Flávio Dino (PCdoB) não se curvou a José Sarney (MDB) nem José Sarney (MDB) se dobrou a Flávio Dino. Não houve vencedor nem vencido, beneficiado ou prejudicado no encontro dos dois líderes, realizado quarta-feira, em Brasília, no qual conversaram sobre a instabilidade política e institucional do País, segundo informou o governador numa mensagem sucinta na sua conta no twitter. Os dois terminaram a conversa – que durou cerca de duas horas – nas mesmas posições que sempre ocuparam no cenário político maranhense, onde lideram forças adversárias em permanente estado de confronto. A diferença é que José Sarney é um gigante político que ao longo de sete décadas esteve no olho do furacão político nacional, como deputado federal, governador, senador, presidente do Congresso Nacional e presidente da República, alcançando o raro status de referencial político da Nação, enquanto Flávio Dino, menos de duas décadas depois de entrar formalmente na política como deputado federal, vem ganhando dimensão nacional como governador eleito e reeleito e com possibilidade real de vir a ser candidato a presidente da República.
Flávio Dino não foi ao encontro de José Sarney em busca de conciliação no sempre explosivo campo político maranhense nem buscar conselho ou orientação a respeito de como governar. Ele se reelegeu governador em turno único liderando uma aliança de 16 partidos, conta com o apoio de 36 dos 42 deputados estaduais, de 12 dos 18 deputados federais e de dois dos três senadores maranhenses, além de dois terços dos 217 prefeitos e de centenas de vereadores, o que lhe dá posição indiscutível de liderança sólida que independe do apoio do ex-presidente Sarney ou de qualquer outra liderança do estado. Essa posição está consolidada pelos bons resultados da sua administração, marcada por um rígido equilíbrio entre receita e despesa e por fortes investimentos em programas sociais, notadamente em educação, saúde e segurança. Esse conjunto de fatores, associado a uma ação política permanente, na qual se destaca óbvia coerência em relação a princípios políticos e viés ideológico, o tornou uma das mais destacadas lideranças nacionais, com espaço consolidado e crescente num vasto espectro que vai do centro à esquerda, onde começa a ser apontado como opção para disputar a Presidência da República.
José Sarney não carece do apoio de Flávio Dino. Político de centro-direita, mas pouco identificado com a direita liberal, tem posição consolidada como líder no cenário nacional. Com exceção da presidência da República, que ocupou depois de ter sido eleito vice de Tancredo Neves (MDB) em eleição indireta no Colégio Eleitoral do Congresso Nacional, Sarney conquistou todos os seus mandatos pelo voto direto. É hoje o maior nome do MDB e uma espécie de oráculo político nacional, e cujo item mais destacado do seu lastro é ter comandado, como presidente da República, a redemocratização do País, tendo inclusive tirado o PCdoB da clandestinidade. No que respeita ao Maranhão, seu Governo foi o marco que colocou o estado nos trilhos da modernidade, rendendo-lhe um comando político que durou cinco décadas.
Não se duvida de que a conversa tenha enveredado também por temas maranhenses – como o Porto do Itaqui e a abertura do Centro de Lançamento de Alcântara para exploração comercial, por exemplo – que interessam aos dois líderes na mesma medida. Mas também é rigorosamente certo que o tema central foi a instabilidade política e institucional instalada no País com a eleição de Jair Bolsonaro (PSL) e a instalação do Governo dele. É também verdadeira a avaliação de que Flávio Dino e José Sarney concordam nesse item, já tendo ambos se manifestado várias vezes sobre o assunto, em diferentes tons, mas com graus aproximado de preocupação.
É difícil prognosticar se essa conversa terá desdobramentos, mas é lícito afirmar que, embora o fosso que separa Flávio Dino de José Sarney ainda seja muito largo e profundo, o encontro abriu uma janela por meio da qual eles possam vir a se comunicar novamente. Por enquanto é somente isso.
PONTO & CONTRAPONTO
Weverton Rocha joga confetes em Osmar Filho e coloca dúvidas sobre o acordo PDT/DEM em São Luís
Mais um petardo foi disparado na direção do projeto de acordo entre o PDT e o DEM para o lançamento da candidatura do deputado estadual democrata Neto Evangelista à Prefeitura de São Luís. Desta vez foi o próprio chefe maior do PDT, senador Weverton Rocha quem apertou o gatilho ao afirmar que o presidente da Câmara Municipal, vereador Osmar Filho (PDT), tem o seu aval para se lançar pré-candidato a prefeito de São Luís. Quem conhece Weverton Rocha sabe que ele dificilmente faria tal manifestação se o acordo com Neto Evangelista já estivesse devidamente amarrado, como têm afirmado algumas vozes jornalísticas. Weverton Rocha já provou que é um jogador habilíssimo, que sabe onde pisa e que dificilmente cometeria um erro tão primário. Ao avalizar os movimentos de Osmar Filho, o presidente estadual do PDT avisa que o cenário ainda está sendo desenhado, sendo precipitação das grandes apontar uma candidatura irreversível faltando um ano para as convenções que confirmarão, ou não, as candidaturas à sucessão do prefeito Edivaldo Holanda Jr. (PDT).
Presidente continua “brindando” os brasileiros com declarações grotescas
Se continuar nesse ritmo, dizendo uma impropriedade atrás da outra, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) poderá se encrencar em pouco tempo. Ontem, por exemplo, na entrevista coletiva que deu antes de deixar o Japão, onde participou da reunião do G-20, ele brindou os brasileiros com duas pérolas.
A primeira: ao ser indagado sobre a prisão de assessores do ministro do Turismo, Marcelo Álvares, que é deputado federal pelo PSL e está encrencado por fortes suspeitas de ter desviado dinheiro do Fundo Eleitoral com candidaturas fajutas de mulheres, o presidente reagiu dizendo que estão querendo atingi-lo e que vai “determinar” à Polícia Federal que investigue o caso. A resposta não teve pé nem cabeça, pois a Polícia Federal prendeu os três assessores por ordem judicial, e depois, como presidente, ele não pode “mandar” a PF, que é polícia judiciária e só atua sob as ordens da Justiça.
A segunda: sobre a prisão do sargento da Aeronáutica que foi preso na Espanha com 39 quilos de cocaína no avião da FAB que dava apoio à comitiva presidencial na viagem ao Japão, o presidente extrapolou todos os limites da incoerência para o discurso de um chefe de Estado. Ao externar sua indignação como militar-bandido, Jair Bolsonaro desejou que ele “tivesse sido preso na Indonésia”, onde, há dois anos, dois brasileiros presos por tráfico de cocaína foram condenados à morte e executados por pelotões de fuzilamento. A resposta grotesca do presidente da República causou mal-estar no País.
São Luís, 30 de Junho de 2019.