Por meio da contribuição dos seus 42 deputados, que destinaram, cada um, R$ 100 mil das suas emendas parlamentares, formando uma bolada de R$ 4,2 milhões como ajuda para superar a crise financeira que atinge o Hospital Aldenora Bello, a grande referência maranhense no combate ao câncer, a Assembleia Legislativa conseguiu um evento raro: se posicionar integralmente como instituição em relação a um problema de natureza social. Ao anunciar, ontem, o documento-compromisso firmado por todos os membros da Casa, o presidente Othelino Neto (PCdoB), idealizador e articulador da iniciativa, mostrou que é possível superar as muitas e profundas diferenças políticas ali existentes quando as responsabilidades são divididas por igual. A crise financeira do Hospital Aldenora Bello (HAB), pertencente à Fundação Jorge Fino, é longeva e alcançou agora um grau tão elevado que seus dirigentes foram obrigados a suspender alguns serviços básicos no atendimento a pacientes. Com a iniciativa formalizada ontem, a instituição terá em pouco tempo recursos para respirar por algum tempo.
A crise financeira do Hospital HAB desembarcou no plenário da Assembleia Legislativa há dois meses, quando deputados, entre eles Yglésio Moyses (PDT), que é médico, trataram do assunto e alertaram para as consequências sobre pacientes pobres atendidos pelo SUS. Houve tentativas da Oposição de jogar o problema para o Governo do Estado, mas logo veio a Secretaria de Estado da Saúde para esclarecer que já transfere mensalmente recursos para o HAB, não sendo possível aumentar o valor das transferências mensais, por não haver dinheiro e porque não há base legal para esse tipo de ajuda, a começar pelo fato de que a Fundação Jorge Dino é uma organização privada e já conveniada com o SUS e com dificuldades para aprovar suas prestações de cintas no Tribunal de Contas da União. A crise produziu vários debates, causou reuniões, e continuou repercutindo até que o presidente Othelino Neto entrou no circuito, com sua autoridade de presidente de Poder e sua habilidade de articulador.
A solução consumada ontem foi proposta pelo presidente da Assembleia Legislativa em reunião realizada no Palácio Manoel Beckman no dia 08 deste mês, com a participação de deputados, dirigentes da Fundação Jorge Dino, representante do Ministério Público e o secretário de Estado da Saúde, Carlos Lula. Exposta a situação financeira do HAB e evidenciado não haver fonte de recursos para contornar a crise, o presidente Othelino Neto propôs uma solução: cada um dos 42 deputados abriria mão de R$ 100 mil de suas emendas parlamentares, formando uma bolada de R$ 4,2 milhões, para destiná-la ao HAB. A proposta do presidente foi intensamente discutida nos bastidores, mas todos os deputados concordaram, entre eles um grupo que inicialmente resistiu. Para conseguir a unanimidade, o presidente da Assembleia Legislativa conversou com praticamente todos os deputados, obtendo a concordância.
O documento-compromisso apresentado ontem com a concordância dos 42 deputados garante o dinheiro para a Fundação Jorge Dino, mas não será uma doação pura e simples. O documento exige o máximo de transparência na aplicação dos recursos, e estabelece ainda a exigência de que seja apresentada uma prestação de contas. O documento foi encaminhado ao Governo do Estado, que liberará os recursos relativos às emendas parlamentares e os repassará à Fundação Jorge Dino.
Com a definição de uma solução parcial para o problema financeiro do HAB, por meio de uma articulação que envolveu todos os atuais deputados estaduais, o presidente Othelino Neto demonstrou que uma boa argumentação política pode aparar arestas, eliminar distância e superar diferenças aparentemente insuperáveis. Mais do que isso: a operação desfechada ontem gerou a certeza de que uma boa articulação política pode produzir resultados práticos com o envolvimento direto de 42 integrantes de um parlamento tão plural e marcado por profundas divergências. A solução parcial, mas de efeito imediato, dada à crise financeira do HAB, é um bom sinal de que em política p melhor caminho é o diálogo, mesmo que esse seja sacudido por confrontos.
