Foi um ano essencialmente político para o Congresso Nacional. Senado da República e Câmara Federal foram transformados em campos de batalha nos quais governo e oposição travaram embates memoráveis em meio a uma crise política sem precedentes neste século, tendo a presidente da República chegado ao Natal ameaçada de sofrer impeachment, e em meio a uma crise econômica fortemente corrosiva que impôs ao país um encolhimento do Produto Interno Bruto (PIB) da ordem de 3,5%, por muitos considerado uma catástrofe. Nesse cenário ímpar, o Senado da República foi muito mais do que o Poder Moderador, pois ali as decisões foram tomadas no embate forte, nos quais os três senadores maranhenses – João Alberto (PMDB), Edison Lobão (PMDB) e Roberto Rocha (PSB) – se movimentaram intensamente, cada um em campo de ação próprio, mas raramente atuando como bancada no que diz respeito aos interesses do Maranhão. Os três se destacaram, apesar das muitas dificuldades que, de um modo geral, os congressistas enfrentaram.
O senador João Alberto (PMDB) teve um ano de muito movimento nos bastidores da Câmara Alta, dedicado principalmente à tarefa quase diária de manter de pé e intacta a bancada do PMDB e manter afastadas as ameaças que cotidianamente rondaram o Palácio do Planalto a partir do Congresso Nacional.
Aos 80 anos e no segundo – e, conforme declarou, o último – mandato senatorial, o senador João Alberto foi lançado para o centro do campo de batalha ao ser escolhido, pela quinta vez, presidente do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar do Senado. Ele relutou, chegou a recusar, mas por ser um político íntegro e experiente, a bancada do PMDB fez sobre ele uma pressão tão forte que acabou por dobrá-lo. Ao assumir, deixou bem claro o que para ele é fundamental: sob sua presidência, denúncia contra senador só será aceita com provas documentais ou materiais indiscutíveis, não aceitando como peça acusadora recortes de jornais e revistas, por exemplo. Na semana passada, entrou para o olho do furacão ao receber a denúncia feita pelos senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e José Medeiros (PPS-MT) contra o ex-líder do Governo, senador Delcídio do Amaral (PT-MT), preso na Operação Lava Jato sob a acusação de operar para atrapalhar as investigações. No mesmo ato, recebeu denúncia contra o denunciador Randolfe Rodrigues, acusado de participar de esquema no Governo do Amapá. Na votação politicamente mais importante do Senado, João Alberto votou contra a prisão do senador Delcídio do Amaral (PT).
A monumental confusão que vem sacudindo o Senado não impediu o senador Joao Aberto de atuar como parlamentar: é vice-presidente da Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo, titular da Comissão de Assuntos Econômicos, da Comissão de Ciência e Tecnologia e da Comissão de Educação. Foi relator de várias matérias e peregrinou muitas vezes na Esplanada dos Ministérios. E no campo essencialmente político, integra a ala do PMDB alinhada ao Palácio do Planalto e que não aceita o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). Fecha o ano com bom saldo político e parlamentar.
O senador Edison Lobão (PMDB) está fechando o que com certeza foi o pior ano da sua longa e rica trajetória política. Um dos parlamentares mais experientes de todo o Congresso Nacional, do qual foi presidente, o senador maranhense teve um ano dividido entre o trabalho no Senado e o enfrentamento duro e implacável de uma denúncia na Operação Lava Jato. Tal situação o obrigou a atuar de maneira mais discreta, mas não o impediu de atuar intensamente no campo parlamentar. Lobão preside a importante Comissão de Assuntos Sociais e é titular da Comissão de Constituição e Justiça e da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, tendo participado de todas as reuniões e relatado matérias.
Aos 79 anos, o senador atuou fortemente como um dos articuladores do PMDB para garantir apoio sólido à presidente Dilma Rousseff, tendo sido seu ministro de Minas e Energia e com quem firmou sólida amizade. Lobão é também um interlocutor frequente do vice-presidente Michel Temer. Respeitado por sua habilidade política, Lobão não aceita a denúncia de que teria participado de um esquema na Petrobras que teria rendido R$ 1 milhão para a campanha da então governadora do Maranhão e candidata à reeleição Roseana Sarney (PMDB). Logo que foi acusado, ainda no primeiro semestre, o senador pemedebista reagiu com um duro discurso no Senado, cuja versão mantém intacta, pois até agora não surgiu qualquer traço de prova que desse sentido à acusação. Apesar da pancadaria que vem sofrendo na grande imprensa, o senador Edison Lobão chega ao final de 2015 de pé, atuando como parlamentar e reafirmando a versão de que nada deve e que está sendo injustiçado. Fecha 2015 entre a cruz e a espada, mas mostrando dignidade e coerência.
Saído das urnas eleito numa dobradinha com o ex-deputado federal Flávio Dino para governador, o senador Roberto Rocha (PSB) desembarcou no Senado da República disposto a conquistar espaço próprio. No campo parlamentar propriamente dito, ele operou com desenvoltura e intensidade, ocupando a tribuna com frequência, apresentando projetos de lei importantes, como o que propõe o aumento do valor do Bolsa Família, por exemplo. Atuou corretamente na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, considerada a mais importante da Casa, da qual é titular e foi relator de vários projetos, participando das discussões e votações mais importantes da Casa em matéria legislativa.
Aos 49 anos e com a experiência de um mandato de deputado estadual, dois de deputado federal, um incompleto de vice-prefeito de São Luís e transportando na pasta o aprendizado com o pai, ex-governador Luiz Rocha, uma das raposas mais bem sucedidas da política maranhense, Roberto Rocha vem atuando como quem quer se desvencilhar de uma amarração com o governador Flávio Dino. Isso não quer dizer que esteja querendo romper e se afastar do governador. Ele tem dado demonstrações de que quer se manter como aliado, mas com caminho aberto para traçar a trajetória que bem entender. Nesse sentido, o senador do PSB tem atuado com visível independência, inclusive em relação ao seu partido, do qual discorda, por exemplo, na discussão do impeachment da presidente Dilma Rousseff, sendo o PSB a favor e ele contrário. Seu primeiro ano no Senado da República foi altamente positivo, tanto no campo legislativo quanto na seara política.
Não foi um ano normal, e mesmo marcado por fortes tensões, o Senado da República abriu caminho para que mandatos que poderiam ser refreados pela timidez ganhassem mais agilidade e mais espaço no tabuleiro do Congresso Nacional. Assim, cada um com as suas características, os senadores maranhenses fizeram a sua parte.
São Luís, 24 de Dezembro de 2015.