Não se discute que, à primeira vista, a “Lista do Fachin” caiu como uma bomba no Palácio dos Leões, com potencial para causar estragos em projetos em andamento para as eleições do ano que vem, mas é indiscutível também que, passado o alvoroço inicial da sua publicação e as reações dos alcançados, os danos políticos que poderá causar no Maranhão serão bem menores do que se podia prever. Alvo mais importante da lista no âmbito estadual, o governador Flávio Dino foi duramente espancado por vozes oposicionistas, mas reagiu de maneira firme, equilibrada, técnica e sem explodir como fazem comumente os culpados sem saída. O deputado federal e ex-governador José Reinaldo Tavares (PSB) também não explodiu e avisou que vai desmontar a acusação durante o inquérito, o mesmo fez o ex-procurador geral do Estado no seu Governo, Ulisses Martins. Os três dificilmente serão transformados em réus, e se o forem, parece remota a possibilidade de que venham a ser julgados culpados, condenados, presos e banidos da vida pública. Poderão, no máximo sofrer danos políticos, mas é improvável que sejam politicamente guilhotinados.
O maior impacto causado pela fatia maranhense da “Lista de Fachin” foi o seu uso político, que ecoou com mais força no plenário da Assembleia Legislativa, na forma de duros ataques – uns pragmáticos e outros passionais e agressivos – de deputados que formam, de um lado, a banda ricardista, e de outro, a representação roseanista do Grupo Sarney ao governador Flávio Dino, e a reação firme, enfática, mas nada belicosa dos porta-vozes governistas e do próprio chefe do Executivo.
Os deputados oposicionistas Andrea Murad (PMDB) e Souza Neto (PROS) – que expressam, com aplicado rigor, o pensamento do ex-deputado estadual Ricardo Murad (PMDB), que planeja cada movimento dos dois – usaram a citação de Flávio Dino como uma dádiva divina para externar o alcance da ira que cultivam em relação ao governador. Com a gana de quem se preparou escolhendo cuidadosamente os adjetivos, Andrea Murad disse, como que fazendo um desabafo, que a “Lista do Fachin” “tirou a máscara” do político Flávio Dino, revelando “um bandido sem moral e sem ética”. E foi mais longe ao definir o governador como “corrupto barato” e “propineiro ordinário”, usando um tom que misturou ódio e prazer. Não tão carregado, mas igualmente enfático, o deputado Souza Neto usou o mesmo roteiro. Já o deputado Adriano Sarney (PV), que representa a banda roseanista do Grupo Sarney, usando a linha equilibrada do pai e do avô, atacou fortemente, dizendo que a partir da sua inclusão na na “Lista do Fachin”, o governador Flávio Dino “terá de se medir com a régua que sempre usa para medir os seus adversários”. Nenhum outro deputado sarneysista se manifestou.
A base de apoio do governador reagiu de maneira surpreendentemente sóbria: os deputados governistas contestaram a delação, negaram enfaticamente que o então deputado federal Flávio Dino tenha recebido dinheiro sujo da Odebrecht. Relataram que o alegado apoio do parlamentar a um projeto que beneficiaria a empreiteira não existiu, a começar pelo fato de que Dino foi escolhido relator da matéria, mas nunca emitiu parecer e que a proposta acabou arquivada. Destacaram que Flávio Dino não está entre os autores do tal projeto e que na relação consta o deputado federal Sarney Filho (PV). Além disso, chamaram atenção para a trajetória pessoal e política do governador, destacando a sua seriedade, sua idoneidade e sua conhecida postura contra a corrupção, que se consolidou quando exerceu a magistratura federal e se confirmou quando se tornou político profissional. E numa clara estratégia destinada a conter a gritaria, o líder governista Rogério Cafeteira e os deputados Othelino Neto (PCdoB), Marco Aurélio (PCdoB) e Bira do Pindaré (PSB) focaram suas falas em críticas a aspectos da Operação Lava Jato e na inocência do governador, de quem exaltaram as qualidades e as ações, estocaram os adversários, mas ignoraram solenemente as agressivas cipoadas verbais da deputada Andrea Murad.
Tão surpreendente quanto os discursos dos seus defensores na Assembleia Legislativa foi o rebate do próprio governador Flávio Dino. Com serenidade espantosa para quem foi incluído numa relação formada por dezenas de potenciais criminosos políticos, escreveu numa rede social: “Se um dia houver de fato investigação sobre meu nome, vão encontrar o de sempre: uma vida limpa e honrada. Tenho consciência absolutamente tranquila de jamais ter atendido qualquer interesse da Odebrecht, nos cargos que exerci nos três Poderes. O justo propósito de investigar crimes às vezes atinge injustamente pessoas inocentes. É o meu caso”. E com a mesma postura, encarou as câmeras sem demonstrar mais ou menos emoção do que de costume, para dizer que aguarda com serenidade o desfecho do caso.
PONTO & CONTRAPONTO
Lobão tem a situação mais difícil entre os citados na fatia maranhense da “Lista do Fachin”, mas mantém discurso
O caso mais grave da fatia maranhense da “Lista do Fachin” é o do senador, ex-governador e ex-ministro de Minas e Energia Edison Lobão (PMDB), que está citado em várias delações por diferentes denúncias, e por isso corre sério risco de sair do processo com a trajetória manchada por uma condenação. De acordo com o que foi divulgado, ele é alvo de seis acusações feitas por delatores importantes da Odebrecht, parte delas relacionadas com supostos desvios milionários na construção hidrelétricas. Foi também acusado de receber propina nos esquema de desvio montados na Petrobras e na Usina Nuclear de Angra dos Reis quando foi ministro dos Governo de Lula da Silva (PT) e Dilma Rousseff (PT). Lobão reagiu com a estratégia de sempre à sua inclusão na nova lista. Disse, por meio de seu advogado, Antonio Carlos de Almeida Castro, que é inocente, que as acusações são absurdas e que vai provar tudo ao longo dos inquéritos. Agora, em contato com a imprensa, declarou que só vai se manifestar quando tomar conhecimento detalhado do teor das delações, de modo a reunir as condições técnicas para se defender. Lobão tem evitado exposição excessiva, não fala sobre o assunto na tribuna e raramente concede entrevista. Tem plena consciência de que o seu caso é “oito ou oitenta”, daí usar todos os recursos de quem está numa guerra. O último e mais importante foi eleger-se presidente da poderosa e influente Comissão de Constituição e Justiça do Senado, ganhando poder de fogo para preparar sua defesa com mais segurança, mesmo sabendo tratar-se apenas de uma questão de tempo, principalmente se levado em conta o fato de que só dispõe de 20 meses de mandato.
José Reynaldo mantém data para lançar sua candidatura ao Senado: 6 de maio em Tuntum
O deputado José Reinaldo Tavares (PSB) está decidido a manter inalterada a programação de lançamento da sua candidatura ao Senado, que está marcada para o dia 6 de maio, em Tuntum, numa grande festa política liderada pelo prefeito Cleomar Tema Cunha (PSB), presidente da Famem. Tema reconhece no ex-governador a mola-mestra de tudo o que aconteceu politicamente no Maranhão desde 2006, avaliando que não fosse sua coragem e determinação, o movimento que culminou com a eleição de Jackson Lago (PDT) teria fracassado, inviabilizando os desdobramentos, como a eleição de Flávio Dino em 2014, por exemplo. O prefeito de Tuntum e muitas outras lideranças políticas maranhenses acham que José Reinaldo merece exercer mandato de senador, ou, pelo menos, ganhar as condições políticas para disputar de igual para igual com os demais candidatos no ano que vem.
São Luís, 12 de Abril de 2017.