Bolsonaro não deu trela para aliados políticos no Maranhão, mas também não recebeu muitos afagos

 

Em Bacabeira, momento de civilidade política: Jair Bolsonaro entre os prefeitos Fernanda Gonçalo e Hilton Gonçalo (Santa Rita) e apoiadores de Carlos Brandão

A visita do presidente Jair Bolsonaro (PL) a três municípios maranhenses – Imperatriz, Vitória do Mearim e Bacabeira -, produziu uma situação política absolutamente estranha e curiosa. Foi como se todo mundo fizesse de conta que nada aconteceu. O presidente ignorou solenemente os pré-candidatos a governador ligados à sua base – o senador Weverton Rocha (PDT) e o ex-prefeito de São Pedro dos Crentes Lahesio Bonfim (PSC) -, declarou apoio apenas ao projeto de reeleição do senador Roberto Rocha (PTB), não fez provocações ao governador Carlos Brandão (PSB) nem ao ex-governador Flávio Dino (PSB), que lhe fazem oposição e lideram a corrida ao Governo e ao Senado, respectivamente, preferindo vender seu “pacote de bondades eleitoreiras”, para tentar pelo menos diminuir a surra de votos prenunciada pelas pesquisas. Seus adversários não reagiram à sua passagem pelo território maranhense, respeitando sua chefia sobre a Federação. A atitude do presidente de cuidar apenas do seu projeto de reeleição fez com que, no geral, os políticos que o apoiam – entre eles a prefeita de Lago da Pedra, Maura Jorge, que se vestiu de verde do pescoço aos pés, e a deputada Mical Damasceno (PSD), que se cobriu de amarelo -, tenham reagido com moderação.

Vale registrar que o presidente Jair Bolsonaro visitou Imperatriz atendendo a pedido de pastores-líderes da Assembleia de Deus, ali reunidos em convenção; esteve em Vitória do Mearim por se tratar de território político do senador Roberto Rocha – uma tia dele foi prefeita de lá até 2020; e foi a Bacabeira ver o que restou do projeto da Refinaria Premium da Petrobrás lançado pelo presidente Lula da Silva e desfeito perla presidente Dilma Rousseff (PT). O que foi dito oficialmente foi conversa para boi dormir.

Esse ambiente de cautela, se analisado com um pouco mais de atenção, é claramente explicado pela baixa popularidade do presidente da República no Maranhão, conforme registraram todas as pesquisas feitas até aqui sobre a corrida eleitoral no estado e no País. Jair Bolsonaro sabe que, mesmo com o “Auxílio Brasil” e a forçada de barra sobre os governadores, em especial os nordestinos, ele dificilmente vencerá a disputa com Lula da Silva (PT) no Maranhão. A diferença é abissal, o sentimento contra Jair Bolsonaro é latente, o que torna seus apoiadores entusiasmados um grupo pouco expressivo no cenário político estadual, e faz com que a possibilidade de reverter esse cenário seja quase nula. Sua vinda ao Maranhão é parte de uma estratégia de tudo ou nada para reverter a situação, ou pelo menos atenuar sua posição nesse contexto. Ao mesmo tempo, o presidente sabe que alguns apoiadores preferiram não aparecer do seu lado, para não correr risco de rejeição eleitoral. Ele também provavelmente preferiu não aparecer ao lado de alguns aliados, temendo queimação.

Chamou a atenção o fato de o deputado federal Josimar de Maranhãozinho, que preside o PL no Maranhão, não ter comparecido ao ato de Imperatriz. Estava em Brasília votando na PEC, na quarta-feira, mas nada o impediu de estar em Vitória do Mearim e Bacabeira. Simpatizantes do presidente Jair Bolsonaro, que fazem oposição circunstancial ao governador Carlos Brandão, tentaram “dourar” a incursão pré-eleitoral do presidente no Maranhão apontando aliados do Governo do Estado em eventos da visita presidencial. Não há, porém, notícia de que algum deles tenha declarado apoio político e eleitoral ao presidente, que, até onde se sabe, também nada lhes pediu em matéria de apoio político e eleitoral.

Resumo da opereta: o presidente Jair Bolsonaro veio ao Maranhão em busca de resolver o seu problema político e eleitoral, e não injetar ânimo em aliados, que, como ele próprio sabe, enfrentam sérios problemas para deslanchar, a começar pelo fato de que muitos deles querem distância do seu nome nas suas campanhas.

 

PONTO & CONTRAPONTO

 

Weverton confirma aliança com bolsonarismo e endossa projeto contra Dino

Weverton Rocha: apoio de Jair Bolsonaro

O senador Weverton Rocha, pré-candidato ao Governo pelo PDT, não ciceroneou o presidente Jair Bolsonaro no Maranhão, mas tem confirmado que de fato tem uma aliança com o bolsonarismo. Tanto que declarou, com toda a clareza, o que todo mundo já suspeitava e ele inicialmente negou, mas depois foi admitindo a conta-gotas: não assinou a CPI do MEC por conveniência política. Quando perguntado sobre sua relação com o bolsonarismo, o senador recorre ao argumento que usa o pragmatismo na sua versão mais extremada, o de que ele não tem candidato a presidente, de modo que se eleito for estará no dia seguinte batendo às portas do Palácio do Planalto para pedir recursos para o Maranhão. O pré-candidato do PDT sabe que não é exatamente isso que está acontecendo. O partido dele, o PDT, tem um candidato, Ciro Gomes, ao qual ele até hoje não deu qualquer importância. Ele tentou o apoio de Lula da Silva, mas não deu certo, porque o PT fez aliança com o PSB e optou por apoiar Carlos Brandão ao Governo e Flávio Dino ao Senado. Weverton Rocha agora é apoiado por todas as forças bolsonaristas e diz que não tem o compromisso de apoiar a candidatura do presidente, mesmo tendo como vice o deputado Hélio Soares, do PL, sem dizer também que não tem compromisso de se posicionar contra a candidatura presidencial. Só que a postura do presidente Jair Bolsonaro de ignorar pré-candidatos a governador sinalizou claramente que o Palácio do Planalto está usando o senador pedetista para viabilizar o único projeto eleitoral que interessa ao presidente da República no Maranhão: impedir a eleição de Flávio Dino reelegendo o senador Roberto Rocha. Isso significa dizer que até aqui o seu projeto não vai nada bem.

 

Dino avalia que “pacote de bondades” não recuperará Bolsonaro

Flávio Dino diz que Jair Bolsonaro é irrecuperável e vai perder a eleição

Do ex-governador Flávio Dino, pré-candidato ao Senado pelo PSB, uma das vozes mais duras e ao mesmo tempo mais sensatas, no mundo oposicionista, ao comentar a incursão do presidente Jair Bolsonaro (PL) a municípios maranhenses anunciando seu “pacote de bondades” de curta duração:

“Os mesmos que preveem a ‘recuperação de Bolsonaro’ desde 2019, sem que isso ocorra, estão prevendo-a novamente, por força de benefícios temporários e limitados. Não vejo assim. Creio que ele é irrecuperável e perderá a eleição”.

Com militância política diuturna desde que assumiu o Governo do Maranhão em 2015, Flávio Dino tem autoridade política e competência analítica para avaliar com precisão e acerto qualquer situação política no Brasil atual. Sabe, portanto, o que está dizendo quando escreve que o presidente Jair Bolsonaro é irrecuperável.

São Luís, 15 de Julho de 2022.

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