidores nessa crise tem mostrado isso com clareza.
São Luís, 29 de Maio de 2025.