Jair Bolsonaro (PSL), 63 anos, capitão do Exército aposentado, sete mandatos de deputado federal e nenhuma experiência de gestão pública, foi eleito presidente da República, confirmando uma tendência rascunhada desde o início da corrida eleitoral. Sua eleição se deu com folgada maioria, 11 milhões de votos a mais do que seu adversário, Fernando Haddad (PT), professor universitário, ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo. Ele recebeu 55 milhões de votos contra 45 milhões dados ao seu adversário, votação menor do que esperavam ele e seus aliados, pois pareceu mais um “passo no escuro” dos brasileiros do que um “cheque em branco” ao eleito. Venceu no Sul, Sudeste e Centro Oeste e perdeu no Nordeste e em parte do Norte. No Maranhão, apesar dos esforços da ex-prefeita Maura Jorge (PSL), do senador Roberto Rocha (PSDB), e da ex-governadora Roseana Sarney (MDB), todos candidatos derrotados ao Governo do Estado, quase três quartos do eleitorado se posicionou na linha do governador reeleito Flávio Dino (PCdoB) e impôs ao candidato do PSL uma das mais duras derrotas das que sofreu nos estados: recebeu apenas 886.401 votos (26,75%) dos votos contra 2.426.168 (73,25%) dados a Fernando Haddad. A vitória de Fernando Haddad foi tão expressiva, que ele venceu de novo em 214 dos 217 municípios, com uma margem muito maior do que no 1º turno.
Do ponto de vista político, o resultado da eleição presidencial no Maranhão consolida, de maneira indiscutível, a liderança do governador Flávio Dino, que se reelegeu tendo a oposição ao presidenciável do PSL como uma das suas bandeiras. Ao mesmo tempo, confirma o desprestígio político das outras forças em ação no estado, como a liderada pelo ex-presidente José Sarney e pela ex-governadora Roseana Sarney, que saíram das urnas amargando derrota devastadora, não conseguindo exercer qualquer influência sobre o eleitorado no 2º turno da eleição presidencial no estado. Também o senador Roberto Rocha, que conseguiu furar o cerco e registrou seu encontro informal com Jair Bolsonaro na semana passada, em nada contribuiu para ajudar o candidato. Maura Jorge sai da disputa presidencial no Maranhão como um “fator” eleitoralmente tão inexpressivo, que no seu próprio município, Lago da Pedra, Fernando Haddad venceu com 66,64% contra minguados 33,36% de Jair Bolsonaro.
A vitória de Fernando Haddad no Maranhão foi tão acachapante que Jair Bolsonaro só venceu em três dos 217 municípios: Imperatriz (54,99% a 45,01%), Açailândia (51,52% a 48,48%) e São Pedro dos Crentes (57,49% a 42,51%). Nos 214 municípios, o candidato petista venceu com larga margem, tendo alcançado resultados espetaculares, como em Serrano do Maranhão, onde obteve 93,64% dos votos contra 6,36% de Jair Bolsonaro. Ao contrário do que previam alguns observadores sobre a possibilidade de uma reação na Ilha de Upaon Açu, o petista ampliou sua vantagem sobre o candidato do PSL. Em São Luís, Fernando Haddad obteve 57,78% dos votos contra 42,22% de Jair Bolsonaro, em São José de Ribamar o resultado foi de 65,48% a 34,52%, em Paço do Lumiar foi de 62,45% a 37,55%, e em Raposa o petista venceu com 72,71% contra 27,29% do presidente eleito. Vários fatores concorreram para o desfecho da eleição presidencial no Maranhão, com a predominância de dois: a preocupação de milhares e milhares de eleitores com o futuro dos programas sociais, principalmente o Bolsa Família, e o posicionamento do governador Flávio Dino, que assumiu abertamente a liderança da Oposição a Jair Bolsonaro.
Com posições firmes e muito claras, o governador veio a público logo após o resultado para agradecer a votação dada pelos maranhenses ao candidato Fernando Haddad: “Agradeço à população do Maranhão pela extraordinária votação conferida a Haddad. Longe daqueles discursos preconceituosos que se ocupam de atacar o Nordeste, nosso voto se embasa em uma visão sobre desenvolvimento com justiça social. Essa concepção foi a vencedora aqui. Não se perde quando se combate por boas causas. Defendemos o Brasil e os brasileiros, sobretudo os mais pobres. Parabéns a Haddad e Manuela pela coragem e dedicação. A resistência democrática, nacional e popular segue firme”.
Os números da eleição presidencial no Maranhão respaldam as posições assumidas pelo governador Flávio Dino, e estão no contexto de uma posição regional, que não poderá ser encarada pelo presidente eleito com gestos primários do tipo “Vamos varrer o comunismo do Maranhão”, como está registrada em vídeo que gravou ao lado do deputado federal reeleito Aluízio Mendes (Podemos), na semana passada. Se, de fato, cumprir o compromisso de respeitar a Constituição Cidadã, valorizar a Federação, governar em sintonia com os Estados, respeitar as regras do Estado Democrático de Direito, compreender os “brasis” que existem dentro do Brasil, garantir plenamente as liberdades civis, afastando a tentação autoritária, primar pela segurança pública usando os vieses da inteligência associada à força necessária e dos investimentos em programas sociais, o novo presidente certamente abrirá um canal legítimo, eficiente e produtivo com os integrantes da Federação.
