“Castelo, o governador das grandes obras”: uma rica contribuição da TV Assembleia para a memória política do Maranhão

João Castelo: diferentes momentos de sua trajetória política

Entre 1979 e 1982, o Maranhão viveu um período politicamente intenso, com rasgos de otimismo por conta do programa de obras do governo de então, e momentos de tensão extrema, como a greve de estudantes pela meia passagem. No epicentro desse intervalo esteve o governador João Castelo (Arena). Eleito indiretamente, no sistema imposto pela ditadura militar, João Castelo soube construir um espaço de ampla e consistente ação política, conseguindo tornar-se um dos líderes mais importantes do Maranhão nos últimos 50 anos. Quem foi o caxiense João Castelo Ribeiro Gonçalves? Sua trajetória desde a infância, sua carreira como bancário, seu ingresso na política partidária, sua ascensão ao Governo do Estado, seu movimentado período de governo, seu mandato de senador e sua gestão na Prefeitura de São Luís estão contados no documentário “João Castelo, o governado das grandes obras”, produzido pela TV Assembleia.

Com 28 minutos de duração e sustentada por um roteiro inteligente, a peça documental mostra uma síntese consistente da trajetória do homem que governou o Maranhão por 1.365 dias entre final dos anos 70 e o início dos anos 80 do século passado. Naquele período, ele soube delimitar o seu espaço político entre o sarneysismo e o vitorinismo e conquistou, a duras penas, a estatura que o tornou um dos líderes mais destacados do Maranhão em tempos recentes. Sustentado por um texto bem elaborado e rico em informação, o registro da memória do bancário, deputado federal cinco vezes, governador, senador e prefeito de São Luís começa com uma bela imagem de Caxias, onde João Castelo nasceu e viveu até a adolescência, quando, fortemente atingido pela morte do pai, foi obrigado a trabalhar, tornando-se funcionário do Banco da Amazônia, do qual viria ser diretor regional pouco tempo depois. Aos 18 anos casou-se com Gardênia Castelo, sua companheira de toda a vida. O casal teve três filhos, sendo que o mais velho, ainda adolescente, morreu num acidente de carro, uma tragédia que marcou a família.

No contato com os problemas econômicos e sociais do Maranhão, o dirigente bancário João Castelo logo se interessou pela política e em 1970 elegeu-se deputado federal, se reelegeu em 1974 e em 1978 foi escolhido governador pelo sistema indireto numa disputa acirrada entre os então caciques José Sarney e Victorino Freire, um episódio ainda turvado por muitas versões. O registro documental relata o arrojo do seu governo, principalmente no que diz respeito ao obrismo, que chegou ao ponto alto naquele período. Além do complexo esportivo do Castelão, do Italuís, da Ponte Bandeira Tribuzi, do Hospital do Servidor e mais de duas mil obras espalhadas em todas as regiões, João Castelo criou a Secretaria de Cultura e nomeou a escritora Arlete Nogueira Cruz sua primeira titular, e iniciou o Projeto Praia Grande, o primeiro grande passo para o processo de preservação do acervo arquitetônico colonial de São Luís, que teve prosseguimento com o Projeto Reviver.

O documentário resgata momentos interessantes para a crônica política do Maranhão, como o relato feito pelo ex-secretário de Obras João Rodolfo, segundo o qual João Castelo convidou o ditador de então, general João Batista Figueiredo, para inaugurar a Ponte Bandeira Tribuzi. O ditador recusou o convite alegando que Tribuzi era comunista, e que só viria se a ponte fosse batizada com outro nome. E numa tensa conversa telefônica com o general, João Castelo argumentou que Bandeira Tribuzi era um grande poeta e um grande economista e que o povo maranhense queria homenageá-lo, e que por isso o nome não seria mudado. O ditador manteve a recusa, mas a ponte foi inaugurada com o nome do autor do Hino de São Luís.

