As pesquisas para identificar as preferências do eleitorado no 2º turno da corrida para a Prefeitura de São Luís, divulgadas na semana que passou, alimentaram mesma sensação de indefinição, com a diferença de que agora os números se mostram dois cenários diferentes, duas pesquisas em que o prefeito Edivaldo Jr. (PDT) lidera com folga, e duas mostrando uma situação de empate. E mais, agora nenhum levantamento mostra Eduardo Braide (PMN) na liderança. A primeira foi a pesquisa Econométrica, contratada pelo Jornal Pequeno e que apontou o prefeito Edivaldo Jr. com 52,6% das intenções de voto contra 47,4% de Eduardo Braide. A segunda foi a do instituto Data M, que trouxe Edivaldo Jr. com 54,7% e Eduardo Braide com 42,6. A pesquisa Exata, contratada pela TV Guará, veio em seguida com Edivaldo Jr. com 46% e Eduardo Braide com 45%, um cenário de empate. E finalmente a pesquisa Escutec, contratada por O Estado do Maranhão, trouxe o impactante cenário que mostra Edivaldo Jr. e Eduardo Braide rigorosamente empatados.
Todos os fatos e evidências registrados na semana que passou indicaram uma disputa renhida, na qual a diferença entre um e outro seria muito pequena, empurrando a luta pelo voto para um desfecho imprevisível, só que agora com uma visível tendência favorável ao prefeito Edivaldo Jr.. Analistas isentos disseram à Coluna que a tendência não significa uma definição pró-Edivaldo Jr., admitindo também como risco apostar em Eduardo Braide. E como acham que a tendência favorável ao prefeito ainda não é sólida, a maioria acredita que o desfecho da eleição para prefeito de São Luís está no debate da TV Mirante, no dia 28. E são os próprios candidatos que vêm dando asas a essa perspectiva, à medida que vêm trocando farpas em relação ao confronto direto, que certamente atrairá uma audiência esperada de 90% dos telespectadores de TV aberta na próxima sexta-feira, dois dias antes da votação.
O prefeito Edivaldo Jr. e o deputado Eduardo Braide sabem que o futuro das suas carreiras está nesta eleição. Não se trata apenas de quem ganhará ou de quem perderá, mas também do tamanho do cacife com que cada um sairá das urnas. E a diferença crucial nessa equação é que para o prefeito Edivaldo Jr., que busca a renovação do mandado, só a vitória interessa, pois significará a aprovação da sua gestão e dos seus planos, sendo a derrota uma tragédia de largas proporções e cujos estragos alcançarão o projeto de poder do governador Flávio Dino (PDT) e aliados. Eduardo Braide tem uma situação bem mais confortável, pois a vitória coroará um projeto solitário, longe de grupos, e que o colocará no epicentro do tabuleiro político do Maranhão; e mesmo a derrota, dependendo do tamanho da diferença, o mandará de volta à Assembleia Legislativa com um poder de fogo respeitável, autorizado a seguir em frente em 2018. Como se vê, são as muitas nuanças que embalam o projeto de cada candidatura que tornam renhida a disputa entre Edivaldo Jr. e Eduardo Braide.
A semana que entra será decisiva. Os dois candidatos usarão todas as armas que tiverem ao seu alcance. E nessa guerra o melhor que podem fazer é apostar alto em propostas e no contato direto com o eleitorado, pois as pesquisas demonstram que denúncias fajutas usadas para fragilizar o adversário não funcionaram – até porque Edivaldo Jr. Eduardo Braide, que representam o melhor da nova geração de políticos maranhenses, podem ter até algum pecado, mas nada que sugira mandá-los para a guilhotina. Essas informações certamente emergirão ao longo do debate, que certamente terá mais da eletrizante substância política do que do importante, mas às vezes sonolento bate-boca técnico.
A verdade é que os dois candidatos entram na reta final confiantes. Edivaldo Jr. à frente da sua megaestrutura, do seu poderoso suporte partidário, dos seus importantes e influentes aliados, da sua falange cibernética, e da sua capacidade de convencer a maioria do eleitorado que melhorar São Luís se esta lhe der novo mandato. Eduardo Braide, por seu turno, entra embalado pela sugestiva vantagem de ser a novidade, que se mostra quase que como uma espécie de anticandidato: só com seu partido e seu vice, sem megaestrutura, sem aliados poderosos por trás e demonstrando preparo e competência. Os dois têm todas as condições de convencer os eleitores ainda indecisos e ganhar a faixa que o eleito envergará no dia 1º de janeiro do ano que vem.
PONTO & CONTRAPONTO
Grampo: imbróglio de duas faces
Se os recursos policiais e técnicos do Senado foram usados indevidamente, contrariando alguma norma proibitiva, para fazer varreduras em busca de aparelhos de escuta nas residências do então senador José Sarney (PMDB) e também na casa do então senador interino Lobão Filho (PMDB), natural que haja uma investigação por parte do Ministério Público Federal e, reunidas as evidências, seja o inquérito encaminhado à Justiça, para que esta se pronuncie a respeito. Mas essa história tem outro lado, que é a violação da privacidade do cidadão, no caso uma personalidade como José Sarney, um dos mais importantes pares da República nas últimas cinco décadas, a começar pelo fato de que foi o presidente que a comandou o país num dos momentos mais delicados da sua História, que foi a transição da ditadura para a democracia, na segunda metade da década de 1980. Os investigadores podem até ter razão de defender a operação que prendeu quatro policiais do Senado sob a acusação de que eles fizeram varreduras em tais endereços, mas jamais poderão acusar o ex-presidente de cometer um crime se por acaso conseguiu desativar um trambolho de espionagem eletrônica que entrara clandestinamente da sua residência, que pela lei é inviolável. Um aparelho de escuta pode até ser “plantado” na residência de um ex-presidente da República com aval da Justiça, mas será uma violação de direito, exatamente porque será fruto de um ato clandestino. E o fato de ser encontrado e jogado fora não pode ser usado com o argumento de que o investigado clandestinamente estaria prejudicando a investigação.
Casos de escuta clandestina sempre deram em nada
Dois casos de escuta clandestina sacudiram o Maranhão neste século. O primeiro aconteceu no Tribunal Regional Eleitoral (TRE/MA) durante os preparativos para as eleições de 2002. Numa arrumação de rotina, servidores da Justiça Eleitoral encontraram um aparelho de escuta embaixo da mesa de trabalho do gabinete do então presidente da Corte, desembargador Jamil Gedeon. A Polícia Federal foi acionada, fez uma investigação minuciosa e nada foi encontrado que tivesse alguma relação com o tal aparelho. O caso teve forte repercussão à época, mas nada foi descoberto. O outro foi durante o último Governo Roseana Sarney. A Polícia estadual descobriu e invadiu uma casa na região do Cohajap, estourando uma central de escuta clandestina da Polícia Federal. De acordo com relato de policiais feitos à época o posto de escuta tinha conexão com a rede de telefone fixo, e funcionava com aparelhos sofisticados e uma estrutura de fiação com capacidade para “grampear” vários telefones ao mesmo tempo. Foi um escândalo de duas faces. De um lado veio à tona o modus operandi da Polícia Federal, gerando nos cidadãos comuns a sensação de insegurança, a preocupação de estar vivendo num estado policial. O estouro da “central de escuta clandestina” gerou alguns processos contra oficiais da PM que participaram da operação, mas acabou dando em nada.
São Luís, 22 de Outubro de 2016.