Um dado importante da pesquisa do instituto Escutec, feita para medir as preferências do eleitorado na fase preparatória da corrida à Prefeitura de São Luís, foi divulgado ontem pelo jornal O Estado do Maranhão, que a contratou: a quantas andam as gestões do prefeito de São Luís, do governador do Estado e do presidente da República no conceito da opinião pública ludovicense. De acordo com o levantamento, o prefeito Edivaldo Holanda Jr. (PDT) é aprovado 43% e desaprovado 54,1%, o governador Flávio Dino (PCdoB) é aprovado por 49% e desaprovado por 47,8%, e o presidente Jair Bolsonaro (PSL) é aprovado por 37,4% e desaprovado por 59% dos entrevistados. Nesse painel de percentuais, um dado a ser destacado: em relação ao prefeito, somente 2,5% não responderam; no caso do governador, os indecisos foram 3,2%, e no caso do presidente, 3,6% não se manifestaram, o que significa dizer que o eleitorado da Capital, ainda apontado como “rebelde”, e por isso mesmo sem qualquer surpresa, tem juízo formado e bem definido sobre os seus dirigentes nas três esferas de poder.
O governador Flávio Dino mantém a performance de melhor aprovado, com 49%. Com cinco anos de Governo, tempo em que mesmo governantes de muito prestígio perderam gás, e enfrentando os duros efeitos da crise econômica e a má vontade do Palácio do Planalto em relação ao Maranhão, o governador do Maranhão segue firme como um gestor acreditado. Isso porque tem conseguido manter o Estado financeiramente organizado sem malabarismo fiscal, pagando a folha em dia, cumprindo obrigações contratuais e fazendo os investimentos possíveis em áreas essenciais, valendo-se ainda de empréstimos (BNDES, Banco do Brasil e Caixa), conseguidos devido à capacidade de endividamento do Estado obtida com o equilíbrio fiscal. Além disso, Flávio Dino lidera um Governo até aqui sem mácula, sem rasuras éticas e visivelmente comprometido com investimentos sociais. Sua aprovação, ainda que apertada, evidencia seu largo prestígio como gestor num cenário em que a maioria dos governadores está em baixa no conceito da opinião pública, especialmente nas capitais, onde o eleitorado é mais crítico.
O prefeito Edivaldo Holanda Jr., por sua vez, mesmo sombreado por uma incômoda desaprovação de 54,1%, tem todos os motivos para comemorar a aprovação de 43,4%. Pode parecer uma contradição, mas não é pouca coisa para um prefeito em fim de um segundo mandato, principalmente numa cidade politicamente exigente, numa situação de crise e com a pressão popular presente no dia a dia da administração municipal. Todos os levantamentos feitos um ano atrás mostraram Edivaldo Holanda Jr. em situação preocupante no conceito da opinião pública ludovicense. O percentual de aprovação, portanto, reflete uma forte recuperação da sua imagem de gestor, e com todos os sintomas de que sua avaliação positiva é crescente, de vez que São Luís vive uma fase de bons investimentos por parte da Prefeitura. A explicação, portanto, está na soma de uma gestão fiscal equilibrada, financeiramente ajustada e eticamente correta, o que torna Edivaldo Holanda Jr. um gestor bem visto.
Ser aprovado por apenas 37,4% do eleitorado de São Luís é uma derrota expressiva para o presidente Jair Bolsonaro, que recebeu 42,22% dos votos dos ludovicenses. Equivale a ele ter perdido 5,6 pontos percentuais de prestígio em nove meses e meio de gestão. E são várias as explicações para essa perda de prestígio tão rápida: distância da realidade social, econômica e política de São Luís, gestos políticos agressivos em relação ao Maranhão, falta de rumo da sua gestão em relação ao Nordeste e o seu discurso ideológico e distorcido de extrema direita, além da falta de porta-vozes com capacidade política de interlocução no estado. Todos os sinais políticos e administrativos emitidos até aqui indicam que a tendência é uma erosão ainda maior do gestor Jair Bolsonaro.
