“Uma coisa que aboli em Bacabal foi inauguração. Não vamos mais inaugurar fazendo festa. Eu quero saber é o que a comunidade que recebe a obra está sentindo. Então eu já disse: inauguração não tem mais”. A declaração, surpreendente em diversos aspectos, é do prefeito de Bacabal, Roberto Costa (MDB), que é também presidente da Federação dos Municípios do Maranhão (Famem). Para ele, mais do que um ato festivo, a entrega de uma obra, nova ou restaurada, tem o objetivo garantir aos usuários daquele serviço público, a certeza de que o espaço ou a estrutura a ser inaugurada será sinônimo de bem-estar social. “Na inauguração que a gente faz agora, de uma escola, por exemplo, no máximo a gente leva os pais” estimou. E completou: “É isso o que interessa”. Inauguração é para isso. Não é para fazer festa ou chamar a atenção”.
A anunciada decisão do prefeito Roberto Costa, mais do que uma mera mudança de postura, é uma importante quebra de paradigma na relação do gestor público com a comunidade que o elegeu. Além de surpreender meio mundo, a medida encerra em Bacabal uma “tradição” que encarna o que há de bom e de ruim nas realizações de uma gestão municipal. Se havia o lado positivo da entrega de uma obra civil de uso social, como uma escola, por exemplo, havia, no contrapeso, o lado da exploração política da obra inaugurada, gerando, muitas vezes, rasgos populistas, que via de regra superestima o feito.
Com essa mudança de postura, o prefeito Roberto Costa dá um passo significativo no processo de modernização que vem implantando na Prefeitura de Bacabal. Ele despacha para o espaço um mandamento comum e alimentado em todos os recantos municipais do Maranhão. Para a esmagadora maioria dos gestores, não faz sentido entregar uma obra – escola, posto de saúde, ponte, rua asfaltada, praça, sistema de abastecimento de água, etc. – sem comemorar a entrega com uma grande festa popular e, assim, arrancar um naco de prestígio político pensando no futuro eleitoral. Oito meses depois de iniciar sua gestão e já tendo vivido as mais diversas experiências nessa seara, o prefeito Roberto Costa chegou à conclusão de que o que não faz muito sentido é a “tradição” da inauguração festiva.
A decisão de não mais festejar inaugurações foi tomada depois que ele se mostrou incomodado na entrega festiva de uma escola de um povoado bacabalense, para a qual foram deslocadas cerca de cinco centenas de pessoas da sede do município para garantir a festa. Incomodado com a “grandeza” do evento, refletiu sobre o assunto e chegou à conclusão de que não deveria mais permitir eventos como aquele. “Inauguração não é para fazer festa ou chamar a atenção”, sentenciou.
A mudança feita por Roberto Costa nesse procedimento ganha muito mais peso com o fato de, além de prefeito de Bacabal, ser ele presidente da Famem, cargo que o obriga a ser uma referência para os seus outros 216 colegas. Isso não significa que a decisão de acabar com a cultura das inaugurações festivas em Bacabal passe a ser tomada em cadeia pelos outros prefeitos. Mas não há como negar que foi uma atitude arrojada, modernizadora e incentivadora no sentido de que na entrega de obra, seja ela de que natureza for, prevaleça a razão, e não a emoção. Além disso, tem o fator custo, que certamente deve ter pesado na decisão do prefeito bacabalense.
Nas suas declarações, o prefeito Roberto Costa não transformou o fim das inaugurações festivas em Bacabal numa bandeira a ser propagada Maranhão a fora. Mas não será surpresa se outros prefeitos adotarem a regra, no todo ou em parte, nas suas gestões.
PONTO & CONTRAPONTO
André Fufuca segue ministro, podendo retornar à Câmara se a anistia para golpistas for pautada
Não será surpresa se André Fufuca deixar temporariamente o Ministério do Esporte e reassumir o seu mandato de deputado federal. É que como ministro, ele tem pouco o que fazer para ajudar o Governo do presidente Lula da Silva (PT) a conseguir a aprovação de pautas importantes – como a isenção do Importo de Renda para quem ganha até R$ 5 mil – e, de quebra, dar um chega-pra-lá ano projeto golpista de anistia, que é inconstitucional.
Essa tendência faz sentido por que começa mandando para casa o suplente no exercício do mandato Allan Garcez (PP), que não só é linha de frente no projeto de anistia, como defende, linha por linha, o grande projeto do golpe, sendo defensor intransigente, e até inconsequente, do ex-presidente Jair Bolsonaro e a turma linha de frente da tentativa de golpe.
André Fufuca está sendo pressionado por uma banda do PP para deixar o Ministério do Esporte e retornar à Câmara Federal para apoiar o projeto da anistia inconstitucional. Está resistindo bravamente, e participou da reunião de ontem com a ministra da Coordenação Institucional, Gleice Hoffmann, mantendo sua posição.
Lastreado por um bom trabalho à frente da pasta do Esporte, por meio da qual vem realizando um abrangente conjunto de ações no Maranhão, André Fufuca é apontado no Palácio do Planalto como um bom ministro, que além da gestão administrativa tem dado suporte político ao presidente Lula da Silva e seu Governo.
Sua posição definitiva será conhecida nos próximos dias. E como integrante do alto clero da Câmara Federal, André Fufuca não pode cometer erros nesse momento, porque além do trabalho ministerial, que anda a todo vapor, ele é pré-candidato ao Senado, até aqui com chances concretas de conquistar uma das cadeiras.
Maranhãozinho sai dos bastidores e volta a propagar o PL na TV
Depois de um largo período mergulhado em problemas com a Justiça por conta de acusações pesadas sobre suposto esquema de corrupção com emendas parlamentares, e sumido da mídia, o deputado federal e chefe maior do PL no Maranhão, Josimar de Maranhãozinho, voltou à ribalta ontem nas telas de TV.
Aparentemente indiferente ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e da turma golpista, um empoado e empolgado Josimar de Maranhãozinho seguiu os passos da sua mulher, a deputada federal Detinha (PL), que vi há aparecendo sozinha, e protagonizou o programa político dizendo que o PL é o que há de melhor no mosaico partidário do Maranhão.
A sua aparente indiferença em relação ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e sua turma vem do fasto de que Josimar de Maranhãozinho integra uma pequena, mas aguerrida, fatia do PLK que não fecha com o bolsonarismo. Ele e o ex-presidente têm mantido uma dura guerra interna, com Jair Bolsonaro tentando, em vão, tomar-lhe o comando do partido no Maranhão, sendo sua resistência em parte bancada pelo presidente nacional do partido Valdemar Costa Neto.
A julgar pela sua desenvoltura na peça do PL veiculada ontem na TV, Josimar de Maranhãozinho parece apostar que sairá ileso do julgamento do suposto desvio de emendas.
São Luís, 09 de Setembro de 2025.


