Passados oito meses e alguns dias da sua posse no Senado da República pelo PSB, o senador Roberto Rocha está no centro das conversas que vêm animando os bastidores da política do Maranhão. Desde há algum tempo, rumores frenéticos, sem origem nem confirmação, espalharam aos quatro cantos que o senador, depois de ter entrado deliberadamente em rota de colisão, teria rompido de vez com o governador Flávio Dino (PCdoB), de quem foi companheiro de chapa em 2014, e com o prefeito de São Luís, Edivaldo Jr. (PDT), de quem foi vice até abril do ano passado, e estaria se reaproximando do Grupo Sarney. Recentemente, três fatos contribuíram para, se não clarear definitivamente, pelo menos para jogar luzes sobre os ousados movimentos do senador.
Na sexta-feira (2) da semana passada, numa decisão surpreendente, o comando estadual do PMDB mandou retirar a ação por meio da qual denunciava à Justiça Eleitoral o que seriam graves irregularidades na prestação de contas de campanha do senador Roberto Rocha. As versões para esse gesto do PMDB são as mais diversas, mas o que ficou evidenciado mesmo foi que Roberto Rocha abriu um canal de comunicação com o Grupo Sarney. A decisão pemedebista foi duramente criticada pelo ex-deputado Gastão Vieira, que disputou a senatória com Rocha pelo PMDB e hoje está no PROS e acreditava seriamente que a ação poderia levar a uma nova eleição para o Senado.
Na quarta-feira (7), o senador Roberto Rocha esteve no Palácio dos Leões, onde conversou demorada e descontraidamente com o governador Flávio Dino. Os dois participaram de uma feira de incentivo ao pequeno negócio, trocaram figurinhas e posaram abraçados para os fotógrafos. O encontro e a imagem não eliminaram os rumores de distanciamento entre os dois, mas evidenciaram que Rocha e Dino mantêm relacionamento político, que pode não ser o de aliados incondicionais, que rezam na mesma cartilha, mas também nem de longe sugere que os dois estão rompidos e são agora adversários.
Na quarta-feira, Rocha recebeu em seu gabinete no Senado ninguém menos que o prefeito Edivaldo Jr., de quem foi vice até se desincompatibilizar para se candidatar a senador. Nos bastidores, praticamente todas as vozes propagavam o rompimento político dos dois, especulação reforçada pela declaração de Roberto Rocha levantando a possibilidade de vir a ser candidato a prefeito de São Luís disputando exatamente com o prefeito Edivaldo Jr., seu companheiro de chapa em 2012 e seu vice por 16 meses. O encontro de Brasília sinalizou que, se houve problemas, eles não foram suficientes para afastá-los definitivamente.
Em meio a esse redemoinho, o senador Roberto Rocha vai exercendo seu mandato com visível independência, abrindo canais de comunicação política nas mais diversas direções. Para começar, faz oposição moderada, mas firme, à presidente Dilma Rousseff, seguindo a linha do seu partido e contrariando a do governador Flávio Dino, que é alinhado ao governo do PT. Com muita desenvoltura e a experiência de quem já foi deputado estadual, deputado federal e vice-prefeito de São Luís, Rocha integra comissões importantes da Câmara Alta e já apresentou várias propostas que deram o que falar. Ao mesmo tempo, atua no campo político e partidário, ora como articulador do seu partido, ora como político jovem que, movido pela audácia e pela ambição, procura construir uma carreira solo, lembrando a carreira do pai, o ex-governador Luis Rocha, um dos políticos maranhenses mais importantes, atuantes e também controvertidos do século passado.
No campo partidário, Roberto Rocha trava há anos uma guerra aberta com o ex-governador e hoje deputado federal José Reinaldo Tavares pelo controle do PSB no Maranhão. O rompimento aconteceu em 2010, quando os dois se candidataram ao Senado contra João Alberto e Edison Lobão, ambos do PMDB. Foram derrotados e até hoje José Reinaldo culpa Roberto Rocha. Em 2014, Roberto Rocha, então vice-prefeito de São Luís, tomou a frente, renunciou, se candidatou ao Senado em dobradinha com Flávio Dino e bateu nas urnas o deputado federal e ex-ministro Gastão Vieira (PMDB). A disputa no PSB é tão intensa, que recentemente, diante de um ensaio de pré-candidatura do deputado estadual Bira do Pindaré, Roberto Rocha estremeceu o cenário político ao se lançar pré-candidato a prefeito de São Luís. Ninguém acreditou, e a interpretação geral foi a de que ele quis tão somente deixar claro quem manda no partido. Aliados do prefeito Edivaldo Jr. reagiram indignados, mas o próprio senador tratou de desativar a bomba dizendo a interlocutores que não planeja disputar o Palácio de la Ravardière.
O fato é que o senador Roberto Rocha segue seu caminho dando a impressão de que seu projeto é construir base para chegar um dia ao Palácio dos Leões.
PONTOS & CONTRAPONTOS
Bênçãos de Nossa Senhora
O presidente eleito do Tribunal de Justiça, desembargador Cleones Cunha não mudou sua rotina no dia seguinte à escolha, que se deu ir aclamação, quarta-feira. Ontem, às 9h, já estava no Palácio Clóvis Bevilácqua, onde trabalhou o dia todo despachando processos. Hoje, embarca para Belém onde, na condição de católico fervoroso, participará da procissão do Sírio de Nazaré. “Vou entregar o meu mandato de presidente do Tribunal de Justiça à Nossa Senhora. Vou pedir-lhe que ilumine meus passos, que abençoe a justiça do Maranhão e que me ajude a fazer um bom trabalho como presidente”, disse, falando à Coluna com a convicção de católico praticante e devoto de Nossa Senhora.
Primeiras definições
O desembargador Cleones Cunha já tomou várias decisões para serem concretizadas no período de transição. Uma delas: a juíza Isabella Lago vai comandar a Diretoria Geral do Tribunal de Justiça. A nomeação dela será uma inovação, uma vez que até hoje nenhum magistrado ocupou cargo de comando administrativo no Poder Judiciário. Outra decisão: com exceção da Diretoria Judiciária, que vai continuar com a atual diretora, Denise Reis Batista, todas as demais diretorias serão ocupadas por funcionários de carreira do Poder Judiciário. É o caso, por exemplo, do advogado Marcos Nauz, servidor de carreira do TJ e ocupado atualmente a Diretoria Financeira do Tribunal Regional Eleitoral, que será convocado para retornar ao TJ para assumir a Diretoria Financeira, cargo que já exerceu com eficiência reconhecida.
Transição
A transição para a mudança de comando no Tribunal de Justiça será iniciada na próxima terça-feira, quando o presidente eleito Cleones Cunha começará a se reunir com os responsáveis pelos mais diversos setores administrativos do Poder.
São Luís, 09 de Outubro de 2015.
Um comentário sobre “Roberto Rocha atua no Senado com independência, mas mantém alianças e abre novos canais políticos”