Jair Bolsonaro (sem partido), em live na noite de Quinta-Feira (20) – Vi o vídeo que o senador lá de Rondônia Marcos Rogério colocou, onde vários governadores entre eles o próprio filho do Renan [Calheiros]; o outro filho do Jader [Barbalho], do Pará – o do Renan é de Alagoas; o comunistão, o comunista gordo – só no Brasil, né –, o comunista gordo Flávio Dino falou da cloroquina”.
Flávio Dino (PCdoB) ontem, em resposta no twitter – Bolsonaro anda preocupado com o meu peso, algo bem estranho e dispensável. Tenho ótima saúde física e mental. E estou ocupado com vacinas, pessoas doentes, medidas sociais, coisas sérias. Trabalho muito. Não tenho tempo para molecagens, cercadinhos e passeios com dinheiro público.
As duas falas – a de ataque feita em live e a de reação feita em texto no twitter – traduzem fielmente os seus autores, presidente da República e o governador do Maranhão, mostrando a diferença abismal que os separa. O presidente exibindo o tamanho da sua agressividade pela via de um humor de beira de estrada, postura absolutamente inadequada ao chefe de Estado de um País das dimensões e da importância do Brasil. O governador, por seu turno, mostrando-se como é: um político educado, civilizado, preparado e culturalmente elevado, e reagindo em nível absolutamente adequado ao chefe de um Estado com forte tradição cultural como é o Maranhão. Não há como ignorar o que os distancia, de vez que os dois têm origens e formações bem diferentes: a do presidente foi forjada na cozinha da caserna em Agulhas Negras, onde chegou a tenente, e a do governador, adquirida no Colégio Maristas e na Faculdade de Direito da UFMA, que o fez juiz federal aprovado em1º lugar.
O presidente Jair Bolsonaro é um político identificado apenas como de extrema-direita, mas sem um lastro ideológico nem doutrina partidária, o que faz dele um militante sem um discurso programático. Ganhou suporte eleitoral desprezando todos os pilares da democracia e defendendo bandeiras autoritárias, típicas de um político que, se tivesse condições, daria um golpe e instalaria uma ditadura feroz no Brasil, com censura e tortura. E como sabe que não conta com as Forças Armadas para tornar seu sonho realidade, estimula o armamentismo, provavelmente apostando que a facilidade faça surgir no País uma milícia popular para lhe dar sustentação. Isso ficou muito claro na inacreditável reunião ministerial, durante a qual se falou também em prender ministros do Supremo Tribunal Federal e em aproveitar o momento para “passar a boiada” e afrouxar as regras ambientais brasileiras, estimulando atos antidemocráticos, a violência pelo uso de armas, e a grilagem e o desmatamento na Amazônia, deixando o mundo perplexo.
No contraponto, o governador do Maranhão prega a democracia, defende as instituições executivas, legislativas e judiciárias, as liberdades individuais, a liberdade de expressão e todas as garantias para que o Brasil seja um país democrático, que suporte, sem risco de crises institucionais, governos de esquerda, centro e direita, como acontece nas maiores democracias do planeta, a exemplo da França. Para o governador maranhense, o foco de um governo sério é incentivar o crescimento econômico, desde que os ganhos desse crescimento sejam investidos em programas de combate à pobreza e na melhoria permanente do nível educacional dos maranhenses – a Rede de Saúde, mais de mil Escolas Dignas, os 50 Iemas e mais de 40 restaurantes populares são exemplos dessa visão política.
A avassaladora chegada do novo coronavírus no Brasil serviu para tornar mais evidentes as diferenças que separam Jair Bolsonaro de Flávio Dino.
O presidente da República, inspirando-se no seu colega norte-americano Donald Trump, pregou o negacionismo, se posicionou agressivamente contra as medidas de distanciamento social, defendeu o uso da cloroquina e gastou milhões para produzir o remédio, contra a orientação da OMS; atrapalhou ostensivamente a compra de vacinas; isso sem contar o total desrespeito ao uso de máscara e de aglomerar agressivamente. Na sanha negacionista, demitiu dois ministros da Saúde que ousaram ignorar suas perigosas orientações e seguir a ciência, e instalou no Ministério da Saúde um general cuja gestão resultou num desastre monumental. Resultado: o país caminha para meio milhão de mortos.
