Em contagem regressiva para ser a primeira mulher eleita presidente da Assembleia Legislativa do Maranhão, no pleito que ocorrerá no dia 1º de fevereiro, daqui a nove dias, portanto, a deputada eleita Iracema Vale (PSB) tem dedicado seus dias à delicada tarefa de administrar a montagem da Mesa Diretora que presidirá, formada, além dela, por três vice-presidentes e quatro secretários. Não é uma engenharia fácil, apesar de as regras sugerirem o contrário. O princípio básico é o de que ocupa mais vagas o partido que tiver mais deputados. Mas há também a regra segundo a qual a Mesa deve ter algum contrapeso oposicionista ou da minoria, o que lhe dá o caráter da proporcionalidade desenhada pelas urnas. Com o desafio de evitar fraturas na ampla base de sustentação montada para garantir uma eleição sem qualquer risco, com alguns apostando até num improvável desfecho por aclamação, a deputada eleita Iracema Vale vai mostrando boa capacidade de articulação, conduzindo o processo sem interferir nas decisões das bancadas.
A enfermeira e ex-prefeita de Urbano Santos entrou na disputa ciente de que o seu trabalho político na região seria recompensado. Sabia que seria eleita com votação expressiva, mas não contava que emergiria das urnas como um fenômeno eleitoral, com forte impacto no meio político: o primeiro deputado estadual eleito com mais de 100 mil votos, recorde enriquecido com a condição de mulher. Diante do fato surpreendente, o governador Carlos Brandão (PSB), reeleito no 1º turno, tendo-a como um dos seus aliados mais fiéis, convidou-a para se candidatar à presidência da Assembleia Legislativa. Para convencê-la, usou o argumento de ser ela a primeira mulher a disputar o cargo, com quase certeza de ser bem sucedida na disputa, à medida que iniciaria a campanha com 25 dos 42 votos – 11 do PSB, 5 do PCdoB, 4 do PP, 3 do Patriota e 2 do MDB. Os demais votos – 5 do PL, 4 do PDT, 2 do PSD, 2 do Podemos, 2 do PSC, 1 do Republicanos e 1 do União Brasil -, ou pelo menos parte deles, seriam conquistados ao longo da campanha.
Iracema Vale topou. E o fez de maneira entusiasmada, mas também com as cautelas que todo político deve ter numa situação como essa. A previsão inicial de apoio foi se confirmando com a evolução e ampliação das conversas, que não só viabilizaram a sua candidatura, como também reduziram quase totalmente a margem para uma eventual candidatura de oposição. Numa articulação com o apoio do Núcleo Duro do Palácio dos Leões, e como aval discreto, mas efetivo e determinado do governador Carlos Brandão, todos os deputados eleitos e reeleitos na base governista, que pretendiam disputar o comando do Poder Legislativo, a começar pelo presidente Othelino Neto (PCdoB), retiraram seus projetos de candidatura, deixando caminho livre para a parlamentar. Esses movimentos consolidaram a candidatura da socialista e fortaleceram o indicativo de que ela pode vir a ser aclamada na eleição do dia 1º de fevereiro.
A confortável situação de Iracema Vale não elimina de todo a possibilidade do surgimento de uma candidatura de oposição, com deputados do PDT e do PL, ou uma candidatura avulsa. Numa Casa plural como a Assembleia Legislativa, tudo pode acontecer numa eleição para a formação da Mesa Diretora. E para que a possibilidade de uma disputa incômoda se torne cada vez mais improvável, a futura presidente trabalha com todo cuidado a formação da Mesa Diretora, fazendo as acomodações necessárias para que todos os cargos sejam preenchidos com a devida representação partidária. As indicações estão sendo feitas pelas bancadas, onde está havendo embates, como é o caso da representação do PCdoB, cuja maioria indicou o deputado eleito Rodrigo Lago para a 1ª vice-presidência, mas a deputada reeleita Ana do Gás decidiu não acatar a decisão da maioria e, a princípio sem chance, decidiu se lançar candidata avulsa para esse cargo estratégico.
Até aqui, Iracema Vale vai modelando com habilidade a aliança em torno da sua candidatura, não deixando dúvida de que vai entrar para a História como protagonista de uma mudança ousada no comando da Assembleia Legislativa.
PONTO & CONTRAPONTO
Ação de Ivo Rezende apoiada por Carlos Brandão estancou sangria nos cofres de prefeituras
O prefeito Ivo Rezende (PSB), obteve ontem sua primeira vitória em favor dos municípios na condição de presidente da Famem. É que decisão liminar do ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu o uso de dados do novo Censo Demográfico do IBGE, ainda não inteiramente concluído, para efeito de cálculo das quotas do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Com a liminar, o Tribunal de Contas da União (TCU), que faz o cálculo do valor dos repasses mensais aos municípios, tem de voltar a usar o número de habitantes de antes do Censo Demográfico. Sem a decisão do STF, mais de seis dezenas de municípios maranhenses teriam suas quotas de FPM reduzidas. Quando o TCU anunciou a redução dos valores para aqueles municípios, o ainda presidente eleito da Famem acompanhou o governador Carlos Brandão (PSB) numa incursão no TCU e no STF. Nas duas instituições, ambos relataram a situação e protocolaram ações cobrando a derrubada da medida do TCU e restabelecendo as bases da definição dos valores. Ontem, o ministro Ricardo Lewandowski concedeu liminar estancando a sangria nos cofres de grande parte dos mais de cinco mil municípios brasileiros. Ivo Rezende comemorou.
Josimar de Maranhãozinho já não é tão poderoso
Os fortes ventos de mudança no cenário político do País estão se refletindo nos ambientes estaduais. Um exemplo é a posição das bancadas atual e futura do PL na Assembleia Legislativa.
A bancada atual, formada pelos deputados Detinha, Hélio Soares, Vinícius Louro e Pará Figueiredo cumpria cegamente, sem discussão, as orientações do deputado federal Josimar de Maranhãozinho, o todo-poderoso manda-chuva do partido no Maranhão.
Já a bancada eleita, formada pelos deputados Abigail, Cláudio Cunha, Aluízio Santos, Fabiana Vilar e Solange Almeida, já não se curva una e docilmente às ordens do chefão do PL. Na formação da Mesa Diretora da Assembleia Legislativa, Josimar de Maranhãozinho decidiu que o partido será representado pela deputada Fabiana Vilar. Numa reação inadmissível até recentemente, Abigail e Claudio Cunha discordaram, causando um racha na bancada.
O racha pode até ser superado, mas o que ficou claro é que Josimar de Maranhãozinho deve se preparar para ouvir “não” de vez em quando.
São Luís, 24 de Janeiro de 2023.