Não há registro na história política recente do Maranhão de um momento pré-eleitoral em que se apresentaram tantas e diferentes personalidades interessadas em se credenciar para disputar as duas vagas que serão abertas no Senado da República em 2018. Estão em pré-campanha, por enquanto os deputados federais Weverton Rocha (PDT), Sarney Filho (PV), José Reinaldo Tavares (PSB), Eliziane Gama (PPS) e Waldir Maranhão (PP), o deputado estadual Humberto Coutinho (PDT), o suplente de senador Lobão Filho (PMDB), o ex-prefeito de Imperatriz Sebastião Madeira (PSDB), a ex-governadora Roseana Sarney (PMDB), o senador João Alberto (PMDB) e o ex-juiz estadual Márlon Reis (Rede); e existe outro grupo, dos que são citados apenas como possibilidades remotas, mas que ninguém descarta que possam entrar na briga: os prefeitos Luis Fernando Silva (PSDB), de São José de Ribamar, e Hilton Gonçalo (PCdoB), de Santa Rita, e o ex-ministro Gastão Vieira (PROS). São todos políticos credenciados, com diferentes lastros, mas potencialmente cacifados para entrar na briga, que se desenha, pelo menos até aqui, para ser a mais renhida do próximo pleito.
Tradicionalmente, a eleição de senador ocorre diretamente associada à de governador. Via de regra, os candidatos a governador, principalmente os favoritos, costumam “puxar” os candidatos a senador, formando “dobradinhas” que sempre resultam bem sucedidas, como aconteceu em 2010, com a eleição da pemedebista Roseana Sarney para o Governo, e a de João Alberto e Edison Lobão, ambos do PMDB, para a Câmara Alta; e em 2014, com a vitória acachapante de Flávio Dino (PCdoB) para o Palácio dos Leões, e a eleição de Roberto Rocha (PSB) para o Senado. Esse aspecto da corrida senatorial indica que esse número elevado de candidatos será depurado com a formação de chapas governista e oposicionista, abrindo caminho para algumas candidaturas em chapas que expressem outras vias, como a ultraesquerda e candidaturas independentes.
O governador Flávio Dino certamente enfrentará dificuldades para definir dois candidatos a senador na montagem da sua chapa. No seu campo estão em clima de pré-campanha os pedetistas Weverton Rocha e Humberto Coutinho, o socialista José Reinaldo e o pepista Waldir Maranhão. Todos lhe são estreitamente ligados, integram a linha de frente da base política do seu Governo e – com exceção de Humberto Coutinho, que enfrenta problemas de saúde -, não parecem dispostos a abrir mão dos seus projetos senatoriais. E nesse contexto entraria também Eliziane Gama, que se entrar para valer e não for acomodada na barca governista, poderá fazer uma campanha paralela com um discurso nada simpático ao Governo – caso também de Hilton Gonçalo, e até mesmo de José Reinaldo, se vier a ser preterido em favor de Waldir Maranhão. A se manterem esses cinco pré-candidaturas, e tudo indica que elas serão mantidas, o governador Flávio Dino se verá numa tremenda encrenca doméstica, tendo de usar toda sua habilidade para encontrar uma saída sem maiores traumas.
No campo oposicionista a situação é parecida, e a pergunta que se faz é a seguinte: como serão acomodados Sarney Filho e Roseana Sarney? A resposta é muito complicada, começando pelo fato de que uma definição implica em rifar um dos dois. Se Roseana for candidata ao Governo, Sarney Filho não poderá ser candidato ao Senado, e vice versa – um deles, portanto, terá de ir para o sacrifício. A outra vaga de candidato a senador numa chapa do Grupo Sarney será disputada pelo senador João Alberto e o suplente Lobão Filho. Diante de um impasse, o grupo poderá negociar um acordo interno que mande Roseana para disputar o Governo, Lobão Filho e João Alberto para disputar as cadeiras do Senado e Sarney Filho se conformando com mais um mandato na Câmara Federal.
Os demais pré-candidatos dificilmente formarão chapas compostas. Sebastião Madeira se movimenta para que o PSDB lance chapa própria ao Senado, pretendendo ter Luis Fernando Silva na outra vaga. Luis Fernando é nome lembrado em todas as conversas, mas disse à Coluna que seu projeto é reconstruir São José de Ribamar, indicando que só deixaria a Prefeitura daqui a dois anos para disputar vaga no senado numa situação excepcional, o mesmo acontecendo com Hilton Gonçalo. Gastão Vieira não descarta ser candidato ao Senado numa chapa independente, mas o projeto que cultiva no momento é voltar á Câmara Federal. E Márlon Reis só aguarda uma definição de Marina Silva para resolver se disputará a senatória ou o Governo do Estado.
Esse é o quadro de agora. Outros desenhos podem estar a caminho.
PONTO & CONTRAPONTO
Eike Batista – quem diria? – prestou bom serviço ao Maranhão
Hoje com prisão preventiva decretada e transformado num inacreditável e acabado exemplo de fracasso, isso depois de ter sido apontado como um dos homens mais ricos do planeta, o empresário Eike Batista teve forte e positiva influência no audacioso programa de investimentos que o Governo de Roseana Sarney pretendeu viabilizar para o Maranhão no início no final da década passada, quando assumiu o comando com a deposição do governador Jackson Lago (PDT) em 2009. Muito próximo de Roseana por laços de família firmados com a sólida amizade de José Sarney com Eliezer Batista, que foi ministro do Planejamento do Governo Costa e Silva, mas se notabilizou mesmo como presidente da Vale do Rio Doce, que visitou muitas vezes o Maranhão quando já planejava a Estrada de Ferro Carajás, que viria a ser concretizada exatamente quando Sarney foi presidente da República. Antes da construção da estrada, a então Vale do Rio Doce, às vezes em parceria com a Petrobras, fez um minucioso levantamento das áreas que poderiam abrigar petróleo e gás. Três décadas depois, quando Eike montou o Grupo X, ele sabia exatamente onde poderia, tanto que acertou em cheio quando prospectou em Santo Antonio dos Lopes, onde instalou uma termelétrica, e Capinzal do Norte, por exemplo, onde localizou a gigantesca reserva de gás natural, equivalente a “uma Bolívia”. Em alguns momentos daquele período, Eike passou a ser a referência mais importante do Governo Roseana para atrair investidores, e o dono do então promissor Grupo X participou de vários eventos organizados pelo Governo do Estado para atrair investidores para o Maranhão. Nas suas palestras, o megaempresário destacava o potencial do Maranhão – assinalando o complexo portuário, sua proximidade com os grandes mercados do planeta e as vantagens fiscais que o Governo estadual oferecia e incentivava os empresários a investir no estado. E assim é que, mesmo os críticos dizendo que houve muito blefe, até os seus críticos mais severos reconhecem que naquele momento Eike Batista prestou um bom serviço ao Maranhão.
São Luís, 26 de Janeiro de 2017.