No que diz respeito especificamente ao Maranhão, a eleição de Jair Bolsonaro presidente da República gera forte expectativa. A começar pelo fato de que os prováveis interlocutores a serem por ele escalados não têm lastro político que os credencie. Sua interlocução terá de ser direta com o governador Flávio Dino, que apesar das reservas, mas com a autoridade de democrata, ficha limpa e bom gestor, tem dito que respeitará o resultado das urnas e está pronto para estabelecer um relacionamento institucional produtivo com o Governo Central.
É o que todos querem e esperam.
PONTO & CONTRAPONTO
Grupo de João Alberto ganha sobrevida com a vitória de Edivan Brandão em Bacabal
O prefeito interino Edivan Brandão (PSC) ganhou ontem a condição de titular ao ser eleito em pleito suplementar para um mandato de 26 meses. O desfecho da corrida eleitoral em Bacabal trouxe de volta ao poder municipal o grupo liderado pelo senador João Alberto (MDB), e com o diferencial de que o candidato derrotado, César Brito (PPS), foi apoiado pelo grupo comandado pelo governador Flávio Dino. Edivan Brandão chegou ao poder municipal quando, na condição de presidente da Câmara Municipal com a cassação, por ser ele ficha suja, do prefeito Zé Vieira (PR), eleito em 2016 derrotando o candidato do grupo do senador João Alberto, o deputado estadual Roberto Costa (MDB). Ressabiado com a derrota, Riberto Costa preferiu cuidar da sua reeleição para a Assembleia Legislativa e apoiar a candidatura de Edivan Brandão para a Prefeitura, liderando a coligação PSC/PSL/MDB/PV/DEM/PT, com o apoio do Grupo Sarney. Concorreram cinco candidatos, sendo o mais forte César Brito (PPS), encabeçando a coligação PPS/PHS/PCdoB/PPL e com o apoio do grupo liderado pelo governador Flávio Dino – que em princípio não pretendia se envolver diretamente, mas foi pressionado por aliados e acabou participando de uma carreata em Bacabal, chamando para si o peso da derrota do candidato do PPS. A vitória de Edivan Brandão reforça o poder de fogo do senador Joao Alberto e seu grupo em Bacabal e no Médio Mearim, é verdade. Nesse contexto, o prefeito encontra-se em situação confortável, sendo apoiado pelo grupo de João Alberto, mas também cortejado pelo grupo ligado a Flávio Dino, para onde poderá migrar. Há quem garanta que Edivan Brandão manterá fidelidade ao grupo Sarney, mas há também quem aposte que ele, para sobreviver, mudará de lado. É aguardar.
Vitória de Valdez Góes no Amapá mantém José Sarney na cena política
rviu para amenizar o gosto amargo das derrotas sofridas recentemente pelo ex-presidente José Sarney (MDB). Além de Bacabal, onde o candidato do seu grupo venceu a eleição, José Sarney saiu vitorioso nas urnas do Amapá, onde seu candidato, Valdez Góes (PDT), foi reeleito governador. Além da vitória em si, o ex-presidente comemorou muito o fato de o derrotado ter sido o seu arqui-inimigo na política amapaense, o senador João Capiberibe (PSB), que andou liderando a corrida nas pesquisas, mas teve sua campanha prejudicada por problemas criados por seu vice, indicado pelo PT. Com o desfecho da corrida no Amapá, o ex-presidente se mantém de pé na política daquele estado, mesmo sem mandato, continuará atuando nos bastidores da política nacional, tendo o seu raio de influência dependente agora da boa vontade do presidente eleito Jair Bolsonaro.
Na eleição suplementar da cidade de Bacabal, o vencedor foi o candidato Edvan Brandão (PSC), que estava no cargo de prefeito desde que Zé Vieira foi cassado. Edvan era presidente da Câmara de vereadores do município e é aliado do senador João Alberto (MDB) e do deputado estadual Roberto Costa (MDB).
Com 96,73% dos votos apurados, a eleição foi matematicamente resolvida. Edvan ficou com 50,84% dos votos contra 45,98% de Cesar Brito (PPS), que era apoiado pelo governador Flávio Dino.
A eleição foi praticamente plebiscitária. Os demais candidatos tiveram votações inexpressivas. Luis Padeiro com 1.98% e Professor Marinho 1,19%. Gisele Veloso teve sua candidatura indeferida.
Edvan terá dois anos e dois meses de mandato.
São Luís, 29 de Outubro de 2018.
Meu caro Ribamar, no meu humilde entendimento, Flávio Dino é quem PRECISA estabelecer relações institucionais com o Presidente! O Bolsonaro não tem nenhuma necessidade dessa relação, até porque Flávio Dino é um governador sem importância , de um Estado mais insignificante ainda. Tenha uma excelente semana.