Em Tempo: Participaram do ato de apresentação do documento-compromisso os deputados Yglésio Moyses (PDT), Cleide Coutinho (PDT), Helena Duailibe (SD), Leonardo Sá (PL), Wellington do Curso (PSDB), Carlinhos Florêncio (PCdoB), Hélio Soares (PL), Fernando Pessoa (SD), Daniella Tema (DEM), Roberto Costa (MDB), Rafael Leitoa (PDT), Rildo Amaral (SD), Mical Damasceno (PTB), Rigo Teles (PV), Glalbert Cutrim (PDT), Duarte Jr. (PCdoB), Andreia Rezende (DEM) e César Pires (PV), o secretário de Saúde Carlos Lula e o diretor do HAB Antônio Dino Tavares.
PONTO & CONTRAPONTO
Gil Cutrim é liberado pelo PDT, mas tudo indica que por enquanto permanecerá no partido
São cada vez mais fortes os sinais de que o deputado federal Gil Cutrim não deixará o PDT, pelo menos por enquanto. Acusado de infidelidade, junto com outros seis colegas, por ter votado a favor da Reforma da Previdência, contrariando a orientação do seu partido, Gil Cutrim foi suspenso como representante do PDT, submetido a um processo de julgamento na Comissão de Ética da agremiação e, após várias semanas de espera, foi reabilitado, e com o direito de deixar a legenda sem perder o mandato. O voto contrário à orientação do partido criou um problema sério para o presidente da agremiação no Maranhão, senador Weverton Rocha, que é o avalista da presença do deputado no partido, juntamente com seu irmão, deputado estadual e atual 1º vice-presidente da Assembleia Legislativa, Glalbert Cutrim, e tomou posição a seu favor, mesmo discordando do seu voto. Mesmo ameaçado de expulsão Gil Cutrim manteve sua posição favorável à Reforma da Previdência, aumentando a sua distância da linha partidária, que é de centro-esquerda, com forte viés trabalhista. Chegou a admitir deixar o partido, mas preferiu aguardar o desfecho do caso, que chegou nesta semana. É evidente que a crise tornou desconfortável a presença do parlamentar no partido, apesar do apoio determinado do senador. Prudente, Gil Cutrim vem se mantendo discreto, com um pé na barca brizolista e outro pé numa relação de agremiações que estão lhe oferecendo abrigo, a começar pelo infatigável PL do colega de Câmara Federal Josimar de Maranhãozinho, que busca aliados para seu projeto de se candidatar a governador. Apesar do desgaste, é provável que Gil Cutrim permaneça no PDT, e o sintoma para esse desfecho foi a declaração do deputado Glalbert Cutrim de que não sairá do partido.
Júlio Pinheiro parece fora da corrida pela Prefeitura e deve disputar vaga na Câmara Municipal
Até algum tempo atrás apontado por muitos como possível candidato à sucessão do prefeito Edivaldo Holanda Jr. (PDT), o vice-prefeito de São Luís, Júlio Pinheiro (PCdoB), já estaria fora corrida ao Palácio de la Ravardière. Professor de carreira e um dos principais líderes do poderoso e influente Sindicato dos Trabalhadores em Educação Básica das Redes Públicas Estadual e Municipais do Maranhão (Sinproesemma) – cujos 30 anos de existência foram comemorados ontem na Assembleia Legislativa e que ele presidiu até se candidatar como companheiro de chapa de Edivaldo Holanda Jr. em 2016 -, Júlio Pinheiro tem dado sinais de que refez seus planos. Nos bastidores corre que, ao invés de pressionar o PCdoB para ser lançado candidato a prefeito, ele estaria se preparando para brigar nas urnas por uma vaga na Câmara Municipal, ou armazenando cacife para tentar uma cadeira na Assembleia Legislativa em 2022. Discreto, mas muito ativo, Júlio Pinheiro tem sido um vice correto, que trabalha para somar e não para conspirar contra o titular do cargo, atuando exatamente de acordo com a orientação do PCdoB, que é a de apoiar incondicionalmente o prefeito Edivaldo Holanda Jr.. Há ainda quem diga que, numa situação complicada, que inviabilizasse as pré-candidaturas do deputado estadual Duarte Jr. e do deputado federal Rubens Jr., o que parece impossível, o PCdoB poderia lançá-lo como “plano C”. Mas o provável mesmo é ele se candidatar à vereador, levando para a Câmara Municipal uma rica experiência como sindicalista e vice-prefeito da Capital.
São Luís, 24 de Outubro de 2019.