Ao assumir o Governo interinamente, Iracema Vale amplia seu espaço no tabuleiro político

Iracema Vale no gabinete principal do Palácio dos Leões, atuando como governadora interina

Roseana Sarney não é mais a única mulher a ter comandado o Governo do Maranhão. Ontem, essa exclusividade política, que muitos achavam seria bem mais longeva, chegou ao fim com a ascensão da deputada Iracema Vale (PSB), presidente da Assembleia Legislativa, à chefia do Poder Executivo, com a viagem do governador Carlos Brandão (PSB) e do vice-governador Felipe Camarão (PT) para fora do Brasil. Iracema Vale será governadora interina do Maranhão até sábado, quando o governador e seu vice retornarem ao País. Serão quatro dias o período em que a chefe do Poder Legislativo comandará o Poder Executivo, o que dá ao fato um simbolismo muito maior. Tanto que o ato reuniu o presidente do Poder Judiciário, desembargador Paulo Velten, o presidente interino da Assembleia Legislativa, deputado Rodrigo Lago (PCdoB), e todo o secretariado no Palácio dos Leões.

A chegada de Iracema Vale ao comando do Governo do Estado não produzirá nenhuma mudança expressiva no Executivo. Mas como ato político, é o coroamento de um protagonismo iniciado no exato momento em que, na noite de 02 de outubro do ano passado, a Justiça Eleitoral divulgou o resultado das eleições de outubro, no qual a candidata apareceu como campeã de votos para a Assembleia Legislativa, com 104 mil votos, ao lado de detinha (PL), campeã de votos para a Câmara Federal, com 161 mil sufrágios. O diferencial de Iracema Vale foi o fato de ser mulher, com o mérito adicional de haver ultrapassado a barreira dos 100 mil votos na corrida ao Legislativo estadual, façanha eleitoral que nenhum político maranhense, homem ou mulher, realizou até agora.

O segundo momento desse protagonismo foi o lançamento dela como candidata à presidência da Assembleia Legislativa, eleita por aclamação, e assumir o comando do Poder Legislativo no 1º dia de fevereiro. Chegar ao comando do parlamento estadual não teria chamado tanto a atenção se não se tratasse de uma mulher, que quebrou a hegemonia masculina. Na sua fala aos presentes no Palácio dos Leões, a governadora interina mostrou ter a exata noção desse protagonismo: “Estamos fazendo história de muitas maneiras. Mesmo que por poucos dias, isso é muito significativo para mim. É um marco importante para todas nós mulheres, que almejamos ter os nossos espaços conquistados”.

Para muitos, esse turbilhão de eventos políticos poderia tirar Iracema Vale do seu eixo. Mas isso não correu. Ela vem administrando com cuidado esse vendaval de mudanças temporárias no plano da sua vida política e os desdobramentos no campo pessoal. Até agora, todas as suas declarações são feitas rigorosamente dentro do script político, evitando tropeços, à medida que vai também dizendo o que pensa.

No meio político, alguns observadores mais atentos começam a enxergar Iracema Vale num contexto político bem mais amplo do que a relação institucional do governador Carlos Brandão com a Assembleia Legislativa. A sua condição de mulher, a sua desenvoltura, a sua expressiva viabilidade, tudo isso associado a uma forte dose de carisma torna a governadora interina um quadro político de importância diferenciada, que deve ser adubado. Não foi sem razão que até o arcebispo de São Luís, que é o chefe da Igreja Católica no Maranhão, da qual é uma devota militante, foi ao Palácio dos Leões para cumprimentá-la.

Político experiente, que vivenciou ao longo de anos os movimentos do poder no palácio guarnecido por dois leões vigilantes, o governador Carlos Brandão dificilmente turbinaria o prestígio da presidente da Assembleia Legislativa não fosse a convicção de que a força política de Iracema Vale será importante ou até mesmo decisiva em algum momento do porvir. Por enquanto, a estratégia do governador Carlos Brandão só cuida para manter um relacionamento político maduro entre o Poder Executivo e o Palácio dos Leões.

PONTO & CONTRAPONTO

Paulo Velten apoia Iracema Vale e elogia “núcleo duro” do Governo

Iracema vale recebe o apoio de Paulo Velten para sua interinidade no comando do Governo do Estado

Ao participar, ontem, da troca de guarda temporária no Palácio dos Leões, o presidente do Poder Judiciário, desembargador Paulo Velten lembrou do período de interinidade que cumpriu à frente do Governo do Estado, e fez questão de afagar o chamado “núcleo duro” que auxilia o governador Carlos Brandão na governança:

– Lembro com saudade aquele período de 31 dias, seis horas e alguns minutos à frente do Governo do Estado. Posso testemunhar, governador interina, Iracema Vale, que aqui a senhora vai encontrar uma equipe de craques e sintonizada, de pessoas que tem de fato o espírito público, tão importante para esses momentos difíceis que nós vivemos”.

Para quem não sabe, o “núcleo duro” é formado pelos secretários Sebastião Madeira (Casa Civil e resp0ndendo interinamente pela Comunicação), José Reinaldo Tavares (Programas Estratégicos), Luzia Waquim (Governo), Luís Fernando Silva (Planejamento) e Aparício Bandeira (Infraestrutura).

Ganha força a posição do Ministério Público contra gastos excessivos com o Carnaval

Eduardo Nicolau: nada de gasto fora da realidade

Ganha ecos cada vez mais fortes o posicionamento firme oportuno do procurador geral de Justiça, Eduardo Nicolau, contra a gastança desenfreada de algumas prefeituras na realização do Carnaval. Ele recomendou a promotores que sejam rigorosos e impeçam esses gastos nos municípios com problemas graves nas áreas saúde pública e educação, por exemplo. Para ele, não faz sentido um município de pequeno porte gastar R$ 400, 500, 600 mil quando está faltando remédios no hospital local ou tenha professor com salário atrasado ou escola precisando de reparo urgente. Eduardo Nicolau faz questão de esclarecer que nada tem contra o Carnaval e não vê nada de anormal que prefeituras gastem com a organização da festa. Mas não aceita o fato de que haja gastos excessivos, principalmente com cachês milionários de artistas, em muitos casos fora da realidade financeira do município. Para ele, prefeitura pode bancar o Carnaval, mas dentro da realidade financeira do município. E argumenta que o problema não é gastar o dinheiro público, mas gastar mal o dinheiro público.

Nas contas de um promotor, pelo menos 20 das 217 prefeituras maranhenses decidiram não realizar o Carnaval depois que a medida contra gastos fora da realidade foi adotada pelo Ministério Público.

São Luís, 15 de Fevereiro de 2023.

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