O deputado federal paulista Paulinho da Força, fundador e presidente do Solidariedade (SD), partido que montou atraindo facções mais conservadoras do meio sindical e trabalhista, participou quinta-feira, em São Luís, de um encontro estadual do braço maranhense da sua agremiação. E em pronunciamento em que atacou duramente a presidente Dilma Rousseff (PT), apontou o secretário de Estado de Indústria e Comércio, Simplício Araújo, que comanda a legenda no estado, como “nome ideal” para disputar a Prefeitura da Capital com o prefeito Edivaldo Jr. (PDT) em 2016. A declaração do chefe maior do SD surpreendeu meio mundo – seguramente até o próprio Simplício Araújo, porque certamente Paulinho da Força não protagonizou um gesto político previamente combinado. E como não poderia deixar de ser, a indicação, sugestão ou seja lá o que tenha sido, ganhou conotações as mais diversas e, por via de consequência, acrescentou uma porção forte de tempero no caldeirão sucessório que começa a ferver.
A primeira impressão é a de que o chefe maior do SD nacional, por completo desconhecimento do cenário político local, tentou injetar ânimo no chefe maior do partido no Maranhão, num claro gesto destinado a prestigiá-lo diante dos demais líderes no estado, o que é absolutamente normal. Ocorre que o fundador do SD deu uma declaração enfática, que trouxe no seu bojo a avaliação de que o secretário é o “nome ideal” para disputar a Prefeitura de São Luís, e num cenário em que o prefeito, que brigará pela reeleição, é aliado de primeira hora do governador Flávio Dino (PCdoB) e se firma como candidato natural do grupo.
Paulinho da Força tentou fortalecer seu representante no Maranhão e entendeu que indicá-lo informalmente para disputar a Prefeitura de São Luís expressaria a intenção de prestigiá-lo. Provavelmente sem se dar conta da repercussão que teria a indicação para candidato a prefeito de São Luís, exatamente por nada conhecer da engrenagem política local, acabou cometendo um ato falho ao jogar na arena sucessória da Capital um político sem qualquer vínculo eleitoral com a cidade. Isso não significa dizer que Simplício Araújo não possa vir a ser candidato do SD a prefeito de São Luís, se ele e o partido decidirem por esse caminho. Por outro lado, tal candidatura seria uma invenção politicamente esdrúxula e inócua.
Para começar, uma avaliação superficial da trajetória do chefe do SD no Maranhão encontrará um político ainda em busca de afirmação, a começar pelo fato de que ele ainda não venceu uma eleição. Na primeira tentativa, conseguiu ser suplente de deputado federal e alcançou a vaga e, claro, aproveitou a oportunidade para ocupar espaço. O esforço que fez, porém, não foi, suficiente para conquistar uma cadeira na Câmara Federal, tornando-se de novo suplente, e nessa condição foi convocado para integrar a equipe do governador Flávio Dino. Ao mesmo tempo, há de se reconhecer que o suplente é politicamente ativo, principalmente no que se acreditava ser a sua principal base eleitoral: Pedreiras.
No seu município, trava uma guerra sem trégua contra os Louro, à base de denúncias, acusações e xingamentos, pois sempre que batem boca, Araújo diz coisas impublicáveis a respeito dos Louro e seus aliados, o mesmo acontecendo com os Louro em relação ao secretario de Indústria e Comércio. Tanto que em meados de junho o deputado Vinícius Louro (PR ), seu arqui-inimigo, ocupou a tribuna da Assembleia Legislativa para reclamar ao governador Flávio Dino que o secretário Simplício Araújo teria chamado o pai do parlamentar, o ex-deputado e ex-prefeito de Pedreiras Raimundo Louro, de “batedor de carteira”.
Mesmo com fama de “empolgado demais”, o chefe maior do SD no Maranhão demonstrou equilíbriPRo diante da declaração do deputado Paulinho da Força apontando-o como “nome ideal” para disputar a Prefeitura de São Luís. Um dos presentes ao ato relatou à Coluna que ele esboçou um ar de surpresa e em seguida abriu um largo sorriso, como o vaidoso que recebeu uma massagem no ego. Mas valeu-se da inteligência política para não entrar na provocação, fez de conta que nada ouvira e posou de chefe partidário afirmando, sem se incluir, que o SD vai disputar as eleições municipais no Maranhão com “um bom time de candidatos”. E assinalando que para ele, o importante nessa co01rrida eleitoral é que o Solidariedade “cresça em todo o Maranhão”.
E num toque de esperteza política, aproveitou a indicação de Paulinho da Força para manter um clima de suspense em relação à posição que o seu partido adotará na corrida ao Palácio de la Ravardière.
PONTOS & CONTRAPONTOS
Situação delicada I
O suplente de deputado federal e secretário de Estado de Indústria e Comércio Simplício Araújo ganhou gás político com a vinda do chefe maior do seu partido, deputado federal Paulinho da Força, ao Maranhão para prestigiar um evento da agremiação. Mas, ao mesmo tempo, viu-se colocado numa situação delicada, quando o presidente nacional do SD atacou duramente a presidente Dilma Rousseff, afirmando inclusive que ela “não tem mais condições de governar o país”, reafirmando sua posição de defensor intransigente do impeachment presidencial. O problema é que Paulinho da Força transformou o impeachment presidencial em objetivo do Solidariedade.
Situação delicada II
A posição de linha de frente do SD no movimento para derrubar a presidente da República está na contramão do que tem pregado publicamente, em discursos enfáticos, o governador Flávio Dino, para quem o impeachment é objetivo de um movimento golpista. Além disso, a maioria dos projetos que o governo estadual tenta viabilizar para desenvolver a economia maranhense é tocada pela pasta comandada por Simplício Araújo, que é obrigado a negociar com ministros do governo Dilma recursos e outros instrumentos de apoio. Tal situação gera naturalmente uma indagação: como esses agentes do Governo Federal encaram um secretário que chefia um partido que quer vê-los pelas costas? A julgar pelo cacife que exibe, o secretário certamente está sabendo administrar tal equação.
São Luís, 11 de Setembro de 2015.