O governador do Maranhão assumiu as rédeas da luta contra a pandemia. Criou um gabinete científico e canalizou todos os recursos ao seu alcance para combater o coronavírus. Montou uma surpreendente rede hospitalar, adotou o lockdown, suspendendo as atividades econômicas, escolares e culturais; brigou sério por respiradores, estimulou a formação de consórcios entre estados para comprar medicamentos e materiais necessários ao trabalho nos hospitais, e não permitiu que orientações nocivas interferissem na estratégia maranhense de enfrentamento da pandemia. O resultado: com mais de sete milhões de habitantes, o Maranhão é o estado com o menor número de mortos. Não houve mágica, mas muito trabalho, com reconhecimento dentro e fora do estado.
Como se vê, o presidente Jair Bolsonaro é um mau exemplo político, enquanto o governador Flávio Dino é uma referência da excelência política.
PONTO & CONTRAPONTO
Bolsonaro não lançou Roberto Rocha sem candidato no Maranhão
O senador Roberto Rocha (sem partido) participou entusiasticamente da passagem do presidente Jair Bolsonaro pelo Maranhão. Ciceroneou o presidente, esteve sempre ao seu lado, fazendo questão de mostrar que ele é o “cara” do bolsonarismo no estado, não dando espaço para outros bolsonaristas de proa, como os deputados Aluísio Mendes (PSC), o Edilázio Jr. (PSD) e Pastor Gildenemyr (PL). Mesmo prestigiado pelo presidente, de quem é amigo, Roberto Rocha não foi ungido líder inconteste do bolsonarismo no Maranhão. Alguns partidários de Roberto Rocha esperavam que o presidente Jair Bolsonaro o lançasse como seu candidato ao Governo do Estado, reforçando o projeto do senador. Pode ser que tenha sido para lançá-lo em outro momento, quando os dois já tiverem resolvido seus destinos partidários. Pois é sabido que o senador Roberto Rocha saiu do PSDB para se filiar ao partido que vier a ser escolhido pelo presidente da República para tentar a reeleição. A definição acontecerá até Setembro, mas há quem diga que definição partidária do presidente acontecerá bem antes.
Pedro Lucas Fernandes foi uma boa escolha para coordenar a bancada federal
O deputado federal Pedro Lucas Fernandes (PSL) é o novo coordenador da bancada do Maranhão no Congresso Nacional. Foi eleito por unanimidade, tendo como subcoordenador o deputado federal Edilázio Jr. (PSD). Sua eleição foi o reconhecimento da sua atuação parlamentar e do seu empenho na garimpagem de recursos federais para os municípios quando liderou a bancada do PTB. Mas a saída da legenda trabalhista, que por orientação do presidente nacional Roberto Jefferson se tornou um dos principais pilares partidários do Governo de Jair Bolsonaro, não tirou o parlamentar da região ministerial. Agora chefe do PSL no Maranhão, Pedro Lucas Fernandes poderá manter seu trânsito no Governo. Primeiro pela sua atuação, e segundo pelo viés partidário. Explica-se: saído das urnas de 2018 como um dos maiores partidos do País, o PSL atualmente é hoje uma agremiação dividida em três correntes. Uma segue o fundador e presidente da legenda, deputado federal Luciano Bivar (PE). Uma segunda corrente fica no meio do campo subindo e descendo do muro. E uma terceira, liderada pelo filho do presidente, deputado federal Eduardo Bolsonaro, que permanece alinhada ao Palácio do Planalto. Inteligente, Pedro Lucas Fernandes transita nas três correntes, o que lhe facilita a vida nos contatos com a Esplanada dos Ministérios, o que pode ajudar bastante na briga dos deputados e senadores pela liberação das suas emendas e dos seus pleitos. Ter o deputado Edilázio Jr. como subcoordenador é uma boa vantagem, uma vez que o parlamentar do PSD é bolsonarista roxo e, dizem, tem bom trânsito no Governo.
São Luís, 22 de Maio de 2021.