“João Castelo, o governador das grandes obras” registra ainda a trajetória do senador-constituinte João Castelo e a realização de um sonho: ser prefeito de São Luís, o que aconteceu nas eleições municipais de 2008, vencendo o hoje ex-governador, senador eleito e ministro da Justiça e Segurança Pública Flávio Dino (PSB). Registra também que o político João Castelo pertenceu aos partidos Arena, PDS, PRN, PPR, PPB e PSDB.

Dirigido pelo jornalista Edwin Jinkings, diretor de Comunicação da Assembleia Legislativa nos cinco anos de gestão do presidente Othelino Neto (PCdoB), e conhecedor profundo da trajetória do personagem, e com roteiro da talentosa jornalista Márcia Coimbra, “João Castelo, o governador das grandes obras” usa bem os clássicos elementos de documentário, incluindo a série de depoimento de familiares, a começar por Gardênia Ribeiro Gonçalves – os dois se casaram quando ele tinha 18 e ela 15 anos -, amigos e auxiliares, entre eles um dos seus maiores amigos o economista caxiense Frederico Brandão, o médico e apresentador de TV Francisco Viana, o engenheiro José Joaquim Ramos,  e o engenheiro João Rodolfo, responsável pelo programa de obras, entre outros. As informações que deram base ao roteiro, os depoimentos e uma rica sequência de imagens tornam o documentário uma síntese inteligente e bem armada da trajetória de um dos mais importantes líderes políticos maranhenses.

Trata-se, por fim, de um registro bem apurado, que servirá também como roteiro e ponto de partida para resgates mais alentados e aprofundados da trajetória do ex-governador do Maranhão, falecido em 2016. Mil pontos para a TV Assembleia e sua equipe, que brindaram a memória maranhense com documentários especiais sobre nações indígenas, sobre a icônica matrona escravista Ana Jansen, entre outros registros importantes.

PONTO & CONTRAPONTO

Nova Assembleia Legislativa: indefinições na formação da Mesa Diretora

Rodrigo Lago e Ana do Gás em disputa; Antônio Pereira está seguro, apesar da ameaça

Faltam menos de 90 horas para a posse da nova Assembleia Legislativa, e até ontem não havia acordo sobre pelo menos dois cargos da Mesa Diretora. Um deles é a 1ª vice-presidência, que caiu para o PCdoB, tendo a maioria da bancada indicado o deputado eleito Rodrigo Lago, mas a deputada reeleita Ana do Gás bateu pé e decidiu disputar no plenário. O presidente do PCdoB, deputado federal Márcio Jerry, vem se esforçando para evitar que a bancada rache de vez.

A segunda disputa estaria se dando pela 1ª secretaria, que já estaria resolvida para o deputado Antônio Pereira (PSB), que a reivindicou desde o início das discussões sobre Mesa Diretora. Estaria em curso um movimento discreto tentando tirar a vaga do PSB, mas na avaliação de deputados experientes o plano não vai ser bem sucedido. Antônio Pereira estaria garantido, mesmo com uma eventual disputa no plenário.

As diferenças estão sendo administradas pela virtual presidente, deputada Iracema Vale (PSB).  

Um conflito sem sentido

Lula da Silva estoca Michel Temer, que começa a devolver: a quem interessa?

Pergunta que não quer calar: o que está motivando o presidente Lula da Silva (PT) a abrir uma frente de conflito com o ex-presidente Michel Temer, a quem tem acusado sistematicamente de ser golpista por ter assumido a presidência da República com o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), de quem era vice?

Por temperamento e por uma série de razões, o ex-presidente Michel Temer quer manter uma vida discreta, longe de confusão, como a sua prisão por mais de 70 horas. Mas diante do bombardeio disparado pelo presidente Lula da Silva, ele reagiu duro, afirmando, entre outras coisas, que sabe “lidar com bandido”.

O que mais chama a atenção é o fato de que isso acontece exatamente no momento em que o presidente Lula da Silva mantém um discurso forte pela unidade do país e busca construir uma base no Congresso Nacional.

Difícil de entender.

São Luís, 28 de Janeiro de 2023.

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