“Ao longo de toda a minha trajetória política, tenho testemunhado que o melhor caminho será ouvir as demandas da população. As manifestações deste domingo deixam um recado claro: a sociedade tem opinião e quer ser respeitada. E, por isso, preocupa a proposta da chamada PEC da Blindagem e também a anistia para atos antidemocráticos. A boa política passa pela escuta e pelo diálogo, nunca pelo enfraquecimento da democracia, da justiça e da confiança do povo”.
Com essa mensagem, postada ontem nas suas redes sociais, o governador Carlos Brandão (PSB) se posicionou sem rodeios contra a PEC da Blindagem e à proposta de anistia para envolvidos nos atos antidemocráticos. Ele reafirmou a sua confiança nas instituições democráticas, assim como no povo como o protagonista maior da realidade política do Brasil, o que leva naturalmente à dedução de que o que ele define como atos antidemocráticos inclui a tentativa de golpe de estado. O mandatário maranhense teve como motivação as reações no meio político e os atos públicos que levaram milhares de pessoas em todo o País contra o monstrengo legislativo que passou na Câmara Federal, mas deve ser brecado no Senado da República, e o projeto de anistia que, diante da reação da sociedade, deve ser barrada na própria Câmara Federal, conforme previu o relator do projeto, deputado Paulinho da Força (Solidariedade/SP).
O governador maranhense reafirmou um compromisso que ele próprio alimenta como um princípio: sempre resolver as questões políticas, por mais graves que sejam, pelo diálogo. Mais do que isso, defende que as questões políticas maiores devem ser resolvidas a partir de uma interpretação correta dos sentimentos e anseios da população, que no final das contas tem a palavra decisiva, por meio do voto, a respeito de tudo o que envolve a estabilidade e o futuro do País. As manifestações de domingo, convocadas por diferentes segmentos da sociedade civil organizada, foram, segundo o governador, um recado aos que, no Congresso Nacional ou fora dele, tentam impor suas vontades à sociedade, que não está disposta a aceitar imposições, principalmente tentativas de premiar a corrupção e o desvio.
Via de regra comedido em relação a questões explosivas, só externando suas posições quando necessário, o governador Carlos Brandão já havia se manifestado sobre as duas pautas-bomba. Primeiro, com a autoridade de quem já foi deputado federal por dois mandatos, concluídos sem nenhuma nódoa ética, o governador comentou superficialmente a sua discordância em relação à PEC da Blindagem, que considerou preocupante, assim como a proposta de anistia para os envolvidos nos atos golpistas que culminaram com o 8 de janeiro de 2023. Em relação ao último caso, o mandatário maranhense reagiu duramente, em nota de larga repercussão na época. Sua manifestação de agora contrária à anistia para os que agiram contra a democracia é a reafirmação da posição firme que manifestou 31 meses atrás. Naquele momento o governador, cumprindo decisão judicial, mandou a polícia retirar um grupelho de extrema-direita da frente do quartel do 25 BC, no João Paulo. Avisados de que a polícia estava a caminho, os golpistas se dispersaram e desapareceram.
Carlos Brandão é um político de centro, democrata por convicção, que não aceita ataques à democracia, e para quem as crises políticas e até mesmo as institucionais têm de ser resolvidas na mesa de negociação, a partir de diálogo franco e aberto. Ele demonstrou isso como deputado federal, como vice-governador e agora como governador reeleito. A afirmação segundo a qual “a boa política passa pela escuta e pelo diálogo, nunca pelo enfraquecimento da democracia, da justiça e da confiança do povo” é a confirmação de que, para ele, a conversa franca e aberta é o melhor caminho para manter as instituições democráticas.
Essa manifestação serve inclusive de recado para a oposição dinista a ele e ao seu Governo.
PONTO & CONTRAPONTO
Weverton Rocha rompe silêncio e se declara contra a PEC da Blindagem
A bancada maranhense no Senado é contra a PEC da Blindagem e deve enterra-la no plenário da Casa. Seguindo o exemplo das senadoras Eliziane Gama (PSD) e Ana Paula Lobato (PSB), que anteciparam voto contrário horas depois da aprovação pela Câmara Federal, o senador Weverton Rocha (PSD) de se declarou ontem contra o monstrengo legislativo gerado pela maioria dos deputados federais, entre eles 15 dos 18 maranhenses.
O seu silêncio em meio à grita nacional contra o projeto, a começar pelo presidente do Senado e do Congresso Nacional, senador Davi Alcolumbre (União/AP), a quem é muito ligado, e o fato de não haver respondido a enquete de O Globo, o senador maranhense causou em muitos a suspeita de que poderia se posicionar a favor.
Aqueles dois fatores e as manifestações de domingo, inclusive em São Luís, provavelmente serviram de alerta para o senador pedetista, que é candidato à reeleição e lidera a corrida às duas vagas. Ontem, ele foi ouvido por O Globo e, a exemplo de outros senadores, que saíram do “muro” ou mudaram seus votos, retirando o apoio inicial ao projeto, o senador Weverton Rocha se declarou contrário ao projeto e avisou que votará contra a malvadeza legislativa.
Ao jornal fluminense, o senador maranhense disse que sua posição segue orientação do partido. Essa orientação não alcançou o deputado Márcio Honaiser, que é pedetista raiz, mas seguiu a maré da direita e do Centrão e votou a favor do Frankenstein legislativo.
Depoimento de advogada mineira na CPMI do INSS é aguardado com curiosidade e preocupação no meio político
A convocação da advogada mineira Clara Alcântara Botelho Machado para depor na CPMI do INSS vai resolver pelo menos um mistério que vem há tempos fustigando os bastidores da política maranhense, com contribuição importante na guerra que mantém afastados brandonistas e dinistas.
É que os maranhenses tomarão conhecimento da imagem e do talento de Clara Alcântara, e poderão avaliar a sua integridade profissional ao ser ela interrogada como defensora de uma “confederação de sindicatos” que vinha embolsando milhões em “contribuições” descontadas de nada menos que 17 mil aposentados em vários estados.
A advogada foi convocada por praticar advocacia interestadual sem a devida autorização da OAB, o que é ilegal, segundo as regras da Ordem.
É improvável que Clara Alcântara seja questionada sobre a sua tentativa de entrar como amicus curiae na ADI nº 7.780, do Solidariedade para mudar as regras da escolha de conselheiros do TCE pela Assembleia Legislativa., porque o assunto não é pauta da CPMI.
Para lembrar: na fundamentação do seu pedido para entrar na ADI, ela levantou a suspeita de que teria havido compra de vagas, colocando o governador Carlos Brandão nesse imbróglio, causando reações indignadas de conselheiros do TCE aposentados e do próprio mandatário.
O caldo entornou mais ainda quando o ministro Flávio Dino (STF), relator do processo, não permitiu que ela entrasse na ação como amicus curiae, mas mandou a Polícia Federal investigar a tal suspeita de compra de vagas.
A verdade é que o depoimento de Clara Alcântara está sendo aguardando com curiosidade por muitos e com ansiedade por alguns.
São Luís, 23 de Setembro de 2025.