Vale lembrar ainda que a pesquisa do Escutec tem uma curiosa margem de erro de 3,1%, para mais ou para menos, total ou parcialmente. O governador Flávio Dino pode ter de 49,1% a 52,1% de aprovação, o prefeito Edivaldo Holanda Jr., com 43,4%, pode estar situado entre 43,5% e 46,3%, e o presidente Jair Bolsonaro entre 37,5% e 40,5%, valendo o mesmo cálculo para menos. Nos três casos, independentemente do critério usado, o governador e o prefeito estão bem melhor que o presidente no conceito da opinião pública ludovicense.
PONTO & CONTRAPONTO
Zé Inácio defende candidato próprio em São Luís, mas PT está mergulhado numa crise intestina
Com base numa curiosa interpretação dos números da pesquisa do Escutec, o deputado estadual Zé Inácio Lula chegou à surpreendente conclusão de que o seu partido, o PT, tem espaço para lançar candidato próprio à Prefeitura de São Luís. Chama a atenção na conclusão do parlamentar o fato de o PT ludovicense encontrar-se mergulhado numa crise intestina sem precedentes, causada por atropelos cabeludos ocorridos durante o Processo de Eleição Direta (PED), por meio do qual os petistas maranhenses elegeriam seus dirigentes municipais e estaduais e delegados à eleição dos chefes nacionais. Não é novidade que o PT enfrenta uma forte carência de lideranças no Maranhão, especialmente em São Luís, depois que perdeu quadros do quilate de Domingos Dutra – hoje prefeito de Paço do Lumiar pelo PCdoB – e Bira do Pindaré, hoje deputado federal pelo PSB. O PED, realizado em setembro, revelou um partido fragilizado – dos 36 mil filiados no estado, apenas 1.800 participaram da votação – e mergulhado numa disputa virulenta, agravada por uma disputa de fraude na votação, baseada numa acusação que fez lembrar as fraudes vitorinistas: a participação de defuntos no pleito. Um dos melhores quadros do PT na atualidade, o deputado Zé Inácio tem razão quando enxerga, por lentes transversas, espaço para o PT lançar candidato na corrida à sucessão do prefeito Edivaldo Holanda Jr. (PT). Mas antes de pensar um nome – que pode ser ele próprio (por que não?) -, o caminho mais sensato é resolver a confusão eleitoral que está acirrando o confronto dentro do partido.
Votação evidenciou que Assembleia será palco de confrontos pela sucessão de Edivaldo Jr.
A votação, ontem, de um parecer da Comissão de Constituição e Justiça contrário a projeto de lei do deputado Duarte Jr. (PCdoB) propondo a proibição de corte, às sextas-feiras e sábados, de energia elétrica residencial por falta de pagamento, confirmou que a Assembleia Legislativa será mesmo palco de confrontos isolados na guerra pela Prefeitura de São Luís. O parecer da CCJ, que acabou aprovado, inviabilizando a proposta de Duarte Jr., é de autoria do deputado Yglésio Moises (PDT). Os deputados Duarte Jr. e Yglésio Moyses são pré-candidatos assumidos à sucessão do prefeito Edivaldo Holanda Jr., e o desfecho da votação foi em parte resultado de um confronto entre os dois. No round desta segunda-feira, Duarte Jr. foi apoiado pelo deputado Adriano Sarney (PV), que também é pré-candidato prefeito e poderia ter ficado indiferente ao confronto na base governista, mas, curiosamente, preferiu apoiar o deputado do PCdoB. Até a ausência do presidente da CCJ, deputado Neto Evangelista (DEM) – também pré-candidato a prefeito da Capital e desafeto parlamentar de Duarte Jr. – na votação gerou comentários, numa demonstração de que outros embates duros estão a caminho e vão acontecer enquanto durar a corrida eleitoral.
São Luís, 22 de Outubro de 2019.